segunda-feira, 2 de julho de 2012

SALADA DE FRUTAS E PAIS DE AUTISTA



silvania mendonça almeida margarida

Era dia de supermercado e de feira. Maria chegou aflita, mas com paciência. Subiu com as compras.  Morava no terceiro andar. Com muito cuidado, lavou as bananas e as maçãs. Bananas,  gostava de comprar ainda verdes, pois, elas iam amadurecendo de compasso em compasso. Maçãs, somente as nacionais. Laranjas e mexericas deveriam ser docinhas, com nomes bem exóticos das Minas Gerais: “laranja serra-d’água e  mexerica pokan”.  Mãe preocupada não tem tanta certeza dos nomes da família das laranjas, mas deixava por isto mesmo. O que é popular é conhecido e pronto! Não poderia deixar de comprar os kiwis, morangos, pêssegos, goiabas, uvas, dentre outras da coleção de frutas,  para alimentação de ser muito especial. Dieta que é dieta tem frutas em todos os cardápios. O moderno é ser light, diet, sem açúcares, com adoçantes e muitas frutas para degustar. O mel faz parte.
As frutas também escutam! Claro que ouvem e cantam! Ninguém ouve seu cantar, mas elas cantam! Não podemos esquecer que a natureza e o universo são eterna poesia, num cantar infinito da espiritualidade...pensou Maria!
 E é assim:

Hoje tem barulho no pomar
Solta o som e deixa rolar

O morango, a melancia, a goiaba e o abacaxi
A mexerica fofoqueira solta os bichos no kiwi
A uva e o melão só pensam em namorar
Enquanto a pêra e o mamão não param de dançar

A maça e a banana vestem roupa de menina
E chamam o abacate pra fazer a vitamina
O pêssego e a manga, o caju e o caqui
dançando com a laranja a dança do kiwi
E agora que vocês aprenderam a cantar 
O nome dessas frutas nós vamos perguntar
Brincando nessa festa com as frutas do pomar...
[1] 


Maria lavava as frutas e ia pensando:

 Pais de autista são como frutas. São doces e sinceros, responsáveis e aflitos, sem paciência e com paciência infinita. Escutam muito mais: sons dos pássaros e seus gorjeios, o balançar da flor de laranjeira ou da flor de pêssego,  frutas, raposas, uvas, méis,  almas suaves e passados distantes.

Pais de autista sentem o que seus filhos sentem.  Pode até existir um estresse crônico, uma desregulação emocional e uma carga de processamento de informações desencontradas, mas eles procuram sempre a educação acurada.  A gente vê e enxerga a luta pelas árvores frutíferas do pensamento de tais pais: escolas, terapias, navegação na Internet, Facebook, Grupo de estudos, cursos de pós-graduação, projetos de lei, políticas públicas, congressos, palestras e muito mais. Representantes no Congresso Nacional.

O que na verdade acontece com estes pais é verossímil. Vai além do ritmo sensorial, traçam uma personalidade natural. Aqueles com grande complexo "autismo saladas de frutas” vão além das capacidades. Nem é preciso enumerá-las, pensava Maria. 

O autismo saladas de frutas pode ter tendências e escalas de muitas características diferentes e difusas. São muitos problemas num comportamento só. Pais com mais luta de graves e grandes desafios vão gerenciar muitos níveis de autismo mais complexos. Fielmente, fixam na crença do caso concreto, não importando com rótulos ou diagnósticos.  O ritmo indelével é construir níveis de melhora acentuada e mais valia.  Para os resultados esperados investem o tempo, a vida, o humor, o trabalho, a poesia, o universo enfim. Tais atitudes paternas vão aumentar drasticamente a independência daqueles com alguns traços da personalidade de retirada,  em  Self,  consigo mesmo.  A dependência e a vida solitária vão diminuindo e  os filhos autistas são usados para encabular ambientes frequentados, para assumir então o seu correto self,  o seu verdadeiro eu, cheio de alegria e de momentos de inclusão social, diversidade e ação contínua da educação com a interação escolar.

Não há lesão auto-extrema, não há sensação de desamparo, porque pais de autista investidos superam todos os problemas. Constantemente, assumindo ou perseguindo a auto-ajuda, a possível cura, a possível dieta. Acreditam na cura do autismo pela nutrição. Não há uma sequer personalidade solitária. Com firmeza,  fazem ambientes e pessoas insípidos recuarem.

 Sim, existem diferentes autismos "salada de frutas”.  Cada ser é único no planeta. Cada autista é diferente do outro. E todos nós temos muito a aprender.  Aprendemos que é melhor quando falamos como representantes de nossas próprias realidades,  sem presumir que falar para todos com um rótulo comum.

E aí está o grande segredo do autismo “salada de frutas” para pais não negligentes.

Não há conflito que possa ocorrer no sujeito autista em função da incoerência entre os valores de suas representações primitivas de inserção no mundo da criatividade. Nesse mundo circundante pelos pais encontram-se raízes, num  sistema simbólico,  internalizadas pelo processo de socialização primária.  Suas representações mais recentes e concretas de participação real na reprodução da ordem social, oriundas de sistemas simbólicos internalizados,  por intermédio de socialização secundária se fazem presentes e arraigadas na crença da verdadeira instrução.

Pode-se afirmar que tais pais não mais são como locus de posse e domínio. Têm uma realidade vivencial compartilhada,  por todos em relações de reciprocidade e mutualidade.  O mais importante é a  aceitação da  transformação do filho autista, não a passos largos,  mas em passos infinitos, com finitude de determinadas funções, para a formação de novas tarefas. Filhos autistas independentes que passam a assumir outros papéis felizes.  Uma Família do futuro,  por mais que haja mudanças estruturais e papéis parentais, é imutável a necessidade da criança  autista  envolvida pelos  cuidados, afeto, proteção etc. no percurso da sua linda vida.  

E assim a salada de frutas, pensou Maria, nunca seria amarga e traventa!
O TELEFONE tocou.
Primmmmmmmmmmmmmmmm!
Primmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm!
- Maria, sou eu José!
- Oi José, tudo bem?
- Sim, peguei  André no colégio! O jantar já está pronto?
- Quase! Estou fazendo a sobremesa!
- E o que teremos na sobremesa?
- SALADA DE FRUTAS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!




Um comentário:

  1. Muito interessante a sua escrita livre de preconceito sobre o problema dos nossos filhos.
    Você usa a metáfora para divulgar o autismo. Fico feliz por nossos filhos. Beatriz Gouveia, Recife, PE

    ResponderExcluir

Divulgue este blog sobre o autismo

Divulgue este blog sobre o autismo

Oficinas e Materiais