quinta-feira, 12 de julho de 2012

TÉCNICAS UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO DOS AUTISTAS



Daniele Centeno Lopes
Luiz Fernandes Pavelacki
RESUMO
Este artigo trata das técnicas utilizadas para educar os autistas, a metodologia usada para a
coleta de dados foi a pesquisa bibliográfica. Através da observação direta conclui-se que três
técnicas não são utilizadas: oração, história e passeio. Por outro lado as demais técnicas são
muito bem aplicadas pela professora. Os autistas são crianças que precisam de constante
auxílio, sua rotina diária deve ser sempre estruturada, pois qualquer mudança pode alterar seu
comportamento, durante as atividades não demonstram interesse, mas isso não quer dizer que
não tenham.
Palavras-chave: autistas; técnicas; auxílio; rotina; comportamento.
INTRODUÇÃO
O presente artigo apresenta as técnicas utilizadas na educação dos autistas. O
tema foi escolhido e delimitado através da pergunta de partida: Quais são as técnicas usadas
na educação dos autistas? A pergunta foi escolhida com o objetivo de investigar e entender o
trabalho dos professores que têm o papel de educar essas crianças portadoras de necessidades
especiais.
Para tratarmos do tema, foi feita exploração através de uma revisão da
literatura. Cada autor explorado trata o tema de uma forma diferente, mas todos voltados para
o aspecto educacional: Bautista comenta sobre o uso de drogas que em sua concepção deve
acompanhar o tratamento. Segundo o autor o autista enfrenta muita dificuldade na
aprendizagem e precisam de constante auxílio em sua vida. Szabo diz que a criança portadora
Acadêmica do Curso de Pedagogia – Supervisão Escolar da Universidade Luterana do Brasil –
Campus Guaíba
Professor da Disciplina de Metodologia Científica e Orientador deste trabalho – ULBRA/GUAÍBA
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de autismo tem grande preocupação com seu ambiente educativo que deve ser sempre o
mesmo, sem sofrer modificações, assim deve ser também com o educador para que aconteça a
adaptação da criança com ambiente em geral. Segundo Baptista, o autista apresenta
dificuldades na fala e quase não se comunica com os demais. Laboyer trás em seu texto as
dificuldades motoras que estas crianças especiais apresentam, o autista faz movimentos
rítmicos desorganizados, fazendo repetidamente o mesmo ato, que chamamos de estereotipia,
uma de suas principais características.
O texto da APAE, apresenta as propostas educacionais, ou seja, como se deve
educar um aluno autista. Este texto foi o referencial teórico escolhido para tratar a pergunta de
partida, diferente dos demais referenciais teóricos pois mostra as técnicas usadas na educação
dos autistas e como usá-las.
O desenvolvimento deste artigo será dividido em três seções: Explicitação do
referencial teórico, Hipótese e conceitos e Análise das informações.
1 EXPLICITAÇÃO DO REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Bereohff (1991), para educar uma criança autista, é preciso
levar em consideração a falta de interação com o grupo, comunicação precária, dificuldades
na fala e a mudança de comportamento que apresentam essas crianças.
Neste sentido a autora descreve que “é básico que a programação
psicopedagógica a ser traçada para estas crianças, esteja centrada em suas necessidades”
(BEREOHFF, 1991, s/pág).
A autora em questão diz que há várias técnicas de ensino para crianças com
autismo. Essas técnicas têm o objetivo de prevenir ou reduzir as deficiências primárias. Desta
forma:
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Educar uma criança autista é uma experiência que leva o professor a rever e
questionar suas idéias sobre desenvolvimento, educação normalidade e competência
profissional. Torna-se um desafio descrever um impacto dos primeiros contatos entre
este professor e estas crianças tão desconhecidas e na maioria das vezes
imprevisíveis (BEREOHFF, 1991, s/pág).
Além destas afirmações, algumas técnicas com base na Pedagogia Waldof apud
kügelgen, 1960; Lanz (1979, são essenciais na educação dos autistas:
Sabendo que o autista não se adapta ao mundo externo, é preciso que na escola
ele tenha uma rotina estruturada, que faz com que ele situe-se no espaço e tempo. O professor
também deve fazer parte dessa rotina, compreendendo que a mesma não é uma restrição a sua
criatividade.
Ravière apud Bereohff (1984, s/pág), explica que “esta relação põe à prova,
mais do que nenhuma outra, os recursos e as habilidades do professor”.
A valorização dos elementos da natureza como sol, a chuva, árvores, estimula
o autista a ter um contato e a percepção de seu meio.
A abordagem vivencial é outro fator importante na educação destas crianças
tão especiais, pois às vezes o trabalho verbal não é o suficiente, onde o contato físico com o
autista é de grande necessidade.
Outro recurso que quando usado no momento adequado e seu estilo estiver de
acordo trará bons resultados, é a utilização da música, as preferências são sempre para as
infantis (ciranda – cirandinha). A canção deve estar sempre de acordo com momentos
específicos, tais como a chegada, hora do lanche, higiene, para que a criança possa relacionar
a música com a atividade em andamento.
Além das técnicas, a rotina diária é muito importante na educação do autista, a
qual não deve ser alterada, qualquer mudança pode refletir no comportamento da criança.
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A importância do ensino estruturado é ressaltado por Eric Schopler in
Gauderer, 1993, no método TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças
com Deficiências relacionadas à Comunicação), quando afirma:
É bom ter em mente, que normalmente as crianças à medida que vão se
desenvolvendo, vão aprendendo a estruturar seu ambiente, enquanto que os autistas e
com distúrbios difusos do desenvolvimento precisam de uma estrutura externa para
otimizar uma situação de aprendizagem (s/pág).
Estes cuidados permitirão um maior sentimento de pertinência e de
previsibilidade quanto ao espaço físico. A sala deve ter um tamanho que permita a
realização de atividades de mesa, individuais e em grupos, contando também com
alguns colchonetes e almofadas (SCHOPLER, 1993, s/pág).
Além disso o educador deve basear seu relacionamento com seu aluno em um
conhecimento o mais abrangente da síndrome do Autismo, das características da criança e de
técnicas atualizadas de ensino.
Entrada: este momento deve ser relatado para o aluno, que já passou,
trabalhando informalmente o aspecto temporal.
Oração: o educador estimulará o grupo a realizar junto com ele um momento
de agradecimentos, dando início aos trabalhos.
Deve ser valorizado cada momento de fala da criança, assim o professor fará
com que o aluno sinta liberdade de expressar-se não só na oração, mas em qualquer outra
situação.
História: é necessário que seja contada diariamente, aparecendo fatos reais ou
de fantasia situando o aluno dentro do contexto. O conto vai sendo desenhado no quadro com
giz colorido, expondo a realidade do aluno em casa, rotina escolar, apontando objetos e
pessoas que o rodeiam.
Tarefa: esta é dedicada às atividades dirigidas, sendo elas em mesa, individual
ou em grupos, de acordo com os objetivos traçados para cada criança.
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Objetivos são traçados a partir do PIE (Planejamento Individual de Ensino),
que para sua elaboração são seguidos os seguintes passos:
- a observação do autista em situações livres e dirigidas;
- a seleção dos objetivos orienta-se pela gradação das dificuldades dos
alunos;
- O PIE deve ser reformulado a cada ano, permitindo reavaliação dos
objetivos e conseqüentemente a evolução dos alunos.
Para que os objetivos sejam alcançados, Schopler (1993), ressalta que “merece
cuidado a preparação do ambiente por parte do educador, ou seja: material pedagógico
previamente separado, disposição de carteiras, etc.” (s/pág)
Higiene: esta atividade promove maior independência como lavar as mãos,
escovar os dentes, tomar banho, vestir-se, despir-se sozinhos. Estes são trabalhados em
momentos específicos dentro do contexto escolar.
Lanche: segundo Schopler (1993), esta é uma situação que prioriza somente a
alimentação, mas também permite que um tenha respeito pelo lanche do outro, bem como
compartilhá-lo em determinadas situações.
Na hora do lanche o aluno é estimulado a preparar a sua mesa para comer,
manusear objetos (copo, prato, talheres). Esta atividade proporciona o desenvolvimento de
hábitos alimentares dentro do contexto escolar.
Recreio: este momento é muito importante dentro da rotina escolar, pois é a
hora da integração com as outras crianças da escola portadoras de necessidades especiais ou
não. Neste instante de liberdade o autista deve ser supervisionado à distância, acompanhando
se há ou não um momento de integração com os demais.
Passeio: este é realizado fora da escola. Levando em conta que o autista não é
sociável, o passeio oportuniza-o a vivenciar situações sociais nas quais a comunidade
participa direta ou indiretamente. De um lado, o autista aprende a conviver com a sociedade e
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de outro a sociedade aprende a compreender este indivíduo portador de necessidades
especiais.
Recreação supervisionada: é característica dos autistas apresentar movimentos
esteriotipados com o corpo repetidamente, esta atividade busca ampliar o repertório motor,
através de brincadeiras lúdicas, com regras fáceis e materiais diversos. Procura-se nesta hora
proporcionar ao grupo momentos de interação, sociabilização e lazer.
Saída: a rotina encerra com a professora estimulando o aluno organizar seu
material e a sala de aula.
Considerando a rotina diária descrita é fundamental a pontualidade do aluno à
escola, permitindo que ele participe de todas as etapas sem fugir de sua rotina e diminuindo a
possibilidade de crises comportamentais durante o período escolar.
É fundamental o educador não fugir à esta rotina, pois é indispensável para a
educação do autista. Isto se faz necessário, conforme a afirmação de Weihs (1971), que
destaca:
Se desejamos compreender e ajudar uma criança autista, devemos por um
lado, perceber que somos parte deste ambiente no qual esta criança tem que viver e
crescer e, por outro lado, tentar ver seu comportamento, desempenho, habilidades e
incapacidades em relação ao que é sempre perfeito nela, a vivência de sua própria
personalidade (s/pág).
A partir do momento que reconhecermos nossas dificuldades, fraquezas, e
deficiências um novo caminho se abrirá e é neste caminho que o educador começa a aprender
que ser portador de necessidades especiais não impede ninguém de viver por mais limitante
que esta pareça ser.
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2 HIPÓTESE E CONCEITOS
Há várias técnicas utilizadas na educação de autistas: rotina estruturada
(recepção do aluno, entrada, oração, história, tarefa, higiene, lanche, recreio, passeio,
recreação supervisionada, saída), valorização dos elementos, abordagem vivencial e música.
Os autistas são crianças que mudam de comportamento quando alguma coisa é
modificada em sua rotina diária. Esta rotina tem que estar focada em suas necessidades.
A memória do autista é voltada para o visual, se faz necessário que o educador
em suas técnicas, valorize este lado, fazendo com que o aluno observe cores, tamanhos,
espessuras, animais, pessoas... Por outro lado a sala de aula deve ter pouca estimulação visual
para que a criança não desvie sua atenção da atividade em andamento.
O ambiente educacional deve ser calmo e agradável, para que os movimentos
estereotipados dos alunos não alterem.
Para testar a hipótese foi observado na APAE (Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais), se os professores de crianças portadoras de autismo estão utilizando essas
técnicas em seus planos de aula. O instrumento de coleta de dados foi a observação direta.
Através da observação direta pude perceber que a professora utiliza em sua
prática educacional as seguintes técnicas:
- música;
- tarefa dirigida (atendimento individual);
- momento livre (o aluno escolhe sua atividade);
- abordagem vivencial (contato físico);
- recreação supervisionada;
- Higiene;
- Lanche;
- Recreio livre;
- Observação (de objetos, gravura...);
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- A sala de aula é dividida em três partes: momento pessoal, momento
individual e momento livre;
- Todas as atividades são voltadas para o estímulo visual.
Foi observado que um aluno além de ser portador de autismo, é deficiente
visual. A educadora encontra dificuldades para educar este aluno, devido a falta de recursos
(materiais pedagógicos), assim ela utiliza as mesmas técnicas já citadas, porém estimula a
audição e o tato.
3 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES
No período de 1º a 16 de junho, foi feita a observação direta, onde pude
perceber que o trabalho com os autistas é bem complexo devido a agitação deles.
A sala de aula é dividida em três partes:
- momento pessoal: esta é a parte onde cada aluno tem a sua estante de cores
diferentes (o aluno A tem a estante azul, o B tem a vermelha), neste local
encontram-se seus objetos pessoais como a escova dental, toalha, lanche,
material escolar. Cada aluno conhece sua cor e onde encontrar seus
utensílios.
- Momento individual: este é o espaço em que a professora trabalha
individualmente com cada aluno a tarefa dirigida, tentando suprir suas
necessidades. Enquanto a educadora atende uma criança, sua auxiliar cuida
dos demais com outra atividade, geralmente livre.
- Momento livre: neste local os alunos podem optar por uma atividade, ou
até mesmo ficar sem fazer nada.
Durante os dezesseis dias de observação algumas técnicas citadas na hipótese
não foram utilizadas, como a oração, história e o passeio.
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A recepção e a entrada era sempre calorosa, com diálogo, abraços e beijos. Os
alunos chegavam dispostos a ficarem, com exceção de um aluno que chorava e irritava-se
muito ao ver a mão sair.
A música (CD), nem sempre era uma boa opção, enquanto alguns alunos se
acalmavam, outros ficavam agitados, gritavam e seus movimentos estereotipados
aumentavam. A professora muitas vezes optava por cantar ao invés de colocar CD.
No momento da tarefa dirigida, as crianças ficavam concentradas no que a
professora falava. As atividades eram jogos de encaixe, alfabeto ilustrado, pinturas, formas
geométricas (blocos lógicos), tarefas onde os alunos pudessem diferenciar grosso e fino, liso e
áspero, grande e pequeno. Ao longo da semana as atividades repetiam-se para que pudessem
fixar o que foi trabalhado.
Durante o período livre os alunos optavam por não fazerem nada, ficavam
deitados nas almofadas.
A abordagem vivencial acontece deste o instante em que os alunos chegam na
escola até a hora da saída, pois são crianças extremamente dependentes e precisam de
constante auxílio.
A recreação supervisionada acontece duas vezes por semana, na atividade
física o que mais dificulta o trabalho é a estereotipia dos alunos, que são movimentos
característicos difíceis de serem controlados. No decorrer da recreação as crianças precisam
seguir algumas regras, o que os deixa revoltados aumentando os movimentos.
Quanto a higiene e o lanche, os alunos agem sozinhos, sabem o lugar de seus
objetos pessoais, fazem sua limpeza e alimentação independentes. Exceto dois alunos um que
é portador de deficiência visual e outro que tem cinco anos e não se locomove sozinho.
As crianças lancham no refeitório, todos têm uma alimentação saudável, alguns
levam o lanche, outros comem o que a escola oferece como pão, leite, bolacha, arroz, feijão.
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O recreio é livre com todas as outras crianças, também portadoras de
necessidades especiais. Este momento também é supervisionado, as auxiliares procuram
promover a integridade de todos, mas os autistas são pessoas que vivem no seu próprio
mundo e dificilmente integram-se com os demais.
A observação da natureza, dos objetos, das gravuras é constante. Os autistas
têm dificuldades na fala, por isso dificilmente se comunicam através do diálogo, o que a
professora pergunta, eles respondem através de gestos, mas conseguem diferenciar as cores,
objetos da sala, formas e algumas letras. Da turma de cinco alunos apenas um é alfabetizado.
A educadora é atenciosa e procura diversificar as atividades, a falta de
materiais pedagógicos às vezes dificulta o andamento do trabalho, além da diferença de idade
entre eles: cinco, seis, vinte e dois, vinte e oito e trinta anos. Todos são mentalmente crianças,
os alunos de cinco e seis anos têm personalidade de três anos, os demais têm a personalidade
de sete anos.
CONCLUSÃO
Ao término deste artigo, concluiu-se que o tema abordado e pesquisado através
da bibliografia e da observação direta confirma-se em partes, pois durante o período de
observação algumas técnicas nunca foram feitas pela professora a oração, história e o passeio,
enquanto as outras foram aplicadas diariamente com muita atenção, dedicação e paciência. A
divisão da sala de aula foi uma técnica não afirmada na hipótese, mas que tem grande
importância no trabalho educacional destas crianças tão especiais.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
APAE. Curso de Enfoque Multidisciplinar: sobre Deficiente Mental. Camaquã, S/A.
BAPTISTA, Cláudio Roberto. Autismo e Educação. Porto Alegre: Artmed, 2002.
BAUTISTA, Rafael. Necessidades Educativas Especiais. Portugal: Dina Livros, 1995.
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LABOYER, Marion. Autismo Infantil. 2.ed. [s.l.]: Papirus, 1995.
SZABO, Cleuza. Autismo um Mundo Estranho. São Paulo: Edicon, 19992.

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