quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

PAI ESPECIAL



"MÃE,
escrevo-lhe,
sorrateiramente, para me ajudar a pensar...


Não falo muito, pois tenho aquela fama de sizudo,
de sério; extrapolar meu jeito, seria um trejeito,
seria um perigo, para minha expressão de fortaleza.


Mas é hora de decisão.
É hora de pensar. É hora de agir.
O tempo está lá e é meu inimigo,
ou seria amigo corrigindo outras paragens?''


"Sou pai, amo meus filhos
Mas que temos feito desde então?
perguntam o que estão ao meu redor.


E ainda, mãe, reflito:

Não estaria você, querido amigo,
meio a turbilhões de pensamentos,
um pouco afoito?


As invovações pedagógicas e psicológicas,
e as diversas opções de melhora têm sido,
com você, companhias neste processo de dor.


''Não se esqueça da mãe do seu filho."
Eles dizem.


"Isto não responde às minhas indagações:


"Mas por que ter um filho deficiente?
Por que ser e situar-se como pai
de uma criança que está especial?
E você, mãe, em silêncio,
fica fechada e silenciosa.
Não contra-argumenta
os meus lamentos.
Não sugere o meu choro,
não sugere melancolia."
Por quê?


Nada me diz que você irá mudar,
irá ficar depressiva.
Você tinha este direito ou não quer!!??


Eu fico depressivo.
E carregado de metáforas e vocábulos
na minha poesia funesta, digo:
Você, mãe, é sempre estranha, é muito tranqüila.


''As vezes, me incomoda este seu jeito de ser.
Você não tinha que sofrer?''


Tranqüilamente você me diz:


"Que nada!! Tudo passa!!
Estamos felizes por que temos que ser felizes!!
Longe de mim, querer ser diferente"


E ainda, para melhor e minha inspiração:


Quantas vezes, ele,
o meu pequerrucho
abriu a boca para dizer,
o quê?
o silêncio trêmulo
do momento do encontro;
falar para quê
na verdade,
ele nunca disse nada.


Seria eu também
o pai de uma criança celestial?
sou anormal?ele é angelical?
ele está especial?
Quanta confusão!!! Meu Deus!!

Poderia dizer, sem medo de ser feliz,
não gosto do nada especial!!
Gosto do comum, da rotina, do dia-a-dia,
chupar laranja com casca e bagaço.
para ter dor de barriga.
Não cheguemos a tanto,
saio do desvario
a sensatez me avisa.


Pensar em Bueno de Rivera
me faz chorar.


Ele dizia assim:
"Fecho os braços e nada,
estendo as mãos: ninguém.
Não é anjo ou espectro
nem é corpo, é a luz
me chamando: filho"


Eu completo assim:
''Mamãe sempre"
''Papai a cada instante."


Sim, estou especial,
não por ser especialíssimo em algo.
Pelo contrário,
a polivalência e o lato sensu fazem
parte da minha vida.
A divisão de departamentos, dos meus valores.


MÃE,
estaria nosso filho em delírio?
ou ele é Beleza Mortal e Infinita?
no entanto,
arranca dos meus caules mais ocultos
os sentimentos mais exasperados...


MÃE,
Seria ele um lírio de versos,
verdades filosóficas
de um passado distante?
por que tão deficiente?
sem estatuto para a normalidade?
o vazio que paira acima de tudo?
além do tudo e é eterno?


PAI,
Na seara do Pai-Deus
Não existe deficiência
Existe realeza da diferença
de si mesmo.
Há escolas, há artistas
há formas,
sem formadas formas,
nem praxes, nem estatutos
para o que faz o Beija-Flor.


PAI,
A arte é azul.
Imortal, Infinita,
Cada pessoa vale por si mesmo,
Isto é deficiência?
Ou benemerência,
de Quem muito nos quer bem?
Quando pensar em Bueno de Rivera.
Separe caminhos:
Poesias e poesias não fazem único poeta.


PAI.
O mesmo Bueno de Rivera
disse:
"Meu irmão, olha o céu
O arco-íris da aurora
surge através do pranto...
Sobre os homens futuros
A alvura da fé, a voz dos poetas."
e diga ao seu filho sempre,
que o fará feliz:
"Sou especial porque estou PAI de você."

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