Blog do André Luís Rian, rapaz autista que quer conversar com você sobre os problemas soluções do autismo...
sábado, 17 de julho de 2010
ANJOS DE BARRO II
silvania mendonça almeida margarida
Encontram-se um dia,
nos peregrinos momentos de outubro,
uma mãe, um filho, uma pérola,
uma lágrima e uma estrela.
Em latejos de emoção
Falou ufana a mãe,
Carregando o filho amado,
e os belos presentes ao lado:
Filho, dou a você a pérola,
na prova do meu amor;
dou-lhe a estrela cadente
para servir-lhe de guia;
Dou-lhe a lágrima,
trêmula, singela,
para o mapa do caminho...
Falou-lhe a estrela, bela,
diáfana e triunfante:
Desci das plagas celestes
sou bela e a mais alta do céu!
Trago a amplidão nos meus raios.
levo luzes firmes aos campos,
sou a criação deslumbrante,
do universo sideral...
Entre o céu e a terra
teço o brilho poderoso
E não tenho no piso do céu
os frios barros da terra...
Lá de cima, bem lá em cima,
ilumino este torrão...
E a pérola vaidosa e bela
retruca com precisão
na disputa dos valores:
Entre o céu e a terra,
- não passa de um resplendor!
Seu brilho perde o talento
na poeira do infinito...
A pérola garbosa argumenta ainda:
Vim dos mares e oceanos,
das profundezas do mar,
das correntezas imersas,
das ondas gigantes e belas
que surfei com garbo e fé.
Fui feita para brilhar
no colo de formosas rainhas,
e nas coroas dos soberanos,
com reflexos siderais...
Por ser o dono da pérola,
fama e glória levará!
Pequenina como sou
valho mais que mil estrelas,
Sou como a gota brilhante
da jóia mais preciosa,
não como os barros da terra...
Ponderou com mágoa a lágrima
-- No primado da emoção:
-- nasci do orvalho dos olhos,
rolei no leito das rugas,
e na face perfumada...
Não vivo no brilho da estrela,
ou no horizonte distante,
sou presença, força e fé
nas olheiras do universo.
Bailo no riso da brisa,
e no alívio da dor.
No desabafo do triste,
sou o antídoto, curador.
Procuro o espírito do mundo
Rolada, fria ou ousada,
escondo nas entranhas do riso,
ou na trilha vertical
.....................................................
Passaram-se os anos...
Mãe e filho se encontraram.
na estrela da manhã, um dia:
Com a pérola brilhante e fria
e com o sal que a lágrima trazia.
-- Estrela, indaga a mãe:
onde ficou o seu talento,
veja meu filho pequenino,
balançar seu corpo franzino,
na concha triste e vazia?
A estrela se escondeu na nuvem...
Seu brilho empalideceu...
No disfarce da jóia rara,
a pérola se emudeceu...
Desceu às profundezas dos mares,
contida no transe seu...
A lágrima, serena e mansa,
num gesto de extrema ternura,
encontrou no canto dos olhos,
o abrigo conhecido...
a cobrança cobiçada...
-- Meu filho é um anjo de barro, que toca bem o chão.
Sentado, corpinho torto, sem saber a razão...
A lágrima enternecida,
colou-se aos olhos solícitos
e na fala mais sentida,
embrulhou o presente seu:
-- Seu filho, Mãe, um Anjo de Barro,
é eterno e singular
Será, um dia, um estribilho,
na página universal.
Recolherá as avencas e as rosas do caminho,
regadas pelos seus olhos,
no seu trajeto de amor...
A mãe se calou, e a lágrima sorria...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário