Na natureza, todas as criaturas vivas possuem a mesma estrutura de código genético - o DNA. Num certo ponto do processo, os códigos começam a se diferenciar, trazendo identidade peculiar a cada espécie, a cada ser. Uma das belezas da vida está no fato de que o mesmo DNA, responsável por tantas semelhanças entre os seres vivos, é também aquele que os torna tão diferentes e individuais.
No processo de formação da Natureza, ficou assegurado que a vida iria conter ao mesmo tempo simplicidade e complexidade. Cada peça do quebra-cabeças, mesmo a sua menor parte, tem um papel, de maneira (a única maneira) que este pode ser montado e mantido em equilíbrio. Sob a perspectiva do Ser Humano são necessários humildade e orgulho, para compreender e aceitar que somos realmente pequenos em todo o contexto do Universo; porém, cada um de nós tem um papel que deve ser desempenhado para alcançar o equilíbrio. Devemos aprender sobre como viver em diversidade, como aceitar as diferenças individuais e como fazer com que elas nos beneficiem a todos.
Parece que nós, pessoas ligadas à área da deficiência, temos essa visão. Podemos sentir e compreender tais conceitos. Esta visão nos torna responsáveis e nos transforma em importantes porta-vozes para as transformações que a sociedade está começando a introduzir. Estaremos prontos para isto?
No Brasil, costumamos contar a história de um colibri que, durante um grande incêndio na floresta, foi visto indo e vindo, carregando água no bico e derramando-a sobre o fogo. Os outros animais, muitos deles maiores e mais fortes do que o colibri, fugiam o mais rápido que podiam, pensando somente em salvar a própria pele. Enquanto corria, um leão que observava o colibri perguntou-lhe se ele não havia ainda se dado conta de que não iria conseguir extinguir o incêndio com aquelas poucas gotas de água mas, em vez disso, iria acabar morrendo. Sem parar de trabalhar, o colibri disse, então, ao leão: - estou somente fazendo a minha parte.
Em nosso dia-a-dia, quando tomamos decisões, a maior parte do tempo precisamos escolher entre a visão do leão e a do colibri, sobre o mundo, a vida e sobre nós mesmos. Será que, nesse processo, sequer consideramos ou nos importamos de fato com aqueles que nos rodeiam? Pobreza & Deficiência
A pobreza é uma privação dos bens e oportunidades essenciais aos quais todo ser humano tem direito. Todos deveriam ter acesso à educação básica e aos serviços primários de saúde. Indo ainda mais além do que apenas renda e serviços básicos, os indivíduos e sociedades são pobres - e tendem a permanecer assim - se não forem capacitados a participar da tomada de decisões que dão forma e sentido às suas próprias vidas.
Aproximadamente 80% das pessoas portadoras de deficiência existentes no mundo vivem em países em desenvolvimento. A pobreza cria condições para a deficiência e a deficiência reforça a pobreza. A exclusão e a marginalização de pessoas deficientes reduzem suas oportunidades de contribuir produtivamente para o lar e a comunidade, aumentando assim o ciclo da pobreza.
Há a expectativa de que o número de indivíduos com deficiências aumente no futuro, caso o crescimento econômico permaneça em desequilíbrio e não se solucionem problemas como eqüidade, meio ambiente e outras questões sociais. As deficiências irão aumentar na medida em que a sociedade envelhece. A proporção de crianças deficientes em países em desenvolvimento é também maior quando comparada a países industrializados. Muitos tipos de deficiências, que raramente são encontrados em países ricos (como poliomielite, lesões causadas por minas terrestres, seqüelas de hanseníase), ainda são comuns nos países pobres.
As deficiências colorem e aguçam todos os aspectos e condições humanas. Acentuam e agravam situações de discriminação, preconceito e exclusão enfrentados por mulheres, por minorias em geral, por populações de baixa renda e por todos os outros grupos desprivilegiados. Também salientam claramente e ilustram os diversos aspectos físicos, mentais, sensoriais de sermos humanos, obrigando a sociedade a reagir, a interagir e a refletir sobre isso.
Inclusão e Participação Plena
O caminho para se alcançar auto-suficiência e plena participação como cidadãos é longo e constante. Obriga-nos a forjar a nossa história, pessoal e coletiva, numa base diária. A participação plena somente pode ser verdadeiramente atingida dentro de uma sociedade inclusiva, na qual cada um de nós e, ao mesmo tempo, todos juntos sejamos considerados parte integral do comum, da comunidade que, por sua vez, é responsabilidade do conjunto de seus membros. No entanto, para alcançar esta "sociedade ideal", constante vigília é necessária.
Nossa existência e nossas vidas, nossa luta permanente por aceitação e reconhecimento são um testemunho de resistência contra a exclusão. Afinal, ainda estamos aqui, após milênios de discriminação, marginalização e até mesmo eliminação de indivíduos com deficiência da face da Terra, através de iniciativas racistas e eugênicas. Porém, o ser humano resiste e sobrevive porque é uma forma de vida feita para esse fim...
É justamente porque nós, pessoas com deficiências, nossos familiares e nossos aliados em todo o mundo, temos enfrentado historicamente discriminação e exclusão, somos sem sombra de dúvidas o grupo de seres humanos mais preparado para discutir e propagar os conceitos de diversidade e inclusão.
É nosso papel, nossa vez de oferecer nosso testemunho, nosso conhecimento, nossa sabedoria à sociedade, neste preciso momento em que - embora ainda não percebido por muitos - chegou a hora de avançar. Já possuímos o sentimento, o conceito, a compreensão, o discurso para explicar o que uma sociedade inclusiva significa. É chegada a hora de incorporar estes conceitos em nossas vidas, atitudes e ações. Somente assim podemos verdadeiramente ajudar a abrir as mentes e os corações, na direção de uma sociedade para todos. Temos esta responsabilidade enorme e não temos o direito de falhar.
Fonte: s.n.t.
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