domingo, 4 de abril de 2010

Educação muito mais que especial

Por: Camila Galvez (camila@abcdmaior.com.br)


Lucas na atual escola: mesmo sem se comunicar, adaptado e feliz. Foto: Amanda Perobelli


A luta de uma mãe para obter bolsa de estudos para o filho autista na escola onde ele já está adaptado

A porta branca decorada com mãozinhas coloridas feitas a guache se abre. Lucas Marchesini Milena caminha hesitante, o olhar sem fixar ponto específico. Veste bermuda azul-marinho e camiseta branca do uniforme da escola. Nos pés, em vez de tênis, o jovem de 14 anos usa um sapato tipo crocs de plástico azul. Apesar de não olhar diretamente para mim, Lucas vem em minha direção e senta-se na cadeira de plástico ao lado. Todos na sala começam a rir, e eu acompanho.

- Mas esse Lucas é um danadinho mesmo, ele gostou de você!

Alba Regina Marchesini Milena é mãe de Lucas e está sentada ao meu lado também. Olho para o garoto e logo sai o cumprimento:

- Oi!

Ele, porém, não responde. Sequer direciona o olhar para mim. O comportamento não é falta de educação: Lucas é autista e não fala. Estuda no Núcleo CrerSer, em São Bernardo, especializado em atender crianças, jovens e adultos com déficits intelectuais dos mais variados, entre eles o autismo. Alba e o marido, Eduardo Martiliano Milena, pagam mensalmente R$ 740 pela educação do filho. Apenas Eduardo trabalha, prestando serviços de consultoria.

- Minha profissão é ser mãe do Lucas.

Questões financeiras - Alba e Eduardo estão “apertados” financeiramente, pois o filho também depende de outros tratamentos de saúde, além da educação especializada. O autismo é uma síndrome caracterizada por desvios de comunicação, atenção e imaginação. É mais frequente em meninos do que em meninas, e os primeiros indícios ocorrem antes dos três anos de idade. Os autistas têm dificuldades de interagir com as pessoas, possuem comportamentos estereotipados, obsessão por partes de objetos, inflexibilidade em quebrar rotinas, problemas na dicção, ausência ou pouca expressão facial e podem ser agressivos. (Fonte: http://www.brasilescola.com)

No Estado de São Paulo, há determinação da Justiça, datada dos anos 2000, de que o poder público deve garantir bolsa de estudos e tratamento para autistas. A Secretaria de Estado da Educação tem credenciadas mais de 30 entidades educacionais especializadas, nas quais atende cerca de 350 pessoas com autismo em grau mais elevado. Em São Bernardo há quatro delas.

Alba ficou sabendo da sentença que favorece o filho na escola em que ele estuda. No entanto, tenta há quase um ano garantir o que é seu por direito. É o que ela me conta antes de Lucas vir para a sala em que estamos, a fim de posar para a sessão de fotos que ilustrará a matéria.

- Quando entrei com o pedido na Secretaria de Educação, a resposta veio em torno de 20 dias, já encaminhando o Lucas para uma escola que não tínhamos escolhido. O Estado manda todos os estudantes do ABCD para essa escola.

Alba refere-se à GAPI (Escola de Educação Especial de Ensino Infantil e Fundamental), localizada em São Bernardo.

Questões de adaptação - Mas por que a mãe não quer que Lucas vá para a GAPI? É fácil imaginar: o jovem estuda há mais de um ano na mesma escola. E autistas têm problemas de adaptação. Lucas apresentou alterações recentes quando mudou de casa com a família, e chegou a ter convulsões.

- No começo deste ano letivo, ele também teve dificuldades para se adaptar aos novos professores. Ele ficava agitado, não queria vir para a aula. Mas as professoras daqui têm especialização na área e sabem lidar com esses casos. Agora ele está mais tranquilo.

A questão da adaptação seria realmente um problema? Para tirar a prova, resolvi ligar para a GAPI e marcar uma visita. Quem me recebeu, com um sorriso e cheia de pulseiras, brincos e colares balançantes, foi a diretora clínica da instituição, Gilda Pena de Rezende. As escolas se parecem. Apesar da GAPI ser maior, em ambas há dois professores por sala de aula para cerca de oito alunos, e todos têm especialização na área.

Gilda faz questão de enfatizar seu currículo: é neuropsicóloga e já trabalhou no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Foi pioneira na educação especial em São Bernardo. Diz que o Estado a escolheu pela qualidade da instituição que gere. Pergunto, então, se acha que os autistas teriam dificuldades de adaptação ali. A resposta me surpreende:

- Sim, eles teriam, até porque é uma característica da síndrome. Pais já me procuraram dizendo que adoraram a minha escola, mas que não querem tirar seus filhos, já adaptados, do local onde estudam. Eu digo que tenho certeza de que eles se adaptariam aqui também, mas claro que isso leva tempo.
Alba, profissão mãe do Lucas, não está disposta a isso.

- Quero manter meu filho aqui. Imagina a dificuldade para mudar o Lucas de escola? Vou entrar na Justiça para garantir o direito dele de estudar no lugar que escolhi.

Alba me lembra uma leoa, capaz de fazer tudo por sua cria. Pode parecer clichê, mas é essa a imagem que me vem à mente. Por estar disposta a tudo, é possível que a mãe consiga garantir um direito previsto em determinação judicial, mas não sem muita luta.

A última questão - Lucas assobia. Pega a tinta guache amarela e colore uma borboleta com a ajuda de uma professora. Estala a língua. Mesmo sem se comunicar, está feliz. Para que, então, tirá-lo dali?

Um comentário:

  1. Conheco as duas escolas,e nem de longe a Gapi se parece com a CRerser,A gapi nao tem profissionais especializados,nao tem dois profissionais por sala,e nao tem apenas 8 criancas por sala,essa e a montagem que essa dona cheia de pulseiras faz qdo chega alguma visita,minha filha estudou la e saiu por maus tratos,Hoje ela estuda na Crerser ,onde o Lucas estuda,e esta muito feliz e progrediu bastante,em uma semana largou as fraldas,coisa que nao fez na gapi em quatro anos.

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