Através da observação do desenho da criança, podemos
obter dados sobre o seu desenvolvimento geral, assim como levantar hipóteses de
comprometimento afetivo-emocional, intelectual, perceptivo e motor em suas
múltiplas interferências.
A expressão gráfica é uma manifestaçào da totalidade
cognitiva e afetiva. Quanto mais a criança confia em sí e no meio, mais ela se
arrisca a criar e a se envolver com o que faz.
A criança segura, consegue concentrar nas atividades
porque ameaças internas ou externas não a pressionam demais. Consegue de
soltar, acreditar no que faz e se identificar com suas representações. Não há
treino ou exercício de coordenação motora que leve a criança a se expressar
criativamente através do desenho.
PROCESSO DE EVOLUÇÃO DO DESENHO:
O começo da
auto-expressão gráfica – a etapa da garatuja. De 1 a 4 anos.
1.
A garatuja desordenada:
·
Aproximadamente de 1 a 2 anos;
·
Ainda não há consciência da relação
gesto-traço, e, portanto a criança muitas vezes não olha para o que faz;
·
Seu maior prazer está em explorar o
material, o corpo e o ambiente;
·
Faz inicialmente figuras abertas, ou seja,
linhas verticais ou horizontais, muitas vezes num movimento amplo de vaivém.
2.
A garatuja ordenada:
·
Aproximadamente a partir dos 2 anos,
·
A criança descobre a relação gesto-traço, e
se entusiasma muito.
·
Passa
a olhar o que faz, começa a controlar o tamanho, a forma e a localização
dos desenhos no papel.
·
Varia as cores intencionalmente.
·
Começa a fechar suas figuras através de
formas circulares ou espiraladas.
·
Descobre relações entre o que desenhou e a
realidade.
3. A garatuja nomeada:
·
Aproximadamente a partir dos 3 anos, faz a passagem do pensamento cinestésico,
motor, ao imagético, frente ao desenho;
·
Passa mais tempo desenhando;
·
Distribui melhor os traços no papel;
·
Descreve verbalmente o que fez e começa a anunciar o que vai fazer;
·
Relaciona o que desenha ao que viu ou vê, sendo que o significado do seu
desenho é só inteligível para ela mesma;
·
Alguns movimentos circulares associados a verticais começam a dar forma a uma
figura humana ( esquema céfalo-caudal).
A afirmação da representação gráfica – A fase
pré-esquemática. Dos 4 aos 6 anos.
·
A consciência da analogia entre a forma
desenhada e o objeto representado se afirma.
·
Maior organização de seus desenhos devido
combinação de formas circulares e longitudinais, formando figuras
reconhecíveis;
·
A representação da figura humana evolui em
complexidade e organização, seguindo dois eixos principais: um vertical (
céfalo-caudal) e depois um horizontal ( próximo-distal);
·
Elaboração cada vez maior da cabeça e do
corpo;
·
Ainda não é capaz de organizar uma
representação gráfica formando um todo coerente;
·
Quanto mais caminha para o período
operatório, mais organiza seus desenhos de forma coerente e objetiva, o desenho
vai perdendo o caráter mágico e anímico que caracteriza o período
pré-operatório.
DO RITMO SENSÓRIO-MOTOR AO SÍMBOLO, DO SÍMBOLO A PROGRESSIVA
COMPREENSÃO DA TOTALIDADE OPERATÓRIA, A EVOLUÇÃO DO DESENHO MANIFESTA O
PROCESSO DE ESTRUTURAÇÃO MENTAL.
ALGUMAS
OBSERVAÇÕES SOBRE O DESENHO DA FIGURA HUMANA:
“Piaget
enfatiza, ao analisar o simbolismo inconsciente, segundo o qual os conteúdos e
os processos inconscientes não seriam apenas patrimônio da vida emocional, mas
que a maior parte da atividade cognitiva é também inconsciente e, na amioria
dos casos, só nos damos conta dos resultados de tais processos. Portanto, será
impossível na representação de uma figura separar um simbolismo afetivo de um
simbolismo cognitivo, toda vez que os traços empregados se acham integrados em
esquemas que, por sua vez, constituem-se pela coordenação dos esquemas mais
simples provenientes da própria atividade do sujeito sobre os objetos.”
Sara Pain
“A
imagem do corpo humano é a representação que nós formamos mentalmente de nosso
corpo, e isso através de sensações múltiplas que encontram sua unidade através
da experiência imediata do esquema corporal.”
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