bhz, 11 de fevereiro de 2012.
O autista não consegue
escrever disse seu pai
escrever disse seu pai
Se ele soubesse,
talvez pudesse
se comunicar conosco
talvez pudesse
se comunicar conosco
Escreveria, mesmo sem
falar frases completas
falar frases completas
Usaria lápis e giz de cera
em todos os seus dias de sol...
O meu filho autista
não consegue escrever,
entabulou seu pai
Seria tão diferente
se ele pudesse ter sua letra
Fico a imaginar e até a sonhar
Como seria interessante
se sua escrita fosse constante
Escreveria pequenos poemas
de pais e mães
de pais e mães
Colocaria cores em suas
gravuras e rabiscos
gravuras e rabiscos
Mediria as margens do caderno e
faria matrículas em
todas as escolas
todas as escolas
que se negam em acreditar
do que ele seja capaz
do que ele seja capaz
O pai proclamou:
Como seria bom
Se ele soubesse
escrever emoções
escrever emoções
Diria ao vento que
tudo está frio
tudo está frio
E que ele deixasse
quieto o papel
quieto o papel
Diria aos acasos
que fossem cadentes
que fossem cadentes
E os pintaria de cores
amarelas luminosas
amarelas luminosas
O pai do autista afirmou:
Desenharia gravatas
e ternos em dias executivos
e ternos em dias executivos
Remodelaria
os desenhos antigos
os desenhos antigos
E faria novos gols
em todas as traves do campo verde
em todas as traves do campo verde
Verificaria se o time venceu
E escreveria: "Campeão"
nos seus cadernos de aula
nos seus cadernos de aula
E o pai do autista declarou mais:
Saberia pintar as paisagens do mundo
Colocaria para as gentes o seu pensamento
E saberíamos que ele sabe de tudo
o que se passa ao seu
redor
Tudo o que quer saber e finge não temer
Ele é inteligente entre dois mundos
Ele é meigo entre dois espaços
Ele é autista entre o lápis e o papel
E o pai findou sua conversa:
Como seria bom se ele escrevesse
Uma palavra, uma frase, uma letra,
E fosse copilando as suas estrelas
Que mostrasse ao mundo
a sua passagem
Pelas estações do ano...
“Aprender com as primaveras
A deixar-se cortar e
voltar
Sempre inteiro”
E escrever ao pai em
letras garrafais:
"conseguiram me alfabetizar e
me mostrar como se escreve “grande”"
"Amo você, amo você para sempre, meu pai!"
E o pai sussurrou cabisbaixo:
"Quem sabe um dia, quem sabe!
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