sábado, 28 de dezembro de 2013

Animais e autismo

25/12/2013 12h03 - Atualizado em 25/12/2013 12h18

Criador de cães se sensibilizou com história da criança e doou o animal.
Otávio tem cinco anos e já fez tratamento usando animal de estimação.

Anna Lúcia SilvaDo G1 Centro-Oeste de Minas

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Cachorro foi doado a garoto com autismo em Divinópolis (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)Cachorro foi doado para menino que é autismo
(Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Ganhar um animal de estimação no Natal pode ser o desejo de muitas crianças, mas para Otávio Augusto dos Santos, de cinco anos, um cão representa mais do que diversão, significa cuidado com a saúde. O menino de Divinópolis é autista e por quatro meses participou de uma nova técnica de terapia que utiliza cães. Segundo a mãe dele, Michele dos Santos, o resultado é de impressionar. Foi na Terapia Assistida por Animais (TAA), que a mãe de Otávio descobriu uma nova chance de recuperação para o filho. A história foi contada no G1 e um criador de cães se sensibilizou e doou um labrador ao garoto neste Natal. Otávio se assustou com a entrega do animal, que ocorreu nesta segunda-feira (23), mas segundo a psicóloga Daiane Gomes, a reação é comum. "Isso é normal, é uma fase de adaptação. Logo eles serão amigos", afirmou.
O cão que recebeu o nome de Tody é da mesma raça e cor da cadela Jade que pertence ao canil da Polícia Militar (PM) da cidade e que foi treinada, por cerca de dois anos, para ser co-terapeuta do projeto que incentiva a recuperação de crianças especiais da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
A mãe lembrou que após três sessões na terapia, Otávio parecia outro. E por isso, desde então, quis presentear o filho com um cão. E o presente segundo ela, veio em boa hora. "O Otávio já teve um cachorro, mas ele gostava tanto, que queria ficar acordado com ele e não aceitava que o cachorro dormisse do lado de fora da casa, tinha que dormir na cama. Agora, ele vai aprender a cuidar do Tody e isso vai ser muito bom, tenho certeza. Espero que Otávio se acostume logo com ele", contou.
Assim como ocorreu com Jade, o primeiro encontro com Tody também não foi receptivo. O menino precisará de um tempo para se socializar com o novo amigo, segundo a psicóloga. "Isso leva tempo, mas logo ele aceitará a presença do cachorro dentro de casa. E com certeza vai ser um motivo a mais de interação para o garoto, inclusive com outras pessoas", disse.
Otávio Augusto em casa em Divinópolis (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)Otávio Augusto em casa em Divinópolis
(Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
E não foi só Otávio que ficou feliz com o presente. O criador de cães Alessandro Adami disse que ficou muito satisfeito em saber que o cão poderá ajudar no tratamento da criança. "Com certeza ele irá experimentar uma amizade pura que só um cão é capaz de proporcionar", afirmou.
Terapia Assistida por Animais
O trabalho com a cães é simples, segundo a terapeuta ocupacional Glória Barros Silva. Durante a terapia, junto a um corpo clínico composto por quatro profissionais da saúde, o animal estimula novas maneiras de comportamento das crianças. A terapeuta disse que a parceria com Jade tem se tornado indispensável nos trabalhos de interação com as crianças.
Jade ajuda na recuparação de crianças especiais em Divinópolis (Foto: Anna Lúcia Silva/ G1)Jade ajuda na recuperação de crianças especiais
em Divinópolis (Foto: Anna Lúcia Silva/ G1)
"A Jade estimula as crianças a fazerem tudo que nós terapeutas precisamos que elas façam. São coisas simples, mas que às vezes os meninos têm dificuldade de executar, e com a Jade isso se tornou fácil. Por exemplo, durante as brincadeiras que a cadela participa eles demonstram mais interesse e completam a atividade pelo simples fato de termos a cadela presente", relatou.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

bem te vi bem.te.vi

BEM TE VI    BEM-TE-VI



Silvania Mendonça Almeida  Margarida
02 de novembro de 2002.



           


Bem.te.vi
Que me visita
todos os dias
com uma
cantiga  antiga,
na janela
da minha varanda.
Seu canto nada finge,
como vento em folha de árvore
que se mostra e balança,
nunca mente,
tendo a ousadia
de fantasiar paisagens.


Passam-se as tardes,
E outras e outras tardes-noites.
Não vejo você.
Porém, quando você distante,
escuto de longe
 seu mavioso canto
de outros muros e quintais.
E medito, paulatinamente,
o mundo só existe
dentro do seu canto.
Mas e o meu canto ainda desfeito?
      por que  ainda  não sou Bem.te.vi
Onde está meu canto?
Está na eleição das estrelas múltiplas?
     Em aprendizagens infinitas?
     Em autismo encontrado ao canto?


- Quem é você? De onde você vem,  Bem.te.vi?
Por quais caminhos voou?
Por que aqui pousou?
Quantos vezes pára na natureza divina?
       E você responde:
      - Bem te vi.
          Como sob o vento a árvore que o doa;
 O resto é mistério.


O que delimita a relação
das palavras e objetos?
O que delimita o silêncio?
Seria um eterno segredo?
Bem.te.vi, Bem.te.vi

Mas, realizada, noto:
 - Você não só existe
dentro de um  mundo
intricado e absoluto.
Não resistiria a tanta falta
de sobrevivência divina.
Do seu mundo de canto,
você desafia ventos antigos.
A sua aspiração é o sonho
de sempre entoar Bem te vi.
    
  Mas, ainda duvido em soneto
Preciso saber constelações
Preciso voar nas imensidões
Se não tenho asas,
Voarei em si.

 E indago:
Qual é a  sua primeira empreitada?
ao mirar  notas musicais?
Ou seriam as naturais?
revoadas de arapongas
a aliciar as asas?
Ou provocar
outras asas-de-telhas
que também espreitam a cantar.

Como os cantos evoluem?
Seriam como todos os vôos de gansos
Do norte ciferal?
Como seu canto evolui?
Bem.te.vi  ‘canarinho’
Que vai embora em badaladas,
Tocando sinos nas asas
Crescendo para o infinito,
Em todos os passarinhos.


Quando você vem
Bem te vi a toda hora
O canto não se esgota
 As palavras,
Canta com elas.
             - Bem.te.vi, Bem.
              - Bem.te.vi.



E na minha janela,
No meu quintal,
Na minha árvore,
No meu degrau,
Na minha varanda,
No meu passeio interior,
Bem te vi.


- Bem.te.vi
Que traz notícias de lá,
Do pai que já se foi.
E do irmão querido que foi atrás
Que traz notícias de cá
Da mãe vívida Teresinha
Em vivi
Enevi
André diz.
O Zé que diz, apesar
Dos pesares, ainda diz
As filhas santas
E os vê
Bem.te.vi

E responde:

“ Cada voz que canta o amor

Não diz tudo que quer dizer.
O homem sempre procura saber sua origem.”

 E Você,  Bem.te.vi,  -  de onde veio?
donde poetas freqüentemente cantaram?

          Em que sombra
          em que nuvem
          anda galopando o seu sonho?
          Para onde flui o rio
          do seu pranto?
         Quando seu canto é triste.

Lembre-se de que
Todo sinal é criado pelo homem.
Todo hino contém Bem te vi,
Que olhares não se percam nas tulipas
nas orquídeas, nas rosas e folhas
que mãos possam criar diversas flores
em contornos de desenhos,
pois  tais formas são perfeitas de beleza,
merecem Cantos de Heras,
com a permissão do Olimpo.



E que o mundo saciado de fadigas, descanse...
E que pessoas de  fragilidades tantas,
não se façam pequenas.
E quando diminutas e tenras
procurem no baixo, no calco da terra.
De olhos no céu, o seu canto.
Bem.te.vi, Bem.te.vi, Bem.te.vi
cerrar os pulsos para a luta vinda do alto 
e  que cintila  nos céus.


Bem.te.vi, bem.te.vi.
Partimos bordando a vida,
sem conhecer por inteiro o risco.
E permanece o seu canto.
E,
Continua longe mesmo assim
A sua verdade de evolução é
 vista por múltiplas facetas:
seu amor é assim,
som e imagem
bem vistos
na representação caricatural.

Através dos tempos
Persistem também seus caminhos
Pois quando levo minhas mãos,
você voa sem lhe alcançar.


Mas no outro dia, amanhecido dia,
Está sempre lá 
Bem.te.vi. Bem.te.vi.
Bem te vi.
E seus olhares-passarinho
Prescrito do longe e, às vezes,
  do nada.
Diz intensamente
como se falasse entrelinhas.
Trina o seu canto suave.
Silvania,  estarei sempre aqui.
               Chame sempre por mim.
por que Bem te vi, bem te vi
sempre em forma de amor.









quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Parabéns em 23 de outubro


silvânia mendonça almeida margarida

Hoje, você filho amado
completa mais um ano de vida plena e realizada, 
no seu mundo estranho, bem estranho,
mas por milagre divino você me deixa participar....
Somente eu!!!! Com seus beijos e abraços trejeitados!!!!
Nos momentos inoportunos e nos silêncios que falam!!!!
E eu só quero lhe dizer que 
mesmo antes de você nascer eu já lhe amava.
Como já dizia Agatha Christie:
“ o amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer
outra coisa no mundo. Ele não obedece à lei ou à piedade,
ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar no caminho”
E, nós dois somos assim,
Mãe e filho, sempre expostos, expostos para a aprendizagem,
Para a felicidade, mesmo que não convencional, mesmo que não comemorada !!!!
Nos gritos dos palcos e nos lustres dos vinhos
Somos assim, expostos, para aprender o que nunca irá fenecer em tão grande amor...
Enfim!!!!!
Teus braços sempre se abrem quando preciso um abraço.
Teu espírito sabe abranger-me quando preciso de um amigo.
Teus olhares compassivos se embrulham no autismo e você me dá uma lição!!!!
Tua seiva e tua ternura me dirigem a vida e me deram as asas que eu precisava para voar.
Por isto, filho!!
Eu me dou os parabéns por ter você!!!
O que mais preciso? ? ? ? ? ? ? ?

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Poema do reencontro

E se eu sorrio
Foi à lágrima 
Que me ensinou
Se eu canto
Foi o silencio
Que me ensinou.

E se  eu não desisti
Foi a sua luz
Que me conduziu
Não há escuridão
Que vença
Seu sorriso.

Eu não mudei tudo em mim
O tempo tirou coisas
E trouxe outras.
Mas não sou como outrora

A vida nos impõe
Uma mudança diária
A! Minha mocidade
Vai numa quimera
Que não posso mais revisitar.

 Mas está lá
No meu caderno espiritual
Não se importe comigo
Ame meu filho autista
Amá-lo é não magoa-lo
Com buscas vãs.

É entender seu jeito
É dar-lhe um mundo
Menos dolorido
Que tal?
Não é modificar o mundo
Por ele
Mas modificar-se a si mesmo
Para aceita-lo, para amá-lo!

Autora
Liê Ribeiro
06/08/2013
Mãe do Gabriel/autista.

Diagnóstico rápido é fundamental para a educação de crianças autistas

Diagnóstico rápido é fundamental para a educação de crianças autistas

Portal Terra Educação - 12 de Julho de 2012 - 08h32

As dificuldades para inserção na sociedade das crianças com autismo variam de acordo com o grau da doença. Na área da educação, esses desafios estão tanto no espectro da cognição e da absorção de novos conhecimentos quanto no da socialização e da interação com pares de desenvolvimento regular.
Há diferentes vertentes para o entendimento de um melhor desenvolvimento da criança com autismo, mas todas chegam a um consenso: quanto mais cedo for feito o diagnóstico e medidas começarem a ser tomadas para adequar os métodos de ensino às necessidades da criança, mais efetivo será o aprendizado. "Quanto mais precocemente você intervir, menos evidentes ficam as características. O autismo não tem cura, mas há como minimizar", explica Carmen Trunci de Marco, diretora do Colégio Paulicéia, de São Paulo, uma escola de ensino regular que tem projetos para inclusão de alunos com diferenças cognitivas, incluindo autismo.
No Departamento de Psicologia da PUC-RJ, pesquisadores desenvolvem um projeto, em parceria com a secretaria municipal de educação do Rio de Janeiro, a fim de treinar educadores a reconhecer os primeiros sinais de autismo para que possam alertar os pais e encaminhá-los a profissionais especializados. Uma segunda etapa do projeto seria capacitar as educadoras para lidar corretamente com essas crianças em sala de aula.
Escolas cujo método de ensino passa por integrar estudantes com autismo em salas de aula regulares têm diversas maneiras de garantir que não haja atraso no aprendizado de nenhuma das partes e, ao mesmo tempo, estabelecer um ambiente favorável para todos os alunos. Do universo de 610 matriculados no Colégio Paulicéia hoje, 140 têm algum tipo de dificuldade no aprendizado, sendo a metade de autistas.
Carmen explica que há uma triagem assim que a criança entra na escola e ela é encaminhada para atendimentos personalizados ou integração assistida a turmas regulares, dependendo do caso. Fabiana Pigmataro, coordenadora do setor que trabalha com a inclusão de crianças autistas na escola, conta que a convivência ajuda no desenvolvimento dos pequenos. "Dou o modelo de brincadeira para a criança autista e trago o aluno de aprendizado regular para brincar. Os próprios colegas já levam a criança autista para brincar. Isso acontece naturalmente", explica Fabiana.
Há grandes vantagens nessa convivência. Robson Faggiani, consultor em terapia ABA - método muito usado para ensinar crianças com essa condição -, defende que é fundamental que essas crianças frequentem uma escola regular, direito garantido por lei. Ele ressalta, contudo, a necessidade de haver um acompanhamento profissional e a adaptação dos conteúdos e da didática utilizados em sala de aula. "O ideal é que as tarefas passadas pela escola sejam adaptadas para aquela criança", explica.
Esses acompanhantes são geralmente estudantes de psicologia ou pedagogia que fazem a mediação entre o autista e aquele mundo de novos aprendizados e novas relações sociais à sua volta. Apesar de trabalhar mais com escolas particulares, Robson conta que os relatos mais frequentes de profissionais que acompanham crianças é de que a rede pública, de modo geral, está melhor preparada para atender às necessidades dessas crianças do que a privada, mas há exceções em ambos os lados.
Outro caminho possível é encontrar uma instituição especializada em cuidar de crianças com necessidades especiais e fazer trabalhos diferenciados. Simone Schrener, psicóloga do Instituto de Desenvolvimento e Estimulação da Aprendizagem (Idea), entidade dessa modalidade em Porto Alegre (RS), conta que lá as crianças são avaliadas por uma equipe multidisciplinar que as encaminha para trabalhos individuais na instituição, em grupos, e fornece acompanhamento nas escolas regulares. Mesmo no caso de espaços dedicados como esse, a regra de começar o tratamento cedo também vale: "quanto mais cedo começar a estimulação, melhor", diz Simone.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Nilton Salvador, um escritor com vida de autista e junções de puro amor...



silvânia mendonça almeida margarida


Conheci Nilton há 15 anos. Eu e meu filho André Luís Rian. Nós compartilhávamos na Esauluz mensagens de otimismo e carinho. Até hoje a Esauluz é uma comunidade que vislumbra o mais alto astral da espiritualidade em favor do autismo, principalmente pela irmandade do Cristiano e outros amigos.  Numa primeira instância, eu, a recém-mãe do autismo, medrosa e acanhada, pelo o que estava por vir, leu a corajosa história de Germano (Eros Daniel) e a saga do desconhecido, no livro Vida de Autista. Um presente da minha querida amiga Arlete. O autismo é assim, ele tem este dom. O que o autismo tira dos nossos filhos, ele também oferece em outra face. A outra face do autismo transborda. Transborda em experiências quando encontramos pessoas como Salvador. O nome do escritor  até combina. Salvador me apresentou Hermínio de Miranda e sua filosofia de vida espiritual. Comprei em Petrópolis o seu livro sobre os autistas, nossos anjos espirituais. Na sua saga do desconhecido Nilton me ensinou muitas coisas. Escritores e poetas registram impressões para abrigar os nossos destinos e o autismo traz amizades verdadeiras, embora geograficamente distantes, mas que se unem na mesma dor, e, por que não dizer, vigor.
Para Nilton Salvador, a chama incandescente das suas palavras, dos seus ensinamentos, das suas expressões, chama pais e mães ligados ao autismo para uma trilha maior do conhecimento, do estudo, da experiência. Afinal de contas, nossos filhos “cresceram” e junto, lá, para nos apoiar irrestritamente, estava Nilton Salvador.

Por isto, o seu último livro  é  seu  marco de oferecimento, de singeleza, de uma gama de informações palpável da realidade do nosso dia a dia. Quem lê “Vida de Autista... E eles cresceram” sabe precisamente a que me refiro. O livro está dividido em depoimentos, textos terapêuticos e, inclusive, a tão sonhada lei do autismo, tendo como um dos precursores o próprio escritor. A linguagem desse singelo escritor   tem  a função inata que permite ao ser humano a simbolização do seu pensamento e a decodificação desse e do outro, facilitando a percepção da realidade do autismo, da troca de experiências e conhecimentos.

 Vem com a escrita do recente livro depoimentos singelos de mães que já estão acuradas no processo de socialização do autismo. À medida que Nilton estimula o ambiente do autismo, ele adequa as narrativas e transforma as pequenas histórias em associações diferentes entre as áreas sensitivas, perceptivas e motoras do conhecimento do autismo. Além disso, o leitor sente que se unindo a outros fica mais forte e tem possibilidades maiores de sobrevivência e aprendizagem. Existem muitas pessoas que estão começando agora a lidar com o autismo e merecem ler este livro. Espero sinceramente que o façam.


 Neste longo trajeto, Nilton Salvador começa a criar ferramentas que prolongam e melhoram suas possibilidades de atuação no citado livro e nos outros que, com certeza, virão. As funções bio-psico-social-culturais e espirituais (termo do próprio escritor) do autismo começam a se desenvolver mais ainda e se notam que “ferramentas de amor” surgem com a linguagem límpida, cristalina, meiga que passa durante o tempo de escrita. E, como explica na Estética da Recepção da Leitura: o leitor cresce com a sua própria leitura e traduz tudo o que ihe indica ser necessário para entender que o autismo é uma linda experiência de aprendizagem.

Nunca vi o escritor pessoalmente, nem a sua amada família, principalmente D. Roseli, mas ele está nas nossas vidas, nos nossos blogs e na nossa página do Facebook. Por tudo  e muito mais, as almas dos nossos filhos autistas se encontram e completam. Sabemos disto!





quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Amigo sempre é amigo



Conheci há muito tempo, por causa do autismo, somente por causa do autismo, grande amigo que se afastou de mim. Como é um amigo virtual, fico a pensar o deve ter acontecido. A ausência dele é tão grande que chega a doer o meu coração que não é virtual. Quando estava dando os primeiros passos do autismo, triste e abandonada (eu me sentia assim na época e foi ele responsável por ser feliz como sou) nos meus melindres: "não vou dar conta", "esta tarefa é muito para a minha cabeça" e todas a indagações de uma mãe aflita e sempre recebia e-mails de consolo e incentivo.
Foi ele que me fez soerguer, foi ele que me fez abraçar a causa do Orgulho Autista, foi ele que me ensinou o lado espiritual do autismo. Foi ele que compreendeu quando eu dizia que o meu filho não È autista, ESTÁ AUTISTA.
E ele foi embora, foi embora e está presente, mas longe da minha tarefa com o autismo. Já não mais me passa uma mensagem, já não mais me descobre, já não mais me clama. Continuo, de longe, timidamente a aprender com ele, mas sem um contato direto e meigo. Continuo admirando o seu trabalho, mas a chance de trocar ideias sobre o autismo nunca mais aconteceu. Por mais inteligente que uma pessoa seja, ela deve ter a consciência da humildade e da benevolência. Refiro-me à minha pessoa. A inteligência não é a minha força, mas o esforço mental sim, de aprender sempre mais com ele. A humildade de escutá-lo continua intacta e a benevolência dele faria grande bem a este coração novamente aflito.
Perdi? Sim, perdi o melhor dos melhores dos amigos entendidos no autismo. Foi citado na minha tese de doutorado e na minha monografia de Direito. Ele pode até me abandonar, mas eu, eu nunca o abandonarei. Sempre estarei à espreita, para aprender mais e mais com ele, sem julgar seus motivos, sem ponderar o seu afastamento. As suas ideias me bastam. E se um dia ele quiser voltar, saiba ele que será do mesmo modo. Eu, a aprendiz, ele o grande mestre. Eu, a filha e ele o meu pai, representando o PAI ETERNO. Eu a irmã menor e ele o Irmão de Todos.
Saiba ele que estou a postos, que leio seus pensamentos de longe, continuo a filtrá-los e ele me faz tão bem. Faz bem para o André, faz bem para o pessoal lá de casa.
E, eu, novamente, só tenho a pedir perdão por algo que não sei se fiz. Mas, minha vida é assim, eterno perdão conquistado e mitigado, no esforço de ser uma pessoa melhor, levando para onde vou, futuramente, as esperanças do meu grande e fiel amigo voltar. Saiba ele que sempre espero por ele. Sempre oro por ele. O seu sucesso é o meu sucesso. A sua trilha é a minha trilha. A sua linda família é a minha família. Amigos são responsáveis uns pelos outros. A minha responsabilidade continua intacta, mas já não me atrevo mais a lhe escrever. Beijos, amigo querido, esteja você em que canal estiver. Estarei sempre aqui. E torno a lhe oferecer o meu carinho e a minha amizade eterna, solidária e carente de VOCÊ.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Autismo e o cuidar

Texto de autoria de Camila Gadelha, psicóloga formada pela UFAM – atualmente, fazendo especialização em Psicologia Clínica no Instituto de Psicologia Fenomenológica Existencial do Rio de Janeiro, tendo o autismo como objeto de estudo.
O Transtorno de Espectro Autista afeta consideravelmente as relações sociais de quem é autista, e com as relações afetadas, modificações ocorrem na vida de todos os membros da família da pessoa que tem autismo, principalmente daquele que assume o papel de cuidador, podendo ser os pais, ou podendo ser outra pessoa que assuma essa responsabilidade.
No autismo, existe um marcado e permanente prejuízo na interação social, alterações da comunicação e padrões limitados ou estereotipados de comportamentos e interesses. (KLIN, 2006) Por conta desses prejuízos, o autismo compromete permanentemente a maioria dos indivíduos afetados por esta condição, o que os torna dependente em diversas áreas da vida, requerendo assim, um apoio familiar muito grande.
Howlin (2005) informa que vários estudos sobre o curso que o transtorno de espectro autista pode ter, sugerem que aproximadamente dois terços das crianças autistas tem um desfecho pobre (incapazes de viver independente) e que talvez somente um terço é capaz de atingir algum grau de independência pessoal e de auto-suficiência como adultos.
O autismo corresponde a um quadro de extrema complexidade que exige que abordagens multidisciplinares sejam efetivadas visando-se não somente a questão educacional da socialização, mas principalmente a questão médica e tentativa de estabelecer etiologias e quadros clínicos bem definidos, passiveis de prognósticos precisos e abordagens terapêuticas eficazes (ASSUMPÇÃO & PIMENTEL, 2000)
Entre os anos de 2011 e 2012 fiz uma pesquisa cujo tema era essa relação do cuidar dos pais de crianças e adolescentes autistas com seus filhos. Foram feitas entrevistas com 10 pais. Ao se analisar os discursos, foi possível agrupar as respostas em quatro grupos principais: O momento do diagnóstico: a facticidade vem ao encontro; Estratégias de Enfrentamento; Modificações pessoais e familiares; E o futuro, como será?
Dentro desses grupos, foram observados subgrupos de respostas, como por exemplo: A busca do diagnóstico do filho e suas dificuldades; A busca de tratamento para o filho; Aceitação das limitações do filho; Mudança na rotina; Interdependência; Preparando o filho para o futuro; Incerteza em relação ao futuro do filho.
Analisando os resultados, pude constatar que o cuidado se torna uma responsabilidade pela vida do filho. Além de ser uma forma de enfrentar todas as limitações que o Transtorno de Espectro Autista implica.  Por ser uma responsabilidade tomada para si, o cuidado por representar um aprisionamento também, justamente por ser uma preocupação constante sobre o mundo que cerca o filho com autismo.
Os pais mostraram nas entrevistas que se veem sem alternativa a não ser a de tomar responsabilidade da vida do filho para si, e como consequência disso, o cuidar deixa de ser uma “obrigação” de pai e mãe e passa a ser o sentindo que suas vidas têm após o recebimento do diagnóstico de seu filho.
E esse ser pai- de-autista, ser mãe- de- autista, propicia que esses pais abram mão de si mesmos, muitas vezes, em razão do bem-estar e tratamento do filho. O filho se torna a prioridade da vida desse pai e dessa mãe, e isso faz com que a dinâmica familiar se modifique por completo.
Independente da forma que o cuidado é vivenciado, ele se caracteriza como solicitude. Que é essa “missão” de atender o outro, ser solícito para com o outro, cuidar desse outro que é o filho com autismo. Cuidar de um filho com autismo se mostrou um mergulho em uma intensa e incessante luta que nunca vai acabar para esses pais.
Nas entrevistas foi possível observar que esse apoio familiar é essencial no enfrentamento das dificuldades que o autismo engloba. É por isso que a família é peça fundamental, por ser esse apoio que a pessoa que tem autismo precisa para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia.
Referências:
ASSUMPÇÃO, Francisco B.; PIMENTEL, Ana Cristina M. Autismo infantil. Ver. Brás. Psiquiar, 2000. Disponível em:< www.scielo.br/pdf/rbp/v22s2/3795.pdf>. Acesso em: 1/07/2013.
HOWLLIN, P. Outcomes in autism spectrum disorders. In: VOLKMAR, F, PAUL, R, KLIN, A, CONHEN, D. Editors. Handbook of autism and pervasive developmental disorders. 3rd ed. New York: Wiley, 2005
KLIN, A. Autismo e Síndrome de asperger: uma visão geral. 2006



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