terça-feira, 26 de janeiro de 2010

ESPECIAL NA PALMA DO CORAÇÃO


Belo Horizonte, nova década, janeiro de 2010...

Amor de palha na palma do seu coração. Seria este o título da minha carta?

Não me lembro dos nomes dos meus pais. Fui adotado pelo Governo brasileiro. Mas também pais, pais de verdade, são aqueles que sorriem para nós filhos, nas lareiras dos nossos corações. Sei apenas que não puderam cuidar de mim.

Há muitas histórias parecidas com a minha e que me fazem pensar e repensar que um dia poderei estar em um ambiente familiar, com pais que possam sorrir para mim. O sorriso é tudo que queremos nas nossas vidas, um sorriso de luz. Há muitos companheiros como eu. Por enquanto, estou num orfanato especial à espera de pais sorridentes.

Fico a maior parte do tempo deitado. Como a maioria dos meus amigos, não falo, não ando, escuto mal e meus olhos arregalados somente vêem as paredes nuas frente ao meu berço. Os meus olhos passeiam por todos os cantos que consigo enxergar e conhecem de cor todos os detalhes desse universo. Procuro me distrair com cores, cheiros e ruídos. Também gosto muito de brincar de silêncio. Quando oram para mim e falam no nome do Menino Jesus, eu me encanto e fico imaginando se Ele é como eu, ou se está dentro de mim. Quisera saber, mas a confusão mental não me deixa raciocinar os meus diletos pensamentos. Por isto brinco com todos os silêncios musicais que posso permear no meu íntimo.

Dizer que quando o Menino Deus tira uma coisa, dá outra, consigo explicar. Talvez, seja por isto que Ele me alegra muito, principalmente quando Alguém me acaricia. O olhar de ternura e sua mão quentinha sobre minha pele, não mais parece uma suave pena a me roçar. É tão gostoso que chego a pensar que posso voar.

Como a maioria dos meus irmãos, também não sei escrever. Temos os pés e mãos tortos, algumas cabeças são fora do normal, como também os nossos corações quando recebemos um carinho. Importar-se, envolver-se conosco é a nossa maior dádiva. Mas algo me diz, que no ânimo do nosso ser e no âmago do coração não somos diferentes.

Eu também tenho um coração que bate e pulsa, estimula o meu corpinho torto, às vezes, até se mexer com muita dificuldade. Pode ser que tenhamos muitas diferenças, mas elas não são duradouras. Haja vista, que temos um dia de nascer e um dia para morrer. E ninguém pode fazer nada para evitar isto. Portanto, somos semelhantes.

É no calor dos momentos felizes que me abasteço. Visto-me com suas vestes e me alimento com a sua bondade... O seu amor por mim e pelos meus amigos não é de palha na palma do coração... Por tudo isso, eu posso dizer que eu amo... e que meu tempo vale ouro...um tesouro a descobrir...

Pedi uma pessoa para escrever esta carta. Seria tão bom que ela fosse divulgada. Contaram-me que existe uma rede de computadores, chamada Internet, que busca a construção do amor por intermédio das poesias.

Há um outro porém...como não falo, esta pessoa interpretou minhas palavras pelos meus olhos arregalados...Depois se assentou, escreveu o que eu sentia, leu a carta para mim e na minha confusão dei gritos de felicidade...

Como eu tenho a agenda sempre vazia, eu tenho o desejo de me encontrar...Peço aos poetas que divulguem esta minha carta de amor.
Não se esqueçam da rede de computadores...E todos irão me ler e me visitar.

Eu sei que sou excepcional no sentido da palavra, sou um ser especial!!! No sentido da palavra...

De todo o coração, meu muito obrigado.

Cordialmente

Eu....

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Divulgue este blog sobre o autismo

Divulgue este blog sobre o autismo

Oficinas e Materiais