quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A INTENSIDADE PROFISSIONAL E ESPIRITUAL DO TRATAMENTO DO MEU FILHO




silvania mendonça almeida margarida




Aqui em casa o amor que temos pelo autismo, nossa prova de cada dia, ultrapassa os limites do nosso próprio entendimento. Procuramos sempre com a mais intensidade o mundo desconhecido do autista, não nos limitarmos em médicos, remédios e terapias. O tempo foi nosso aliado. Fomos além. Além dos espaços geográficos terrenos. Procuramos transcender a aceitação e o processo de cura, buscamos em todos os lugares que nos foi permitido ir.


Igualmente, temos também nossas filhas para coroar. Meus elos de entendimento e amor transcenderam até ao que me é permitido entender e do meu pensamento espiritual, consignado por Deus e seus mentores, mensagens vieram as mais variadas. Conversamos com pessoas abalizadas como o Dr. Walter Camargos (o psiquiatra do André), o amigo e escritor Nilton Salvador, que sempre nos apoiou na caminhada de amor (uma preciosa amizade), a psicopedagoga Elizabeth Andés, entre outros profissionais e amigos que o escoltaram a evolução excepcional do André Luís. Atualmente, André freqüenta duas escolas e nomes como, Delma, Maria José, Cacá, Eliane, Andréia, e outras pessoas queridas devem ser sempre lembradas.


Há um acerto em todo o pessoal que conviveu e convive com o meu filho, todos estes anos, com variada intensidade e compreensão que aqui fica limitado escrever. Mas é preciso que o mundo saiba. Novas mães e pais podem ler nossa experiência e deve ser relatada aqui neste espaço virtual.

Por fim, sempre me preocupo com a efemeridade e acho que a nossa passagem no planeta deve ser bem vista, mais evoluída das "deficiências humanas” num acerto todo pessoal (Silvânia e André Luís). Não seria possível um acordo se não existissem agentes e amigos e com eles os resultados pessoais. Pude observar que muitas pessoas, inclusive eu, ocasionalmente, queremos saber mais do que os médicos. Isto é difícil de controlar. Aprendi no cerne do problema, que o problema é uma intensa aprendizagem. Paguei o aprendizado a preço caro. Penitencio-me até hoje. Mas minha abordagem hoje é voltada totalmente para a compreensão e para o amor. O amor que sinto pelo meu filho, pelo autismo e sua convivência diária.
Compreendo hoje que não fosse a intensidade do zelo da minha família e dos profissionais da educação que convivem com o André e a nossa aceitação não teríamos vencido o autismo, ou melhor, ACEITADO O AUTISMO. Ele se tornou nosso feijão com arroz.


Mas os relatos de aprendizagem são os mais variados. Ao falarmos de emoções temos que nos dinamizar. Uma emoção resulta de um sentimento ou de uma forma de sentir uma experiência. A experiência de afetos positivos do autismo gera sentimentos de segurança e de prazer e, conseqüentemente, os neurotransmissores adequados para manter um estado psicológico isento de tensões e reforço das comunicações .Insta saber tudo isto acontece, quando há aceitação e não existe revolta. Fatores importantes para o qualquer filho autista. A experiência de afetos negativos, sentimentos de desprazer que o autismo proporciona em um estado de tensão, pode levar ao estresse, com aumento de desamparo do autista. As crianças autistas que apresentam níveis mais elevados têm maior incidência de atrasos de desenvolvimento cognitivos, motores e sociais.

Assim o zelo velado se fez presente. O autismo do André é severo e exige muita resignação e dedicação. André, apesar de suas limitações, constitui-se em uma doce presença, com reais atitudes de uma criança feliz.
A sua presença é doce e desejada, nunca como um peso para a família que o aceitou como dádiva de extrema significação, mais do que justo, um privilégio. Por ele somos felizes.

Até então, contribuiu com o aprendizado de todos nós, pois com a intenção de aproximá-lo ao nosso coração, ao nosso convívio, cada vez mais intenso, partimos para um trabalho de pesquisa que busca explicação a respeito de seus sintomas autísticos. Trata-se de um estudo consciente que traz esperanças e, ao mesmo tempo, aumenta o nosso amor pela causa. Apesar da plena aceitação do problema do meu filho, ninguém se acomoda, não foge à luta de uma proposta de recuperação do nosso querido filho. Será sempre a página do registro da vida e do amor por ele.


Afinal, os autistas têm dificuldades de comunicação, mas não UM MUNDO próprio. Para eles comunicar é algo difícil, e, como poucas pessoas compreendem esta situação, conflitos são gerados. Ensiná-los a se comunicar pode ser difícil, mas pode ajudar o autista a acabar com seus conflitos. Assim como pessoas normais, os autistas têm variações de inteligência se comparados um ao outro. É muito comum apresentarem níveis de atraso, que podem ser superados com o passar dos anos.

O autismo não dá trégua, mas traz a esperança de acendermos, sermos melhores neste mundo de desigualdades. Por mais que se lute, não se pode esperar que ele mude. Ele continua lá da mesma forma, implacável e temos que aprender. Mas o retorno em termos de aprendizagem não é muito pequeno. Pelo contrário, ensina-nos nas experiências de professor.

É preciso muita persistência para tentar mudar a situação e, na maioria das vezes, as evoluções são quase imperceptíveis. É uma batalha desigual, mas que eleva o espírito de uma família. É como dizer sempre, o que não tem remédio, remediado está. E o resultado, qual será

Para entrar no mundo dos autistas é preciso saber amar sem esperar troca. O amor verdadeiro é a maior lição que eles podem nos dar ao longo da vida e do zelo. Só o amor se frutifica na intensidade exigida pelo silêncio que o autista impõe.

O seu discurso sem fala vale por todos os códigos de uma linguagem universal... não é fragmentado como as palavras que profiro, nem se perde na carga semântica dos termos incompletos da minha acanhada emoção. O meu filho é o professor que me ensina a essência de todas as coisas, na magistral enciclopédia da vida. A sua canção me faz vibrar... são acordes de ternura que leio no palpitar de seu sussurro, no ressonar de seu sono irregular e na vigília dos seus dias. As suas poesias de silêncio possuem asas e cores... são páginas do meu álbum, originais como são, valem pelo prazer do mistério e da beleza... Agradeço o privilégio de chamá-lo de filho.

Chega-se ao ápice da melhora. O meu filho vestiu terno e gostou. Quer a convivência social de sentar-se numa mesa com amigos, ir a um baile de formatura, ser visto e dançar. Falaremos desta experiência depois. Imagino... Quantos gostariam de possuir a riqueza que me foi doada, por acréscimo...

domingo, 26 de setembro de 2010

BRINCADEIRA DO FIM DO DIA




silvânia mendonça almeida margarida


Mamãe,

Escalei a montanha dos meus sonhos,
apanhei o ensejo da brisa,
envolvi os velos das cascatas,
deitei-me no tálamo do rio
e determinei que toda a água
fosse para a garganta do mar.


Ofereci amizade mais perto das noites
do meu mundo e do meu tempo
e poupei o estrato das claridades
nos pulsos das minhas tardes
Consegui rodopiar a esfera do céu
e me fazer platéia desta contemplação.



Já amarfanhei a continuação da minha vida
nas noites e nos dias vinte e três de outubro
já espichei as penugens da lua e as rusgas do sol,
nos dias de verão.


Agasalhado de sete matizes,
já brinquei nas escadas do arco-íris
já parodiei o autismo e o silêncio.
Bamboleei o cerne da abóboda celeste,
bebi o ar que respirei profundamente
e que correu nas veias do meu coração
como linfa cicatrizante...



Agora quero um papel sem fim...
para escrever poemas e cantos
o acorde da harmonia original,
que fiz para a brincadeira do fim do dia...


Mamãe!Sempre você mamãe!
Correrei com você
novos caminhos
Brincarei com você
em novo espelho sideral
Depende de você
do seu amor e afeição...

sábado, 25 de setembro de 2010

FILHO AUTISTA APRENDIZ



silvania mendonça almeida margarida


Mamãe, vou cantando pela vida
À espera do resgate da emoção
Bebo pétalas de rosas
das pálpebras aprendizes
e de provas infinitas
Faço o que os deuses
Mandam meu coração...



Mamãe!
Como autista aprendiz
Sou poeta do mundo que reflete
Um abismo mais profundo
A amplitude do cosmo
E da nossa orbe estelar
Mas festejo o amor
Pois em resgate
Vai chegando a hora de me libertar


Nada me desarma
Meus olhos são cálices da alma
O espírito e o poema estão a esperar,
E tecem as fantasias,
mas como em toda espera,
levantam templos à virtude



Não uso regras
Tampouco teorias
Escrevo o que você me dita
Posso voar como pássaro
Nadar como golfinho
Ou brincar de ser criança
Sou filho autista aprendiz



Mamãe, quando você chora
Ao mar de lágrimas de que fala a poesia,
Cuja nascente está na sua alma de quem sofre,
Vejo seus gritos abafados pelas ondas...

Sou como o espelho sincero
Tenho objetivos sinceros
E alma de menino valente
É só esperar o amanhã

Mamãe!
Tenho alma autista aprendiz
Tenho a luta indispensável
Tenho a esfera dos anos vividos
Nunca camuflei os sentimentos
Nunca perdi a razão

E espero, tudo passa,
tudo passa e nos mostra
a nossa felicidade!
Vou cantando pela vida
À espera do resgate da emoção
Bebo pétalas de rosas
das pálpebras aprendizes
e de provas infinitas
Faço o que os deuses dizem
e mandam meu coração...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

TJMS mantém decisão que condenou avós a pagar pensão

TJMS mantém decisão que condenou avós a pagar pensão



Em sessão realizada nesta terça-feira (21), por unanimidade, com o parecer da Procuradoria-Geral de Justiça e nos termos do voto do relator, os desembargadores da 3ª Turma Cível negaram provimento ao recurso de avós paternos que queriam se eximir de pagar pensão complementar às netas.

As menores A.H e M.H. ingressaram com ação de complementação de alimentos, em face de seus avós, o casal D.H. e K.T.H.

Em 1º grau os pedidos da ação das menores e os da ação do pai de ambas foram julgados parcialmente procedentes: na primeira para determinar que os avós paternos arquem com 2,63 salários mínimos de pensão alimentícia complementar, e na outra, a redução do valor a ser pago pelo pai das menores, para 37% do valor de um salário mínimo. Os avós interpuseram recurso de apelação para reformar a sentença , sob a alegação de que possuem diversos gastos dentre eles com medicamentos em razão da idade avançada e, sobretudo, com um neto que sofre de autismo. Argumentam que os imóveis de sua propriedade não geram renda, por estarem sob regime de comodato para os filhos.

O relator do processo, Des. Oswaldo Rodrigues de Melo, ressaltou que a questão posta em discussão cinge-se em saber se restou evidenciada a responsabilidade dos recorrentes, avós paternos das menores, em lhes pagar alimentos e se é devida a redução do valor fixado. O magistrado destacou que o artigo 227 da Constituição Federal assegura “à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”, sendo que a proteção de tais garantias constitui um dever da família, da sociedade e do Estado.

Conforme o relator, o dever de sustento é atribuído aos pais, mas, sempre que estes estiverem incapacitados economicamente, ou, por qualquer outro motivo, não puderem adimplir com sua obrigação, esta é transmitida aos avós e, na sequência, aos bisavós. “Demonstrada a incapacidade financeira do genitor em arcar com a integralidade da pensão e possuindo os avós condições financeiras de contribuir para o desenvolvimento do menor, estes devem ser obrigados ao pagamento de alimentos mensais”.

O magistrado, ao finalizar, informou que para definir o valor dos alimentos, deve ser levado em consideração o princípio que norteia a obrigação alimentar, qual seja, o princípio da proporcionalidade, a fim de que os alimentos sejam suficientes para atender às necessidades vitais do alimentando e à possibilidade do alimentante em arcar com a despesa. “Analisando a documentação encartada nos autos, constata-se a possibilidade de prestar alimentos dos recorrentes, consubstanciada pela boa condição econômico-financeira que desfrutam, visto que são proprietários de extenso patrimônio constituído de inúmeros imóveis urbanos e rurais.”

Dessa forma, a 3ª Turma Cível manteve a decisão de 1º grau. Apelação Cível nº 2010.022675-3 (Fonte: TJ MS)



Fonte: Redação Capital News (www.capitalnews.com.br)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

MENINO DA TERRA



Silvânia mendonça almeida margarida


Menino da terra
procura
o planeta azulado


Onde a morte não é provocada
Ela acontece naturalmente
No plano físico
E busca o além-fronteira-vida


Acontece
Num lugar onde a natureza
Vive sempre em festa
E o menino nunca contesta


Um lugar sobre a terra
Um lugar onde a terra
se torne sua cama eterna

DEZ COISAS QUE TODA CRIANÇA COM AUTISMO GOSTARIA QUE VOCÊ SOUBESSE.

DEZ COISAS QUE TODA CRIANÇA COM AUTISMO GOSTARIA QUE VOCÊ SOUBESSE.
POR ELLEN NOTTOHM (TRADUÇÃO LIVRE - ANDRÉA SIMON)




1) ANTES DE TUDO EU SOU UMA CRIANÇA. EU TENHO AUTISMO. EU NÃO SOU SOMENTE "AUTISTA". O MEU AUTISMO É SÓ UM ASPECTO DO MEU CARÁTER. NÃO ME DEFINE COMO PESSOA. VOCÊ É UMA PESSOA COM PENSAMENTOS, SENTIMENTOS E TALENTOS. OU VOCÊ É SOMENTE GORDO, MAGRO, ALTO, BAIXO, MÍOPE. TALVEZ ESTAS SEJAM ALGUMAS COISAS QUE EU PERCEBA QUANDO CONHECER VOCÊ, MAS ISSO NÃO É NECESSARIAMENTE O QUE VOCÊ É. SENDO UM ADULTO, VOCÊ TEM ALGUM CONTROLE DE COMO SE AUTO-DEFINE. SE QUER EXCLUIR UMA CARACTERÍSTICA, PODE SE EXPRESSAR DE MANEIRA DIFERENTE. SENDO CRIANÇA EU AINDA ESTOU DESCOBRINDO. NEM VOCÊ OU EU PODEMOS SABER DO QUE EU SOU CAPAZ. DEFINIR-ME SOMENTE POR UMA CARACTERÍSTICA, ACABA-SE CORRENDO O RISCO DE MANTER EXPECTATIVAS QUE SERÃO PEQUENAS PARA MIM. E SE EU SINTO QUE VOCÊ ACHA QUE NÃO POSSO FAZER ALGO, A MINHA RESPOSTA NATURALMENTE SERÁ: PARA QUE TENTAR?




2)A MINHA PERCEPÇÃO SENSORIAL É DESORDENADA. INTERAÇÃO SENSORIAL PODE SER O ASPECTO MAIS DIFÍCIL PARA SE COMPREENDER O AUTISMO. QUER DIZER QUE SENTIDOS ORDINÁRIOS COMO AUDIÇÃO, OLFATO, PALADAR, TOQUE, SENSAÇÕES QUE PASSAM DESAPERCEBIDAS NO SEU DIA A DIA PODEM SER DOLORIDAS PARA MIM. O AMBIENTE EM QUE EU VIVO PODE SER HOSTIL PARA MIM. EU POSSO PARECER DISTRAÍDO OU EM OUTRO PLANETA, MAS EU SÓ ESTOU TENTANDO ME DEFENDER. VOU EXPLICAR O PORQUÊ UMA SIMPLES IDA AO MERCADO PODE SER UM INFERNO PARA MIM: A MINHA AUDIÇÃO PODE SER MUITO SENSÍVEL. MUITAS PESSOAS PODEM ESTAR FALANDO AO MESMO TEMPO, MÚSICA, ANÚNCIOS, BARULHO DA CAIXA REGISTRADORA, CELULARES TOCANDO, CRIANÇAS CHORANDO, PESSOAS TOSSINDO, LUZES FLUORESCENTES. O MEU CÉREBRO NÃO PODE ASSIMILAR TODAS ESTAS INFORMAÇÕES, PROVOCANDO EM MIM UMA PERDA DE CONTROLE. O MEU OLFATO PODE SER MUITO SENSÍVEL. O PEIXE QUE ESTÁ À VENDA NA PEIXARIA NÃO ESTÁ FRESCO. A PESSOA QUE ESTÁ PERTO PODE NÃO TER TOMADO BANHO HOJE. O BEBÊ AO LADO PODE ESTAR COM UMA FRALDA SUJA. O CHÃO PODE TER SIDO LIMPO COM AMÔNIA. EU NÃO CONSIGO SEPARAR OS CHEIROS E COMEÇO A PASSAR MAL. PORQUE O MEU SENTIDO PRINCIPAL É O VISUAL. ENTÃO, A VISÃO PODE SER O PRIMEIRO SENTIDO A SER SUPER-ESTIMULADO. A LUZ FLUORESCENTE NÃO É SOMENTE MUITO BRILHANTE, ELA PISCA E PODE FAZER UM BARULHO. O QUARTO PARECE PULSAR E ISSO MACHUCA OS MEUS OLHOS. ESTA PULSAÇÃO DA LUZ COBRE TUDO E DISTORCE O QUE ESTOU VENDO. O ESPAÇO PARECE ESTAR SEMPRE MUDANDO. EU VEJO UM BRILHO NA JANELA, SÃO MUITAS COISAS PARA QUE EU CONSIGA ME CONCENTRAR. O VENTILADOR, AS PESSOAS ANDANDO DE UM LADO PARA O OUTRO... TUDO ISSO AFETA OS MEUS SENTIDOS E AGORA EU NÃO SEI ONDE O MEU CORPO ESTÁ NESTE ESPAÇO.




3) POR FAVOR, LEMBRE DE DISTINGUIR ENTRE NÃO PODER (EU NÃO QUERO FAZER) E EU NÃO POSSO (EU NÃO CONSIGO FAZER) RECEBER E EXPRESSAR A LINGUAGEM E VOCABULÁRIO PODE SER MUITO DIFÍCIL PARA MIM. NÃO É QUE EU NÃO ESCUTE AS FRASES. É QUE EU NÃO TE COMPREENDO. QUANDO VOCÊ ME CHAMA DO OUTRO LADO DO QUARTO, ISTO É O QUE EU ESCUTO "BBBFFFZZZZSWERSRTDSRDTYFDYT JOÃO". AO INVÉS DISSO, VENHA FALAR COMIGO DIRETAMENTE COM UM VOCABULÁRIO SIMPLES: "JOÃO, POR FAVOR, COLOQUE O SEU LIVRO NA ESTANTE. ESTÁ NA HORA DE ALMOÇAR". ISSO ME DIZ O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA E O QUE VAI ACONTECER DEPOIS. ASSIM É MAIS FÁCIL PARA COMPREENDER.


4) EU SOU UM "PENSADOR CONCRETO" (CONCRETE THINKER). O MEU PENSAMENTO É CONCRETO, NÃO CONSIGO FAZER ABSTRAÇÕES.EU INTERPRETO MUITO POUCO O SENTIDO OCULTO DAS PALAVRAS. É MUITO CONFUSO PARA MIM QUANDO VOCÊ DIZ "NÃO ENCHE O SACO", QUANDO O QUE VOCÊ QUER DIZER É "NÃO ME ABORREÇA". NÃO DIGA QUE "ISSO É MOLEZA, É MAMÃO COM AÇÚCAR" QUANDO NÃO HÁ NENHUM A MAMÃO COM AÇÚCAR POR PERTO E O QUE VOCÊ QUER DIZER É QUE ISSO E ALGO FÁCIL DE FAZER. GÍRIAS, PIADAS, DUPLAS INTENÇÕES, PARÁFRASES, INDIRETAS, SARCASMO EU NÃO COMPREENDO.




5)POR FAVOR, TENHA PACIÊNCIA COM O MEU VOCABULÁRIO LIMITADO. DIZER O QUE EU PRECISO É MUITO DIFÍCIL PARA MIM, QUANDO NÃO SEI AS PALAVRAS PARA DESCREVER O QUE SINTO. POSSO ESTAR COM FOME, FRUSTRADO, COM MEDO E CONFUSO, MAS AGORA ESTAS PALAVRAS ESTÃO ALÉM DA MINHA CAPACIDADE, DO QUE EU POSSA EXPRESSAR. POR ISSO, PRESTE ATENÇÃO NA LINGUAGEM DO MEU CORPO (RETRAÇÃO, AGITAÇÃO OU OUTROS SINAIS DE QUE ALGO ESTÁ ERRADO).POR UM OUTRO LADO, POSSO PARECER COMO UM PEQUENO PROFESSOR OU UM ARTISTA DE CINEMA DIZENDO PALAVRAS ACIMA DA MINHA CAPACIDADE NA MINHA IDADE. NA VERDADE, SÃO PALAVRAS QUE EU MEMORIZEI DO MUNDO AO MEU REDOR PARA COMPENSAR A MINHA DEFICIÊNCIA NA LINGUAGEM. POR QUE EU SEI EXATAMENTE O QUE É ESPERADO DE MIM COMO RESPOSTA QUANDO ALGUÉM FALA COMIGO. AS PALAVRAS DIFÍCEIS QUE DE VEZ EM QUANDO FALO PODEM VIR DE LIVROS, TV, OU ATÉ MESMO SEREM PALAVRAS DE OUTRAS PESSOAS. ISTO É CHAMADO DE ECOLALIA. NÃO PRECISO COMPREENDER O CONTEXTO DAS PALAVRAS QUE ESTOU USANDO. EU SÓ SEI QUE DEVO DIZER ALGUMA COISA.




6)EU SOU MUITO ORIENTADO VISUALMENTE PORQUE A LINGUAGEM É MUITO DIFÍCIL PARA MIM.POR FAVOR, ME MOSTRE COMO FAZER ALGUMA COISA AO INVÉS DE SIMPLESMENTE ME DIZER. E, POR FAVOR, ESTEJA PREPARADO PARA ME MOSTRAR MUITAS VEZES. REPETIÇÕES CONSISTENTES ME AJUDAM A APRENDER. UM ESQUEMA VISUAL ME AJUDA DURANTE O DIA-A-DIA. ALIVIA-ME DO STRESS DE TER QUE LEMBRAR O QUE VAI ACONTECER. AJUDA-ME A TER UMA TRANSIÇÃO MAIS FÁCIL ENTRE UMA ATIVIDADE E OUTRA. AJUDA-ME A CONTROLAR O TEMPO, AS MINHAS ATIVIDADES E ALCANÇAR AS SUAS EXPECTATIVAS. EU NÃO VOU PERDER A NECESSIDADE DE TER UM ESQUEMA VISUAL POR ESTAR CRESCENDO. MAS O MEU NÍVEL DE REPRESENTAÇÃO PODE MUDAR. ANTES QUE EU POSSA LER, PRECISO DE UM ESQUEMA VISUAL COM FOTOGRAFIAS OU DESENHOS SIMPLES. COM O MEU CRESCIMENTO, UMA COMBINAÇÃO DE PALAVRAS E FOTOS PODE AJUDAR MAIS TARDE A CONHECER AS PALAVRAS.




7)POR FAVOR, PRESTE ATENÇÃO E DIGA O QUE EU POSSO FAZER AO INVÉS DE SÓ DIZER O QUE EU NÃO POSSO FAZER. COMO QUALQUER OUTRO SER HUMANO NÃO POSSO APRENDER EM UM AMBIENTE ONDE SEMPRE ME SINTA INÚTIL, QUE HÁ ALGO ERRADO COMIGO E QUE PRECISO DE "CONSERTO". PARA QUE TENTAR FAZER ALGUMA COISA NOVA QUANDO SEI QUE VOU SER CRITICADO? CONSTRUTIVAMENTE OU NÃO É UMA COISA QUE VOU EVITAR. PROCURE O MEU POTENCIAL E VOCÊ VAI ENCONTRAR MUITOS! TEREI MAIS QUE UMA MANEIRA PARA FAZER AS COISAS.




8)POR FAVOR, ME AJUDE COM INTERAÇÕES SOCIAIS. PARECER QUE NÃO QUERO BRINCAR COM AS OUTRAS CRIANÇAS NO PARQUE, MAS ALGUMAS VEZES SIMPLESMENTE NÃO SEI COMO COMEÇAR UMA CONVERSA OU ENTRAR NA BRINCADEIRA. SE VOCÊ PODE ENCORAJAR OUTRAS CRIANÇAS A ME CONVIDAREM A JOGAR FUTEBOL OU BRINCAR COM CARRINHOS, TALVEZ EU FIQUE MUITO FELIZ POR SER INCLUÍDO. EU SOU MELHOR EM BRINCADEIRAS QUE TENHAM ATIVIDADES COM ESTRUTURA COMEÇO-MEIO-FIM. NÃO SEI COMO "LER" EXPRESSÃO FACIAL, LINGUAGEM CORPORAL OU EMOÇÕES DE OUTRAS PESSOAS. AGRADEÇO SE VOCÊ ME ENSINAR COMO DEVO RESPONDER SOCIALMENTE. EXEMPLO: SE EU RIR QUANDO SANDRA CAIR DO ESCORREGADOR NÃO É QUE EU ACHE ENGRAÇADO. É QUE EU NÃO SEI COMO AGIR SOCIALMENTE. ENSINE-ME A DIZER: "VOCÊ ESTA BEM?".




9)TENTE ENCONTRAR O QUE PROVOCA A MINHA PERDA DE CONTROLE.PERDA DE CONTROLE, "CHILIQUE", BIRRA, MAL-CRIAÇÃO, ESCÂNDALO, COMO VOCÊ QUISER CHAMAR, ELES SÃO MAIS HORRÍVEIS PARA MIM DO QUE PARA VOCÊ. ELES ACONTECEM PORQUE UM OU MAIS DOS MEUS SENTIDOS FOI ESTIMULADO AO EXTREMO. SE VOCÊ CONSEGUIR DESCOBRIR O QUE CAUSA A MINHA PERDA DE CONTROLE, ISSO PODERÁ SER PREVENIDO - OU ATÉ EVITADO. MANTENHA UM DIÁRIO DE HORAS, LUGARES PESSOAS E ATIVIDADES. VOCÊ ENCONTRAR UMA SEQÜÊNCIA PODE PARECER DIFÍCIL NO COMEÇO, MAS, COM CERTEZA, VAI CONSEGUIR. TENTE LEMBRAR QUE TODO COMPORTAMENTO É UMA FORMA DE COMUNICAÇÃO. ISSO DIRÁ A VOCÊ O QUE AS MINHAS PALAVRAS NÃO PODEM DIZER: COMO EU SINTO O MEU AMBIENTE E O QUE ESTÁ ACONTECENDO DENTRO DELE.




10)SE VOCÊ É UM MEMBRO DA FAMÍLIA ME AME SEM NENHUMA CONDIÇÃO.ELIMINE PENSAMENTOS COMO "SE ELE PELO MENOS PUDESSE…" OU "PORQUE ELE NÃO PODE…" VOCÊ NÃO CONSEGUIU ATENDER A TODAS AS EXPECTATIVAS QUE OS SEUS PAIS TINHAM PARA VOCÊ E VOCÊ NÃO GOSTARIA DE SER SEMPRE LEMBRADO DISSO. EU NÃO ESCOLHI SER AUTISTA. MAS LEMBRE-SE QUE ISTO ESTÁ ACONTECENDO COMIGO E NÃO COM VOCÊ. SEM A SUA AJUDA A MINHA CHANCE DE ALCANÇAR UMA VIDA ADULTA DIGNA SERÁ PEQUENA. COM O SEU SUPORTE E GUIA, A POSSIBILIDADE É MAIOR DO QUE VOCÊ PENSA. EU PROMETO: EU VALHO A PENA. E, FINALMENTE TRÊS PALAVRAS MÁGICAS: PACIÊNCIA, PACIÊNCIA, PACIÊNCIA. AJUDA A VER O MEU AUTISMO COMO UMA HABILIDADE DIFERENTE E NÃO UMA DESABILIDADE. OLHE POR CIMA DO QUE VOCÊ ACHA QUE SEJA UMA LIMITAÇÃO E VEJA O PRESENTE QUE O AUTISMO ME DEU. TALVEZ SEJA VERDADE QUE EU NÃO SEJA BOM NO CONTATO OLHO NO OLHO E CONVERSAS, MAS VOCÊ NOTOU QUE EU NÃO MINTO, ROUBO EM JOGOS, FOFOCO COM AS COLEGAS DE CLASSE OU JULGO OUTRAS PESSOAS? É VERDADE QUE EU NÃO VOU SER UM RONALDINHO "FENÔMENO" DO FUTEBOL. MAS, COM A MINHA CAPACIDADE DE PRESTAR ATENÇÃO E DE CONCENTRAÇÃO NO QUE ME INTERESSA, EU POSSO SER O PRÓXIMO EINSTEIN, MOZART OU VAN GOGH. ELES TAMBÉM TINHAM AUTISMO, UMA POSSÍVEL RESPOSTA PARA ALZAHEIM O ENIGMA DA VIDA EXTRATERRESTRE - O QUE O FUTURO TEM GUARDADO PARA CRIANÇAS AUTISTAS COMO EU, ESTÁ NO PRÓPRIO FUTURO. TUDO QUE EU POSSO SER NÃO VAI ACONTECER SEM VOCÊ SENDO A MINHA BASE. PENSE SOBRE ESTAS "REGRAS" SOCIAIS E SE ELAS NÃO FAZEM SENTIDO PARA MIM, DEIXE DE LADO. SEJA O MEU PROTETOR SEJA O MEU AMIGO E NÓS VAMOS VER ATE ONDE EU POSSO IR. CONTO COM VOCÊ!!!

Fonte: Grupo Professores Solidários

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

PROSA POÉTICA SOBRE MEU FILHO




silvânia mendonça almeida margarida



Passivamente,
sem dizer sim, ou não,
você, meu filho,
se tornou o sujeito e o objeto
do presente texto.


Constitui-se em uma doce presença
a primeira emoção ritualizada
enquanto fita
o que existe no seu mundo
uma ilha inacessível
que sacode as mãos
um útero eterno
de bem-querer
que se deixou
nascer diferenciado



A presente elucidação
é uma forma de fazer justiça
ao dono da matéria que tornou possível
a realização de tanta inspiração


Perdão, por haver invadido a sua privacidade,
e, assim, relatar episódios de sua vida
em forma de alentos e pequenas obras
Inseridas na cronologia dos anos e do autismo


E, assim, eu fui aprendendo, amando
Ao longo desta caminhada
Se alguém nos deu a mão
foi por entendimento
Era ator e autista também


Se ficou alguém para trás
Perdoar e perdoar, devemos
Pobres daqueles que não sabem
que a vida terrena é um eterno autismo
para a aprendizagem da vida espiritual



O que levamos deste mundo?
A não ser a doce e faceira
experiência do conhecimento
Aquilo que, paradoxalmente,
não costumamos perceber,
São sentimentos de
estupor e incompetência
as mais duras penas
para compreender...



E você, meu filho, seguirá,
Até onde Deus mandar
Como um trilho invisível
Do Seu próprio amor
Uma melodia oculta
Que me mostra
a diferença da sua poesia
E também me faz
nascer todos os dias...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O corpo no autismo

Psic: revista da Vetor Editora
Print version ISSN 1676-7314
Psic vol.9 no.1 São Paulo June 2008

ARTIGOS






The Body in the Autism



Cuerpo en el Autismo





Fabiana. S. Fernandes *

Universidade Federal do Amazonas

Endereço para correspondência






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RESUMO

Este estudo analisou como se encontra a noção de corpo no autismo, realizado por meio de pesquisa bibliográfica exploratória em livros e artigos científicos. Para isso, buscou-se primeiramente conhecer o autismo, suas características e as dificuldades apresentadas pelo autista. Em seguida, faz-se um breve estudo sobre o corpo e como esse é constituído. E é finalizado verificando como o corpo está constituído em um autista. Baseando-se nas informações coletadas foi possível perceber que o corpo no autismo não se constitui de maneira salutar. Essa pode ser, entre outras, uma das razões que dificulta e, em muitos casos inviabiliza, a relação do Autista com o mundo externo.

Palavras-chave: Autismo, Corpo, Esquema corporal, Imagem corporal.


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ABSTRACT

This study analyzed how the notion of the body in the autism is, and it was done by means of a bibliographical research based on books and scientific articles. So, first of all the autistic person was investigated in relation to its characteristics and disabilities. In sequence, a short study about the constitution of the body was done. Finally, it was analyzed how the body is in autistic person. Based on this study it was possible to infer that the body in the autism is not healthy. This can be one of the reasons that make so difficult the relationships between the autistic person and the world.

Keywords: Autism, Body, Body outline.


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RESUMEN

Este estudio buscó conocer como está la noción de Cuerpo en el Autismo. Para eso, primero se buscó conocer el autismo, sus características y las dificultades presentadas por el autista. En seguida se hizo un breve estudio sobre el cuerpo y sobre como se constituye. Termino verificando de qué forma está constituido el cuerpo en un autista. Este estudio fue realizado a través de investigación bibliográfica exploratoria en libros y artículos científicos. Con base en las informaciones cosechadas fue posible percibir que el cuerpo en el autismo no se constituye de manera saludable. Esa, además de otras, puede ser una de las razones que dificulta, y en muchos casos hace inviable, la relación del autista con el mundo externo.

Palabras clave: Autismo, Cuerpo, Esquema corporal, Imagen corporal.


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O objetivo principal deste estudo é refletir sobre constituição do corpo em crianças autistas. Para que esse trabalho seja melhor compreendido, ele foi dividido em três partes principais. Num primeiro momento falarei sobre o autismo e suas características comportamentais tais com distúrbio do relacionamento; distúrbio da fala e da linguagem; distúrbio do ritmo de desenvolvimen-to; distúrbio da motilidade e distúrbio da percepção. Em O corpo exponho um breve estudo do corpo e, posteriormente, como esse corpo é constituido, percebido e vivido no autista, além de fazer uma referência às estruturas de esquema e imagem corporal, e sua importância no tratamento de autistas. Finalmente procurei entender qual a importância e/ou interferência da noção de Corpo no desenvolvimento de crianças autistas. A partir dessa compreensão será possível investigar novas formas de tratamento e/ou intervenção para essas crianças.

A metodologia utilizada na elaboração desse estudo foi a pesquisa bibliográfica exploratória em material já elaborado, constituído principalmente de livros. O critério para seleção do material na pesquisa bibliográfica objeto desse estudo, baseou-se na consulta de literatura especializada na área, selecionada por abordar a temática do Corpo no Autismo, fornecendo sustentação teórica suficiente para atender os objetivos desse estudo introdutório.

O autismo

De acordo com Gauderer (1993), o autismo manifesta-se por profundas alterações do comportamento, que instalam-se precocemente na infância. É uma síndrome formada por um conjunto de alterações do comportamento que, embora não sejam exclusivas do autismo, constituem uma constelação clínica, não integralmente reproduzida em nenhuma outra doença.

Para Mahler (1989), partindo das perspectivas de relação objetal e desenvolvimento do senso de realidade, pode-se descrever dois grupos, clínica e psiquicamente distintos, de psicose infantil precoce; num deles, a mãe parece jamais ter sido percebida emocionalmente pelo bebê como figura representativa do mundo externo; de outra forma, a primeira representação da realidade externa, a mãe como pessoa, como entidade separada, parece não ser catexizada. A mãe permanece um objeto parcial, aparentemente destituído de catexias específicas, que não é diferenciado dos objetos inanimados. A autora complementa essa descrição dizendo que:


O autismo infantil precoce desenvolve-se, acredito, porque a personalidade infantil, destituída de vínculos emocionais com a mãe, é incapaz de enfrentar os estímulos externos como uma entidade. O autismo constitui portanto, o mecanismo pelo qual tais pacientes tentam excluir, de maneira alucinada (alucinações negativas) as fontes potenciais da percepção sensorial, especialmente aquelas que exigem resposta afetiva (Mahler, 1989, p. 34).
De acordo com Gauderer (1993), esse tipo de psicose infantil foi descrito pela primeira vez por Kanner em 1942 e recebeu o nome de autismo infantil precoce. Nessa psicose a criança não apresenta sinais de perceber afetivamente os outros seres humanos. Acha-se ausente o comportamento que indica a percepção afetiva das provisões maternas vindas do mundo externo.

Ainda conforme Gauderer (1993), os sintomas do autismo podem ser divididos em cinco grupos gerais: Distúrbios do Relacionamento: tanto o relacionamento com pessoas quanto com objetos inanimados estão alterados no autismo. Esta deficiência precoce inclui a falta do desenvolvimento de uma relação interpessoal e de contato visual. Distúrbios da Fala e da Linguagem: o autor mostra que o desenvolvimento da fala é caracterizado por um enorme atraso, com fixações e paradas ou total mutismo. É comum a ecolalia (ou seja, a repetição automática de sons ou palavras ouvidas) associada ao uso inadequado ou reversão do pronome pessoal. Quando a fala comunicativa se desenvolve é atonal, arrítimica, sem inflexão e incapaz de comunicar apropriadamente as emoções. Distúrbios do Ritmo de Desenvolvimento: as crianças autistas mostram grande irregularidade na idade em que desenvolvem as seqüências motoras ou de linguagem. O ritmo mais comum é uma descontinuidade na seqüência normal do desenvolvimento, por exemplo, a criança pode sentar-se precocemente sem ajuda e depois mostrar um atraso significativo para se colocar em pé. Distúrbios da Motilidade: o maneirismo e os padrões peculiares de motilidade nessas crianças são os traços que lhes conferem em grande parte sua aparência estranha e bizarra. Moraes (2002) cita que os movimentos corporais estereotipados são comuns e apresentam-se sob a forma de balanceio da cabeça, movimentos com os dedos, saltos e rodopios. Esses movimentos costumam ocorrer, principalmente, entre os mais jovens e os que têm um funcionamento global mais baixo. Distúrbios da Percepção: há uma incapacidade na criança de fixar ou dedicar sua atenção a certos estímulos visuais, voltando-se quase que exclusivamente a outros. A criança é incapaz de usar estímulos sensoriais para discriminar o que é importante ou não. Em outras palavras, ocorre um erro de seletividade. A criança autista pode ignorar estímulos visuais, até mesmo pessoas e paredes, a ponto de chocar-se com estas como se o obstáculo não existisse.

Classificação do autismo

Baptista e Bosa (2002) afirmam que se verifica na história uma grande controvérsia com relação ao conceito do autismo, a distinção entre autismo, psicose e esquizofrenia. As primeiras edições da CID (Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento, da Organização Mundial da Saúde) não fazem qualquer menção ao autismo. A oitava edição o traz como uma forma de esquizofrenia, e a nona agrupa-o como psicose infantil. A partir da década de 1980, assiste-se a uma verdadeira revolução paradigmática no conceito, sendo o autismo retirado da categoria de psicose no DSM-III (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria) e no DSM-III-R, bem como na CID-10, passando a fazer parte dos transtornos globais do desenvolvimento, como segue: na CID-10 (1993) encontra-se a definição dessa síndrome dentro dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, como Autismo Infantil - F84.0 e Autismo atípico - F84.1 e, no DSM IV (2000), também dentro dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, encontra-se o Transtorno Autista - 299.

Conforme Baptista e Bosa (2002), durante muito tempo prevaleceu a noção de pessoas com autismo como sendo alheias ao mundo ao redor, não tolerando o contato físico, não fixando o olhar nas pessoas e interessando-se mais por objetos do que por outras pessoas ou, ainda, nem mesmo discriminando seus pais de um estranho na rua. A mídia e a literatura debruçaram-se sobre a imagem do "gênio" disfarçado, engajado em balanços do corpo e agitação repetitiva dos braços. "Estudos recentes têm comprovado o que os profissionais envolvidos com a criança já sabem: nem todos os autistas mostram aversão ao toque ou isolamento" (Trevarthen citado por Baptista & Bosa, 2002, p. 34).

"Alguns, ao contrário, podem buscar o contato físico, inclusive de uma forma intensa, quando não "pegajosa", segundo pais e professores. Também existem evidências de que crianças com autismo desenvolvem comportamentos de apego em relação aos pais (mostrando-se angustiados quando separados deles, buscam sua atenção quando machucados, aproximam-se deles em situação de perigo), de uma forma diferenciada" (Capps, Sigman & Mundy citado por Baptista & Bosa, 2002, p. 34).

Na opinião de Baptista e Bosa (2002), a forma como os autistas comunicam suas necessidades e desejos não é imediatamente compreendida, se adotarmos um sistema de comunicação convencional. Um olhar mais cuidadoso e uma escuta atenta permitem-nos descobrir o grande esforço que essas crianças parecem desprender para lançar mão de ferramentas que as ajudem a ser compreendidas.

Ainda de acordo com Baptista e Bosa (2002), os estudos de observação minunciosas de crianças autistas (utilizando filmagens) mostram que os olhares são mais freqüentes do que se imagina. O que ocorre é que são breves e, por isso, muitas vezes imperceptíveis. Na verdade, a freqüência do olhar muda com o contexto, e esse é mais comum, e tende a ser mais longo naquelas situações em que a criança necessita da assistência do adulto do que naquelas em que está, por exemplo, brincando com o adulto. Nesse caso, as teorias sociocognitivas ajudam a compreender a pouca freqüência do olhar: não olham porque não sabem a função comunicativa do olhar para compartilhar experiências com as pessoas - uma habilidade que se desenvolve ao longo do primeiro ano de vida do bebê. Essa suposição parece trivial, mas faz uma diferença quando aplicada em um contexto de intervenção com os pais: não olhar porque não compreende a extensão das propriedades comunicativas do afeto e do olhar é diferente de não querer olhar.

Para esses autores, existem várias teorias, desde a psicanálise, ocupando-se do mundo interno da criança, passando pelas teorias da linguagem, sociocognitivas (explicando a dificuldade em colocar-se no ponto de vista do outro, em refletir sobre estados mentais) até as teorias neuropsicológicas (dando conta das dificuldades de dividir a atenção entre os eventos sociais e não sociais, habilidade de extrair significado de um contexto perceptivo, capacidade de organização, flexibilidade e planejamento, enquanto função dos lobos frontais). Nenhum modelo teórico, sozinho, explica de forma abrangente e satisfatória a complexidade dessa síndrome - eis, a razão pela qual há a necessidade do trabalho em equipe e o respaldo da pesquisa. A experiência clínica, segregada da pesquisa, corre o risco de gerar mitos, pois tende a cristalizar preconceitos. Da mesma forma, a pesquisa, desvinculada da clínica, aprisiona o conhecimento cuja produção pode e deve trazer benefício à comunidade.

O corpo

Os seres humanos, ao serem captados pela linguagem diferenciam-se do reino animal, deixam de ser puro corpo e, pelo ingresso ao universo simbólico, podem tê-lo e, portanto, ser sujeito com um corpo.

Segundo Ferreira (2000), as experiências motoras da criança são decisivas na elaboração progressiva das estruturas que aos poucos dão origem às formas superiores de raciocínio, isto é, em cada fase do desenvolvimento, ela consegue uma determinada organização mental que lhe permite lidar com o ambiente. Pode-se assim dizer que, em termos de evolução, a motricidade é uma condição de adaptação vital. Sua essência reside no fato de nela o pensamento poder manifestar-se. A pobreza de seu campo de exploração irá retardar e limitar a capacidade perceptiva do indivíduo.

O autor explica que o equilíbrio ou desequilíbrio do tônus muscular, suas variações ou seus bloqueios irão traduzir a maneira de ser da criança, suas emoções, suas vivências psíquicas, além de participar também como elemento na comunicação não-verbal. A atitude da mãe pesa muito no desenvolvimento da criança, desde o período gestacional, quando há um aumento considerável de medos, muitas vezes sem motivo aparente, de ansiedades, depressões, enfim, uma gama de sentimentos que irão repercutir, mais tarde, no desenvolvimento psicológico, intelectual, afetivo e psicomotor da criança. Existe, portanto, uma comunicação constante, um diá-logo corporal entre mãe e filho, na esfera do qual as modificações tônicas: acompanham não apenas cada afeto, mas também cada fato da consciência

Seguindo na abordagem de Ferreira (2000), ele visualiza, então, que as capacidades motoras, intelectuais e afetivas que facultam à criança estabelecer relação com o mundo, estão sujeitas à sua carga tônica pessoal, a qual é, por sua vez, construída a partir das estimulações que o meio e as pessoas lhes impõem. Será pela percepção das diferentes experiências que a criança terá possibilidade de criar a base para o desenvolvimento de sua independência e autonomia corporal e sua maturidade socioemocional.

Esse autor mostra ainda que a criança desenvolve-se e matura-se no contato com o mundo vivenciando e experimentando as relações, isso, a princípio, via corpo, que é no início o seu único meio de comunicação. Todas as suas inaugurações são corporais e estão intimamente ligadas à emoção e ao prazer. A corporeidade é a linguagem mais primitiva desse indivíduo desde a sua fase uterina. Assim, o movimento está em ligação direta com a criança, pois é parte dela que se comunica com o mundo, e também é a partir dele que irá organizar-se enquanto sujeito pensante e atuante para dar conta da sua participação na sociedade.

Quando se fala em corpo, segundo Ferreira (2000), tem-se que pensar que ele é um organismo vivo, um ser desejante, atuante, emocional, inteligente, enfim, não se pode esconder ou apenas renegar a história que ele carrega. É preciso entender que o corpo muda com o passar do tempo dependendo dos valores e das necessidades do local, da situação e, é necessário aceitar as suas diferenças.

O corpo no autismo

Levin (2000) afirma que no autismo, o corpo da criança não tem outra referência do que a de estar à margem. Diferentemente da psicose, não tem uma relação de univocidade à linguagem (modelo materno), e sim de exclusão. O corpo é pura carne sem ligação representacional, é puro real.

Para esse autor o corpo no autismo permanece mudo, silencioso, carente de qualquer gestualidade, mantém-se encapsulado e coisificado nessa única posição do mutismo. Mutismo que não se produz por ter um problema na audição, mas porque o que olha e escuta é o seu não lugar. Posição mortífera em que nenhum significado remete a outro, nem ordena a linguagem. Tanto o corpo quanto as posturas, o tônus muscular, os movimentos, o silêncio, o espaço e o tempo, estão numa relação de exclusão à linguagem. Não fazem superfície, não fazem borda. Desse modo, o corpo da criança autista movimenta-se num tempo eterno, infinitamente, sem pausa, num espaço sem limites, sem um lugar no qual possa orientar, navegando no vazio próprio da coisa inerte.

Ferreira e Thompson (2002) mostram que as noções de tempo e espaço são as principais bases do desenvolvimento motor, cognitivo e social da criança. Mas para que a organização espaço/tempo se desenvolva, é necessário, antes de tudo, que as noções de esquema corporal e imagem do corpo estejam integradas. Essa percepção do espaço depende de dados sensoriais e de atitudes motoras. As alterações da percepção de espaço são, em primeiro lugar, causadas pela dificuldade de compreender o espaço corporal e suas fronteiras. A gestualidade e os movimentos pouco adaptados, assim como a postura, perturbam frequentemente a linguagem não-verbal da criança autista.

Levin (2000) informa que os movimentos estereo-tipados apresentados pelas crianças autistas podem ser chamados de movimentos autísticos, uma vez que não se dirigem a ninguém. O movimento, ao não passar por um registro outro, não se separou. Ele sugere que uma das possíveis vias de entrada no tratamento dessas crianças é por meio desses movimentos estereotipados (auto-eróticos). Por essa via procura-se escindir, separar, esse corpo do gozo: tenta-se fazer com que o movimento comece a funcionar, desse modo, no registro do desejo, situando-o em outra posição separada do gozo.

Ferreira e Thompson (2002) informam que o autista apresenta dificuldade de compreender seu corpo em sua globalidade, em segmentos, assim como seu corpo em movimento. Quando partes do corpo não são percebidas e as funções de cada uma são ignoradas, pode-se observar movimentos, ações e gestos pouco adaptados. O distúrbio na estruturação do esquema corporal prejudica também o desenvolvimento do equilíbrio estático, da lateralidade, da noção de reversibilidade; funções de base necessárias à aquisição da autonomia e aprendizagens cognitivas.

Na opinião desses autores, não deve ser esquecido que os autistas possuem seus próprios desejos, preferências e personalidade, nem ignorar os outros aspectos do desenvolvimento. A linguagem, sobretudo, é constituinte do sujeito, sendo base para a estruturação psíquica, cognitiva e também psicomotora. Ao falar de corpo, o objetivo é ajudar a pessoa autista a superar algumas de suas dificuldades, permitindo seu desenvolvimento em outros planos, oferecendo novos meios de expressão, favorecendo a conscientização, possibilitando o acesso a funções importantes como o olhar e o tocar, buscando melhorar sua qualidade de vida.

Esquema corporal e imagem corporal

Segundo Levin (2000), o esquema corporal é o que se pode dizer ou representar acerca do próprio corpo. A representação que temos do mesmo é da ordem do evolutivo, do temporal. Dentro do esquema corporal encontram-se as noções de proprioceptividade, interoceptividade e exteroceptividade. Na evolução psicomotora da criança, o esquema corporal irá se construindo, ele é suscetível à mensuração e à comparação com outro; por exemplo, nas medidas padronizadas em que a criança corresponde a cada idade, um peso, uma altura, etc.

Para Ferreira e colaboradores (2002), o esquema corporal é elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança. É a representação relativamente global, científica e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo. A estruturação espaço-temporal, fundamenta-se nas bases do esquema corporal sem o qual a criança, não se reconhecendo em si mesma, só muito dificilmente poderia aprender o espaço que a rodeia. Torna-se necessário que a criança adquira o domínio corporal, o reconhecimento corporal e a passagem para a ação. Sem essas habilidades, uma criança, por exemplo poderá chocar-se constantemente com os amigos durante brincadeiras que envolvam corrida, machucar-se ao passar por espaços limitados e sentir dificuldades em transferir líquidos de um recipiente para outro ou entornar os líquidos ao bebê-los. As etapas do desenvolvimento do esquema corporal abrangem o corpo vivido, o conhecimento das partes do corpo, a orientação-espaço-corporal e a organização espaço-corporal.

De acordo com Levin (2001), o estágio do espelho tem um papel essencial na constituição da imagem corporal da criança. O gesto dela diante do espelho convoca ao olhar do outro que confirma essa imagem própria. Esse gesto implica um movimento postural que, por um instante, a descentra do espelho e a aliena mais uma vez enlaçando-a ao outro. A transformação implícita, via identificação, o fascínio pela imagem especular determina mudanças posturais e corporais que organizam a construção corporal a partir do espelho virtual da criança.

Estudando essas reações da criança diante do espelho, Wallon (citado por Ferreira & Thompson, 2002) destaca dois tempos importantes em sua psicogênese: a capacidade de perceber a imagem e de relacioná-la a si próprio:

. O primeiro diz respeito à constatação de que, inicialmente, a criança aprende a relacionar imagem especular com a pessoa real, por meio da atitude de um outro que, com ela, divide o reflexo no plano de espelho. Por exemplo, a descoberta da relação entre imagem e pessoa real não se constitui por intermédio da imagem propriamente dita, mas do fato de estar a criança acompanhada de alguém que, falando ao seu lado, possa criar uma transferência entre pessoa real e imagem e, paradoxalmente, estabelecer, ao mesmo tempo, um vínculo entre imagem e pessoa real. O caminho percorrido para a associação vai do gesto à imagem.

. O segundo tempo inaugura a construção de imagem de si, propriamente dita. A criança passa a reconhecer a sua própria imagem refletida no espelho, buscando estabelecer um contato corporal com ela. Nesse momento de captura da imagem de seu próprio corpo, a criança passa a referir-se a ela (a imagem), quando a chamam pelo seu próprio nome. Durante boa parte dos primeiros anos, ainda assistimos às crianças chamarem-se na terceira pessoa, como um processo de referência a si mesma, projetadas na imagem que construíram para si, especular e exteroceptiva.

Ferreira e Thompson (2002) falam que a imagem corporal é um conjunto de informações que constituem um sujeito diante de si, do outro e do mundo. A construção da imagem passa necessariamente pelo outro e pela cultura. O sujeito aprende a ver com os olhos dos outros. Mas, para além do olhar, há muito mais. Há a linguagem inscrita na forma desses que olham e que reconhecem o sujeito, lhe dão um rosto, um semblante, uma expressão. A imagem passa pelos cuidados recebidos, pelo amor e desamor, pelas frustrações, privações e castrações simbólicas.

O esquema corporal de uma criança autista certamente se encontra perturbado, informa Levin (2000), mas não por uma falha no esquema corporal, mas pela ausência, pela carência do outro que não fez a inscrição, que não fez os contornos desse corpo, que não gerou desejo, imagem, que para serem geradas irão necessitar de um outro que imagine que ali há um sujeito e não uma "coisa" (objeto). Desse modo, a criança poderá espelhar-se nessas imagens (no olhar desejante), no outro que assim outorga a possibilidade de construir um esquema e uma imagem corporal.



Considerações finais

É essencial ficar entendido que intervir num processo vivencial é intervir na totalidade humana, seja essa intervenção através do olhar, do escutar, do tocar ou do falar. Provocar alguma variação numa experiência é alterar a vivência global do indivíduo em sua forma de ser e estar no mundo.

Pode-se dizer que uma das primeiras intervenções a que somos submetidos se dá através do olhar. Alguém nos olha quando nascemos e nos diz quem somos. A partir desse momento começamos a delinear nosso lugar no mundo, nossa identidade. O toque, o sorriso, o falar, o olhar dos pais são de vital importância para o desenvolvimento emocional e intelectual da criança. O desejo do outro vai marcar e influenciar seu próprio desejo.

É papel do profissional compreender e viver em profundidade o fato de que a criança necessita de alguém que se encante com seu mundo e o compreenda como essencial ao ato de viver; alguém que sonha, fantasia, deseja, sorri, dá gargalhadas, se alegra, busca realizar, alguém que conscientemente constrói a existência para si e para o outro; um profissional que lança mão do arcabouço de seu conhecimento para o exercício de seu trabalho, ao mesmo tempo que é repleto de sensibilidade e sutileza relacional. Utilizando o pensamento de Ferreira e colaboradores (2002), o profissional que decide lidar com a criança autista, deve considerar tudo o que se sabe sobre o processo de desenvolvimento normal e os fatores que otimizam o desenvolvimento; como também, tem de considerar o que se sabe sobre os aspectos anormais que interferem no desenvolvimento das crianças autistas.

Foi possível perceber que a criança autista não possui um corpo vivenciado. A sensação que se tem é que o corpo é um objeto a parte, sem significação, sem importância. Existe uma grande dificuldade por parte da criança em compreender seu corpo como um todo. Ela não desenvolve de maneira adequada as noções de Esquema Corporal, o que tem diversas implicações, como foi possível observar ao longo desse artigo. Para uma criança autista, o corpo pode ser um objeto de angústia e de pânico, sobretudo se ele não é bem estimulado e compreendido. Por isso, é necessário que ele se torne um pólo de segurança e estabilidade.

Posso inicialmente concluir, que umas das maneiras de auxiliar no tratamento do autismo é por meio do corpo, tentando estabelecer uma relação entre o psíquico e o orgânico. A partir de experiências sensório-motoras, ele poderá aumentar sua relação com o mundo, inicialmente impossível pela dificuldade de entrar em contato com os outros, seja por meio do toque ou por meio do olhar. Fica a proposta para num próximo estudo, buscar terapias que utilizem o Corpo nessa intermediação corpo-mente, e verificar de que forma elas podem contribuir para o tratamento de crianças autistas.



Referências

Associação Americana de Psiquiatria.(2000). DSM IV- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. (4.ed). Porto Alegre: Artes Médicas Sul. [ Links ]
Baptista, C. R. & Bosa, C. (Orgs.). (2002). Autismo e educação: reflexões e propostas de intervenção. Porto Alegre: Artmed. [ Links ]
Ferreira, C. A. de M. (2000). Psicomotricidade, da educação infantil à gerontologia. Teoria e prática. São Paulo: Lovise. [ Links ]
Ferreira, C. A. M. & Cols. (2002). Psicomotricidade Clínica. São Paulo: Lovise. [ Links ]
Ferreira, C. A. M. & Thompson, R. (Orgs.). (2002). Imagem e Esquema Corporal. São Paulo: Lovise. [ Links ]
Gauderer, C. E. (1993). Autismo. (3ª ed). Rio de Janeiro: Atheneu. [ Links ]
Levin, E. (2000). A clínica psicomotora: o corpo na linguagem. (J. Jerusalinsky, trad.) (3ª ed). Petrópolis: Vozes. [ Links ]
Levin, E. (2001). A infância em Cena. (L. E. Orth e E. F. Alves, trad). (3ª ed.). Petrópolis: Vozes. [ Links ]
Mahler, M. (1989). As psicoses infantis e outros estudos. (H. M. Souza, trad.) (3ª ed.) Porto Alegre: Artes Médicas. [ Links ]
Moraes, C. (2002). Autismo Infantil. Acessado em: 14/02/02: http://sites.uol.com.br/gballone/colab/cesar.html. www.sites.uol.com.br/gballone/colab/cesar.html www.sites.uol.com.br/gballone/colab/cesar.html. [ Links ]
Organização Mundial da Saúde (OMS) (1993). Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas. [ Links ]




Endereço para correspondência
Rua 29 de Agosto 786B UFAM - Centro, Humaitá/AM
69800-000, Tel.: (97) 3373-1180, Fax: (97) 3373-1158 (res)
E-mail: fabby_fer@hotmail.com e/ou fabbyfer@ufam.edu.br





Sobre a autora:

* Fabiana Soares Fernandes é psicóloga e especialista em Educação Infantil e Especial, pela Universidade Cândido Mendes. Atualmente, docente da Universidade Federal do Amazonas, no Campus Vale do Rio Madeira, em Humaitá (AM).
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1676-73142008000100013&script=sci_arttext

domingo, 5 de setembro de 2010

TROVADOR AUTISTA QUE AMA




silvânia mendonça almeida margarida
pintura de Isabel Guerra



E o autismo viaja
E o autista percorre o céu
clarificado de alegria
pois são simples os seus dias

No Cosmos sem fim
O saltitar de universo
Pois não se sabe o depois de amanhã
Põe seu entendimento nas poesias
E espera todos os dias
tudo o que tiver que acontecer...

Em sua natureza
Só há encanto da palma
É práxis plena que fica no luar,
no sol e nas estrelas
Tem amor, tem poder
e o domínio dos agrados
Pois entrega o seu interior...

E de amor vive sua inspiração
Trovador autista que ama
Arranja as palavras que brotam da terra
Faz germinar as mais belas flores
e desse brotar nascem frutos suculentos
para serem apreciados e degustados

Pois possui os nutrientes necessários
para ser cantador e ser autista
Um altruísta que não se contenta
com o sabor da vida escolhida
A falta que lhe faz falta
Só pode ser de ternura
Por mais que transforme o coração...

sábado, 4 de setembro de 2010

CANTA, CANTA MEU FILHO TRISTE





silvania mendonça almeida margarida


Canta, canta meu filho triste
Canta a percorrer as areias
dos seus olhos cristalinos
que inocentes e límpidos
não sabem as maldades
e só conhecem
a veemência de pureza...



Canta, canta meu filho triste
Colhe os pingos de chuva
e no seu rosto deixa rolar
E se algum dia
Em algum lugar distante
se alegrar por mim
esquece as maleitas
olvida as tristezas


Canta cantigas de ternura
Canta canções de embalo da noite
Canta os devaneios e os esquecimentos
Que guarda nalgum lugar...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

AUTISMO PARTE 2

Conforme a OMS(Organização Mundial de Saúde),
"Autismo é uma síndrome presente desde o
nascimento e se manifesta antes dos
30 meses de idade. O comportamento é
usualmente ritualístico e pode incluir
rotinas de vida anormais, resistências a
mudanças, ligação a objetos estranhos
e um padrão de brincar estereotipados.
A capacidade para pensamento abstratosimbólico
ou para jogos imaginativos
fica diminuída. A inteligência varia
de muito subnormal, normal ou acima.
(OMS, 1984)
1.2 Características
A característica das crianças autistas
está intimamente ligada às noções do
tempo e de causalidade. Todas as crianças autistas
insistem em que o temposeja suspenso.
Se a identidade deve ser considerada, o tempo tem que ser
detido; seu mundo não é feito mais
que de espaço. Nem o tempo, nem a
causalidade existem, porque a causalidade
implica uma sucessão no tempo,
pela qual um acontecimento devese
suceder a outro; a criança está
aterrorizada pelas relações, porque elas parecem
destruidoras à sua vista; qualquer decepção
deve ser prevista, e sua lei é: "não deves esperar
nunca que algo possa mudar". Cada autista tem sua própria
maneira de ser acomodar à sua necessidade de viver
fora da causalidade. A criança autista não
reconhece nenhuma ordem ou funcionamento
do seu organismo. Por ela,
nenhuma de suas funções corporais tem sua
origem no corpo e suas
necessidades. Na melhor das hipóteses, são
os sistemas mecânicos que
seguem uma certa ordem também mecânica.
(Ajuriguera, 1980) Segundo,
B.A.RUTTEMBERG; a criança autista
não segue os modelos normais do
desenvolvimento, tal como é entendido
do ponto de vista psicanalítico, ela falha
no desenvolvimento das relações objetais
e da modulação das pulsões
instintivas, e não organiza suas
reações formativas e suas defesas como a
criança normal. A criança autista
funciona a níveis muito primitivos; ainda que
as funções dos "Ego autônomo" e
certas funções do "Ego executivo"
(crescimento físico, marcha e outras
funções motoras), possam estar
relativamente bem desenvolvidas,
as funções do Ego se apresentam mal
desenvolvidas fragmentadas.
A agressão não é discriminada e freqüentemente
é interiorizada. O comportamento cinestésico
e, quase sempre, também oral
precoce, predomina na criança, que não
é tratada (Ruttemberg, 1971). Podese
dizer que a criança autista vive em um mundo
de objetos, as quais ela utiliza de
forma esteriotipada. Ainda que às vezes ela
explore o mundo que a cerca, ela o
faz com a finalidade de se fixar em objetos,
de se apropriar deles, de manipulálos,
sem nenhuma atividade construtiva real.
Mesmo que ela reconheça os
objetos em seu aspecto formal, que os acolha
e os encontre facilmente, eles
não têm um valor social significativo para ela.
Os escolhidos são os objetos
simples, com as quais ela brinca ou s
ão objetos mecânicos, pelos quais ela se
sente atraída, seja ele um aspirador,
um interruptor ou uma torneira.
(Ajuriaguera, 1980). Outra característica
autista presente é a repetição
exaustiva de uma situação como por exemplo,
ver o mesmo filme muitas e
muitas vezes (como a maioria das crianças o faz).
A grande diferença é que,
enquantos nos autistas essa fase não é superada.
O relacionamento da criança
autista com as pessoas é muito particular.
Não lhes dirige sequer um olhar de
interesse, passa ao lado sem tentar
estabelecer qualquer tipo de comunicação;
as relações que pode, às vezes, estabelecer
são fragmentárias: ela escolhe um
companheiro, mas não espera dele nem participação, nem troca de
experiências. Não demonstra qualquer
reação diante do desaparecimento dos
pais, parecendo ignorálos.
Não participa, como as outras crianças, de nenhum
jogo coletivo. Em relação a seu próprio corpo,
ela efetua poucas atividades de
exploração, ainda que possa se interessar
por determinadas zonas corporais;
ela encontra, por exemplo, satisfação na
movimentação esteriotipada da sua
própria mão. É indiferente à sua imagem
diante do espelho, salvo quando em
movimento. A exploração, em relação a
outras pessoas, é também pouco
importante, e nem mesmo o rosto
chama sua atenção. Uma das características
destas crianças é sua preocupação obsessiva
pelo que é idêntico ou pelo que
é imutável, o que significa que elas sempre
tentam preservar certos quadros,
determinados tipos de situação, ou predeterminar
o desenrolar dos
acontecimentos. Assim, ela se recusa a trocar
de roupa, executa desvios rituais
na hora de dormir, quase sempre demorados e
detalhados, ao lado de
extravagâncias no que diz respeito
à alimentação, escolhendo um único tipo de
alimento ou comendo somente em determinados
pratos (Ajuriguera, 1980).
Ainda que, em geral, estas crianças
sejam gentis e doces, saindo de sua
passividade somente quando esta se torna
monótona e estrepitada, em alguns
casos podem ser rebeldes e agitadas,
e em outros, estar em constante
movimento, mexendo em tudo, dando
voltas sem cessar em um mundo do qual
não apreendem mais que fragmentos, e
cujas possibilidades não utilizam. Não
há motivos para se colocar em confronto
a criança hipocinética e a criança
hipercinética, no que diz respeito
ao autismo. Nem uma nem outra têm um
contato real com a realidade.
No entanto, ambas podem apresentar reações
impulsivas, durante as quais quebram objetos
e apresentam tipos de atividades
autoagressiva.
Se, de um lado, a criança voltase
sobre si mesmo e não procura, em absoluto,
a comunicação com outras crianças ou pessoas,
de outro lado, a criança hipercinética encontra,
por meio de seus deslocamentos sucessivos,
as pessoas e os objetos com as quais pode
manifestar uma certa hostilidade. No entanto,
ambas podem apresentar crises intensas de angústia;
a hipocinética, por sua própria solidão,
e a hipercinética, quando sai de seu
quadro habitual. Neste caso, a primeira
pode aumentar seu retraimento, e a
segunda procurar ajuda, geralmente em
pessoas não específicas do grupo.
(GAUDERER, 1993).
1.3 Histórico
É necessário que se faça uma revisão histórica,
para estudar o assunto. Este
capítulo, em geral, é deixado de lado pelo
interesse maior da parte do
diagnóstico e principalmente do tratamento,
porém reafirma a necessidade de
se conhecer o histórico do Autismo, pois só assim
teremos um conhecimento
razoável da polemica em torno do diagnostico e
do tratamento. São eles
baseados em modelo teóricos que tiveram ou têm seu lugar no tempo. Em
1906, Plouller introduziu o adjetivo autista
na literatura psiquiátrica. Na época,
ele estudava o processo do pensamento de
pacientes que faziam referências a
tudo no mundo e à sua volta, consigo mesmo,
num processo considerado
psicótico. Estes pacientes tinham o diagnóstico
de demência precoce, que ele
mudou para esquizofrenia, também introduziu este
temo. Em 1943 KANNER
(E.U.A.), psiquiatra infantil descreveu
um grupo de crianças gravemente
lesadas que tinham certas características
comuns. A mais notada era a
incapacidade de se relacionar com pessoas.
Ele utilizou o adjetivo empregado
por Pouller e intitulou o seu .


Joubert de Barros, 690 – Bento Ferreira –

Fonte:

Vitória – ES – Cep: 29050720
Fone/Fax: 3227 2164 – www.cvdvida.org.br
land@terra.com.br

trabalho de "Distúrbio Autistico de Contato Afetivo".

AUTISMO

Autismo
CAPÍLULO I
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
1.1 Definições atuais
O autismo é uma síndrome de etiologia puramente orgânica,
para qual existem,
presentemente, definições que podemos
considerar como adequadas. São
elas: Segundo o Dicionário Médico, 1982,
autismo infantil é um transtorno do
comportamento e do pensamento
observado em crianças de pouca idade, em
que a criança parece concentrarse
exclusivamente sobre si mesma,indiferente
à realidade externa. Freqüentemente surge
com manifestações detimidez excessiva,
medo descabido ou retraimento exagerado
e evolui para posterior afastamento
completo do mundo exterior em que toda a atenção se
volta para o mundo exterior em que
toda a atenção se volta para o mundo
subjetivo, em uma introspeção plena.
O intelecto não é comprometido. Pode
ser uma manifestação precoce ou
componente do tipo infantil de esquizofrenia
ou pode representar uma desordem mental
não esquizofrênica. Segundo a
CORDE (Coordenadora Nacional
para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência). O autismo é uma
inadequacidade no desenvolvimento que se
manifesta de maneira grave por toda a vida.
É incapacitante e aparece
tipicamente nos 3 primeiros anos de vida.
Acomete cerca de 20 entre cada 10
mil nascidos e é 4 vezes mais comum
entre meninos do que meninas. É
encontrada em todo o mundo e em
famílias de qualquer configuração racial,
étnica e social. Não se conseguiu
até agora provar nenhuma causa psicológica
no meio ambiente destas crianças,
que possa causar a doença (CORDE,
1993). De acordo com a ASA
(Associação Americana de Autismo); "o Autismo
é uma inadequacidade no desenvolvimento
que se manifesta de maneira grave
por toda a vida. Acomete cerca de 20 entre
cada 10 mil nascido e é 4 vezes
mais comum entre meninos do que meninas" (ASA, 1997)

CONTINUA

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