quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

ANJOS DE BARRO


Encontraram-se um dia,
nos peregrinos momentos de outubro,
uma mãe, um filho, uma pérola,
uma lágrima e uma estrela.

Falou ufana a mãe,
Carregando consigo o filho amado,
e singelos presentes ao lado:
"Filho, dou a você a pérola,

na prova do meu amor,
dou a você a estrela,
na busca do seu louvor.
Conheça a lágrima,
trêmula, queda e silenciosa,
de agradecimento ao Senhor"!

Falou a estrela, bela,
diáfana e brilhante:
"Desci das alturas luminosas
sou muito bela,
a mais alta lá do céu.
Trago toda a amplidão e não tenho
receio de acreditar na eternidade.
Acendo o firmamento,
levo luzes firmes ao vento,
sou a criação deslumbrante,
do universal, da glória, da divindade."

"Entre o céu e a terra
brilho poderosa.
E não tenho nos pés do céu
os feios barros da terra"...

Estou lá em cima,
Bem lá em cima,
E com louvor
Iluminarei o seu chão...

E a pérola interveio,
Vaidosa e aflita:
"Entre o céu e a terra,
não passa de grão do resplendor
não iluminará o suficiente
na poeira do infinito".

"Eu, sim, tenho imenso valor.
Vim dos mares e oceanos,
das profundezas dos rios,
das correntezas discretas,
das naturezas encantadas.
Iluminarei o seu amor,
sem pompa e estardalhaço.
Brilho no colos de rainhas
nos soberanos, nas suas
coroas reais,
sempre,
com reflexos siderais.
E você será conhecido,
por ser o dono da pérola.
Sua mãe agradecida,
pisará firme no futuro,
da sua terra e espaço.

Sou pequenina,
mas valho mais que a estrela,
sou como a gota d'água,
E não tenho nos pés da água
os feios barros da terra"...

Retrucou a lágrima com mágoa:
"Nenhuma de vocês possui o encanto,
dos orvalhos perfumados,
dos braços da alvorada
que cobrem radiante
rosas e flores ditosas.

Eu sim,
não vivo em ostentação de luxo,
e na vibração do firmamento.
Mas conheço as misérias,
Sou profunda,
sem ser efêmera.
Bailo no riso da alegria,
e procuro o alívio da dor.
Sou perdão de crimes.
Nasci do sublime dom do amor.

Eu sim,
procuro atender a todos,
Do justo ao pecador
Do servo ao rei
Ser...
No coração de um filho, relíquia.
E no coração de uma mãe, saudade....

Procuro o espírito do mundo
Rolada, fria e ousada.
Embora torrencial no coração,
sou tão pequena e redimida,
que não conheço
os feios barros da terra"...

Passaram-se os anos,
Mãe e filho se encontraram.
Na estrela da manhã e da madrugada.
Na pérola sem tamanha glória.
Na lágrima que abre, no momento preciso,
todas as cortinas da vida...

No entanto, a lenda conta que a mãe indagou
à estrela que não soube responder:

"Estrela, quantos pecados já lavei,
você que mora na mansidão do céu,
é translúcida e brilhante,
ao ver o meu filho, humildemente,
balançar corpinho franzino,
serenamente,
na vastidão vazia?"

Dizem, que a estrela se escondeu na nuvem
e chorava arrependida...

No entanto, a lenda conta que a mãe indagou à pérola que não soube responder:

"Pérola, quando o paraíso se abrirá
na fala do meu filho amado.
Quando saberemos que ele possui o encanto, do destilar de beijos e ser até oração.
Quando saberá que tem uma paixão,
proteger os valores que lhe atenda os anseios? "

Dizem, que a pérola desceu às profundezas
dos mares e chorava também.

No entanto, a lenda conta que a mãe indagou à lágrima que soube responder:

"Lágrima, você que traz as bênçãos do Senhor,
que se diz celeste e ingênua,
catalisadora e mansa.
Por que não tenho você nos meus olhos?
E não a vejo também nos olhos do meu filho amado.
O que vejo é diferente.
São olhos vazios, a buscar o infinito, mas sem nenhuma emoção."

"Meu filho é um anjo de barro, que toca bem o chão.
Sentado, num canto, corpinho torto, sem eu saber a razão."


Dizem, que a lágrima se calou ressentida,
na lembrança daqueles anos.
E respondeu:

"Embora seu filho, Mãe, seja um Anjo de Barro,
é uma alma de ternura e harmonia,
é lembrança no seu coração cansado,
mas a ampliar, navegando alegrias.

Será um dia, um anjo do céu,
Um estribilho na vibração do amor,
Um estribilho na lira dos poetas."


A mãe se calou e a lágrima sorria...




Silvania Margarida - 2002

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