terça-feira, 30 de agosto de 2011

HOMENAGEM A NILTON SALVADOR: INCLUSÃO E DEFICIÊNCIA



• Nilton Salvador
• 05.07.2005


Muito se fala em inclusão social. Muitas reuniões tidas como conversas de altas rodas, discutem a inclusão social até com certa autoridade, quando na realidade nem sabem do que estão falando.
Inclusão social é uma opção política pela construção de uma sociedade mais digna, justa e igualitária, mesmo que em sonhos, pois que garantiria o acesso e plena participação no espaço social da comunidade sem distinção.
Como se pode conseguir atingir estes simples objetivos, se o que mais vemos são as mais elementares condições de vida não serem reconhecidas, e normalmente desrespeitadas tanto pela ignorância quanto pelo abuso de alguns que sequer sabem o que é poder.
Quantas vezes nos defrontamos com situações das mais entristecedoras, e sofremos por saber que aqueles indicados pelo poder público principalmente, não tem a menor sensibilidade de trabalhar com a diversidade e que esta é um valor em si mesma, por ser uma fonte de enriquecimento e fortalecimento em cada grupo social por mais diferenciado que seja.
Como é dolorido ver que o contexto da diversidade implica a existência de um conjunto de necessidades, principalmente para os portadores de necessidades especiais; que cabe ao poder público ajustar, e que tão somente através da atenção e de condições diferenciadas se pode obter igualdade de oportunidades.
Muito se fala em inclusão social, repito, mas não sai uma palavra para enfatizar que para que ela possa ser alcançada, depende do desmonte da cartilha de venda de criação de dificuldades, para a construção de contextos e de práticas sociais de facilidades, ou seja: que respondam ao conjunto das necessidades existentes em cada comunidade.
Sociedade inclusiva não deveria ser novidade para ninguém, afinal de contas, até a nossa Constituição optou por ela.
Pode ser um choro isolado.
- Olha aqui, quem sabe você está defendo alguém de barriga cheia?
- Não.
Muito já se fez, mas pouco se faz para se manter um valor que deveria ser intrínseco na educação de cada um, e o que se faz acontece por uso da força de leis que garantem a defesa de alguns cidadãos deficientes, mais esclarecidos.
Seria muito estranho ouvir de um desabilitado que ele é igual a qualquer cidadão.
- Não, não!
- Ele é melhor ainda do que qualquer cidadão, porque ele tem lei que lhe dá acessibilidade em edifícios públicos e privados, transporte público, no mercado de trabalho, estudar na rede regular de ensino e mais, junto com os demais cidadãos, atendimento prioritário na rede de saúde, e etc.
- No etc. é que mora o perigo.
Para serem atendidos e respeitados em suas peculiaridades e individualidade, tem que dominar o conhecimento das leis que os protegem e usa-las como se fosse uma medida de força.
E aqueles desabilitados que a natureza não lhes permitiu se pronunciar?

Pode-se citar como exemplo, que não basta matricular um aluno com deficiência numa classe regular para que ela se torne inclusiva.
Uma escola somente será inclusiva quando sua prática pedagógica der conta de constatar, reconhecer e responder às necessidades de cada um e de todos os seus alunos, inclusive daqueles com deficiência, física ou não.
Muito embora a legislação lhes garanta amparo, são dependentes dos seus dedicados cuidadores, pois na prática ainda vivem segregados e excluídos.
- Não, não estamos chorando de barriga cheia. Muitos avanços já foram conseguidos, mas há também que se desvelarem às contradições e barreiras ainda existentes.
- Só a educação... Somente assim é que vemos o país entre seu discurso e sua prática social. Não é fácil para qualquer mandatário, o desgaste que esta opção foi, leva e continua a ser muito grande, mas o que é a vida se não uma busca por realizações.
Temos consciência que cada caso é um caso, não podemos generalizar as pessoas, cada uma tem suas características, mesmo nossos filhos têm seu jeito de ser, é preciso que nós tenhamos em mente que quanto mais cedo viabilizemos meios para que eles aprendam, tenham contato com técnicas, terapias, estaremos contribuindo para que o seu cérebro, por meio da neuroplasticidade, possa reagir encontrar novos caminhos para se adaptarem ao meio.
Por fim, confiar que Deus nos abençoe nesta missão: que é educar com amor, pois eles precisam e merecem muito serem amados, são pessoas mais que especiais, nos dão muita garra e vontade de viver, hoje mais do que antes, pois temos vontade de lutar pela inclusão dos que vivem sob o descaso e abandono das autoridades de saúde e educação.
Lembro-me de uma oração que diz mais ou menos assim: somos passageiros deste mundo e não estamos aqui apenas para buscar, mas trazemos as mãos prontas para o trabalho, o coração cheio de amor para repartir, e a alma repleta de emoções que às vezes transbordam e me faz chorar.

Luz e Paz


*Nilton Salvador
Escreve sobre as deficiências humanas,
do ponto de vista: bio-psico-sócio-espiritual.
Correspondência para: autismo@click21.com.br

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