Silvania Mendonça
Almeida Margarida
Contam a história que a onça perspicaz e afoita,
sempre aquela que vencia todas as batalhas, pediu
ao gato que lhe ensinasse todos os tipos de pulos. O gato muito sabido e chamusca respondeu com
alegria que ensinaria à onça todos os
pulos. E foi o que fez. Vizinhos da
mesma floresta, do mesmo ambiente salutar, do mesmo espaço de divisão, tinha a vontade de dividir com todos quase todos os
seus conhecimentos. Mas tinha uma coisa em mente: cada ser é um ser individual,
uno, com um único espírito de aventura. Ninguém pode aprender tudo ao mesmo
tempo. Mas unir forças é diferente. Ninguém pode saber tudo ao mesmo tempo e
dizer que somente a sua opinião radical é válida. Radicalismo não cabe na
floresta que tem seus segredos escondidos e auferidos.
Na verdade, a floresta era uma grande ilha, ou
poderia ser um grande planalto. Dependeria do ponto vista. E cada um tem um
tipo de pulo, maior ou menor, do lado ou de esgueira. Depende do ser. E ninguém
pode impor ao outro o seu pensamento, a sua vontade. Na verdade, quando se fala
em arbitragem temos cinco condições para que a negociação dê certo, quais
sejam: comunicação, relacionamento, coletividade, ganhos mútuos e autoridade
limitada. Essa é a principal na negociação, pois ninguém tem o direito de dar
ordem e ofertar coercitivamente um pulo. Como um árbitro e professor, um mestre,
por assim dizer, empreendeu para a onça os seus pulos. Mas eram pulos de gato e
não de onça.
Mas com muita boa vontade, o curso se iniciou. Ensinou
a onça a subir em árvores, a caçar animais silvestres com o seu pulo cabriola,
ensinou a onça a andar nas florestas e matas e dar pulos sorrateiros. A onça
por onde passasse aprendeu a pular silenciosamente e a não discutir com as suas
presas. E somente dar pulos de onça para ganhar, movimentar e saborear a sua
vividez. E, garbosa, a onça se pintava
para terminar o curso e receber o diploma. O diploma “pulo da onça” era seu.
No dia do
recebimento do diploma comentou com o gato: Você me ensinou tudo, não? Mereço o
canudo, pois não? O gato sem pestanejar respondeu solícito: Claro, D. Onça, a senhora
receberá o diploma do “Pulo da Onça.”
Antes
de terminar a narrativa, vale a pena aqui, comentar sobre a educação e a inclusão. Direitos
fundamentais, garantidores, constitucionalizados para todos aqueles que têm o
Poder na Mão. Garantidos pela Constituição Federativa do Brasil, a Lei maior e
a Carta Magna, consequentemente, o Estado de Direito. Abranger o Estado Democrático de Direito e compreender que
pessoas autistas possam ter relações de
inclusão na educação. E, portanto, todos
os direitos subjetivos, tanto do lado ativo (poder de exigir o comportamento de
outrem), como do lado passivo (obrigação ao referido comportamento nessa
relação, como os dizeres do doutrinador Cretella Júnior (1997)
Assim, de acordo com os
ditames de Carlos Augusto Alcântara Machado (2004, p. 28): “Ao afirmar a
Constituição brasileira que é objetivo fundamental da República Federativa construir
uma sociedade livre, justa e solidária, constata-se, cristalinamente, o
reconhecimento de dimensões materializadas em três valores distintos, mas em
simbiose perfeita: a) Uma dimensão política: construir uma sociedade livre; b)
Uma dimensão social: construir uma sociedade justa; c) Uma dimensão fraternal:
construir uma sociedade solidária. Cada uma das três dimensões, ao encerrar
valores próprios, liberdade, igualdade e fraternidade,
instituem categorias constitucionais. (...).Uma sociedade fraterna é uma
sociedade sem preconceitos e pluralista. E esses valores estão presentes na
Constituição de 1988”.
Todos princípios
voltados aos Direitos Humanos e ao
Estado democrático de Direito comanda a razão de um fim. Se se envolvem nos
princípios fundamentais e em todos os valores deles sobrevindos. Há de se entender
que o autismo, a inclusão e a educação se reputam no Estado Democrático,
levando em conta que o autismo é algo que ainda está na floresta, nas matas do
silêncio, dos pulos que todos pais dão por seus filhos para estar inseridos no
verdadeiro Estado democrático de Direito. São listas, reuniões, redes sociais,
discussões ferrenhas, ajudas mútuas e compreensões. É este o sentido da
verdadeira inclusão. Um saber ilimitado que a cada instância merece um diploma
do nível que se atingiu. E como saber
qual a verdadeira inclusão a não ser com
a união?
Como aquele velho ditado: “a união faz a força”. A inclusão do autista está
para ser descoberta, incluindo aqui o processo de desenvolvimento que um
autista pode adquirir a cada dia, a cada momento, nos seus períodos de
aprendizagem. Não é de uma só vez, que todos os merecedores dos direitos
fundamentais podem aprender o pulo do gato. O processo das políticas vigentes aos
conceitos de igualdade entre as sociedades livres são inseridos no processo.
Insta obtemperar que é ainda muito difícil ter pleno estado democrático para
responder com presteza a questão problema levantada nesta narrativa: o pulo do
gato, a aprendizagem da onça e os interesses do autismo. O Estado de Direito
para ainda está sendo construído para os
autistas.
Não e não! A inclusão
ainda virá mais elitizada, a cada estágio de discussão que possa beneficiar o
autista e não ao orgulho ferido daquele que se sentiu contrariado com a falta
da própria inclusão. É difícil entender isso, Por tudo isso e muito mais, o
autismo é desprovido de preconceitos, pois o próprio autista o apresenta assim:
inocente, puro, inconstante. O autista não sabe o que é dinheiro, dribla as emoções
e necessita muito da educação especial, da real inserção do amor.
Nós, pais de autistas,
temos que ter sempre uma carta de amor na mão. Um “vale de inclusão” para
depois, para vencermos mais uma batalha. O Poder Público, o Estado em si, é
como a Onça que quer o seu diploma, para depois dar por encerrado a Política
Nacional de Atendimento ao Autista. E a Onça Estado dirá: já fiz a nossa parte e
já temos nosso diploma legal de número 1.631, reafirmado em 2011, já se
tornando lei.
Por falar em onça, a
narrativa termina assim. A Onça perguntou para o gato. “Vou receber meu diploma?” O gato
respondeu: “Pelo que você aprendeu, você merece”. Após receber o diploma a onça
preparou-se para exercer o seu papel circunstancial de diplomada em “pulos”. “Chegou
o momento de exercitar o meu pulo”, disse para o gato. Esse respondeu: “Tente”.
E, assim, a Onça
tentou abocanhar o gato como puladora
oficial e o gato deu um pulo para
trás, deixando a Onça sem entender porque não aprendeu tudo. A onça retrucou: “este pulo o senhor não me
ensinou? Por quê?”
“Precisa
responder? A senhora tem maldade, é maior do que eu e precisaria da minha
defesa. Meu passe tem sete vidas”.
Precisa comparar
o pulo do gato, o pulo da onça e o autismo? Necessário acrescentar algo? Acho
que não. Só lembrar aos leitores de que onças e gatos (metaforicamente
escrevendo, é claro), sociedade civil, principalmente, o autista, devem ter o seu estado de defesa na inclusão do
Poder Público e do Estado Democrático de Direito. O “o vale inclusão do autista”
também tem sete vidas.
Perfeito Silvana, parabéns
ResponderExcluirnosso carinho, Liê e Gabi autista.
Obrigada Liê. É aprendendo que escrevemos não? beijos no Gabi
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirParabéns pelo blog e por esse texto maravilhoso que fechou com chave de ouro essa frase:
ResponderExcluir“o vale inclusão do autista” também tem sete vidas."
Lu Lena (facebook)
E não é Lu Lena. Obrigada pelo carinho.
ResponderExcluirAbraços
Silvania