silvania
mendonça almeida margarida
Era dia de supermercado e de feira. Maria
chegou aflita, mas com paciência. Subiu com as compras. Morava no terceiro andar. Com muito cuidado,
lavou as bananas e as maçãs. Bananas, gostava
de comprar ainda verdes, pois, elas iam amadurecendo de compasso em compasso.
Maçãs, somente as nacionais. Laranjas e mexericas deveriam ser docinhas, com
nomes bem exóticos das Minas Gerais: “laranja serra-d’água e mexerica pokan”. Mãe preocupada não tem tanta certeza dos
nomes da família das laranjas, mas deixava por isto mesmo. O que é popular é
conhecido e pronto! Não poderia deixar de comprar os kiwis, morangos, pêssegos, goiabas, uvas, dentre outras da coleção
de frutas, para alimentação de ser muito
especial. Dieta que é dieta tem frutas em todos os cardápios. O moderno é ser light, diet, sem açúcares, com adoçantes e muitas frutas para degustar. O
mel faz parte.
As frutas também escutam! Claro que ouvem e
cantam! Ninguém ouve seu cantar, mas elas cantam! Não podemos esquecer que a
natureza e o universo são eterna poesia, num cantar infinito da
espiritualidade...pensou Maria!
E é
assim:
“Hoje tem barulho no pomar
Solta o som e deixa rolar
O morango, a melancia, a goiaba e o abacaxi
A mexerica fofoqueira solta os bichos no kiwi
A uva e o melão só pensam em namorar
Enquanto a pêra e o mamão não param de dançar
A maça e a banana vestem roupa de menina
E chamam o abacate pra fazer a vitamina
O pêssego e a manga, o caju e o caqui
dançando com a laranja a dança do kiwi
O morango, a melancia, a goiaba e o abacaxi
A mexerica fofoqueira solta os bichos no kiwi
A uva e o melão só pensam em namorar
Enquanto a pêra e o mamão não param de dançar
A maça e a banana vestem roupa de menina
E chamam o abacate pra fazer a vitamina
O pêssego e a manga, o caju e o caqui
dançando com a laranja a dança do kiwi
E agora que vocês aprenderam a
cantar
O nome dessas frutas nós vamos perguntar
Brincando nessa festa com as frutas do pomar...”[1]
O nome dessas frutas nós vamos perguntar
Brincando nessa festa com as frutas do pomar...”[1]
Maria lavava as frutas e ia pensando:
Pais de autista são como frutas. São
doces e sinceros, responsáveis e aflitos, sem paciência e com paciência
infinita. Escutam muito mais: sons dos pássaros e seus gorjeios, o balançar da
flor de laranjeira ou da flor de pêssego, frutas, raposas,
uvas, méis, almas suaves e passados distantes.
Pais de autista sentem o que seus filhos
sentem. Pode até existir um estresse crônico, uma desregulação emocional e uma carga
de processamento de informações desencontradas, mas eles procuram sempre a educação acurada. A gente vê e enxerga a luta pelas árvores
frutíferas do pensamento de tais pais: escolas, terapias, navegação na
Internet, Facebook, Grupo de estudos, cursos de pós-graduação, projetos de lei,
políticas públicas, congressos, palestras e muito mais. Representantes no
Congresso Nacional.
O que
na verdade acontece com estes pais é verossímil. Vai além do ritmo sensorial, traçam
uma personalidade natural. Aqueles com grande complexo "autismo saladas de
frutas” vão além das capacidades. Nem é preciso enumerá-las, pensava
Maria.
O
autismo saladas de frutas pode ter tendências e escalas de muitas
características diferentes e difusas. São muitos problemas num comportamento
só. Pais com mais luta de graves e grandes desafios vão gerenciar muitos níveis
de autismo mais complexos. Fielmente, fixam na crença do caso concreto, não
importando com rótulos ou diagnósticos. O
ritmo indelével é construir níveis de melhora acentuada e mais valia. Para os resultados esperados investem o tempo,
a vida, o humor, o trabalho, a poesia, o universo enfim. Tais atitudes paternas
vão aumentar drasticamente a independência daqueles com alguns traços da
personalidade de retirada, em Self,
consigo mesmo. A dependência e a vida solitária vão
diminuindo e os filhos autistas são
usados para encabular ambientes frequentados, para assumir então o seu correto
self, o seu verdadeiro eu, cheio de
alegria e de momentos de inclusão social, diversidade e ação contínua da educação
com a interação escolar.
Não há
lesão auto-extrema, não há sensação de desamparo, porque pais de autista investidos
superam todos os problemas. Constantemente, assumindo ou perseguindo a
auto-ajuda, a possível cura, a possível dieta. Acreditam na cura do autismo
pela nutrição. Não há uma sequer personalidade solitária. Com firmeza, fazem ambientes e pessoas insípidos recuarem.
Sim,
existem diferentes autismos "salada de frutas”. Cada ser é único no planeta. Cada autista é
diferente do outro. E todos nós temos muito a aprender. Aprendemos
que é melhor quando falamos como representantes de nossas próprias realidades, sem presumir que falar para todos com um
rótulo comum.
E aí está o grande segredo do autismo “salada de frutas” para
pais não negligentes.
Não há conflito que possa ocorrer no
sujeito autista em função da incoerência entre os valores de suas
representações primitivas de inserção no mundo da criatividade. Nesse mundo
circundante pelos pais encontram-se raízes, num sistema simbólico, internalizadas pelo processo de socialização
primária. Suas representações mais
recentes e concretas de participação real na reprodução da ordem social,
oriundas de sistemas simbólicos internalizados, por intermédio de socialização secundária se
fazem presentes e arraigadas na crença da verdadeira instrução.
Pode-se afirmar que tais pais não mais são como
locus de posse e domínio. Têm uma realidade vivencial compartilhada, por todos em relações de reciprocidade e
mutualidade. O mais importante é a aceitação da transformação
do filho autista, não a passos
largos, mas em passos infinitos, com
finitude de determinadas funções, para a formação de novas tarefas. Filhos autistas
independentes que passam a assumir outros papéis felizes. Uma Família do futuro, por mais que haja mudanças estruturais e papéis
parentais, é imutável a necessidade da criança autista
envolvida pelos cuidados, afeto,
proteção etc. no percurso da sua linda vida.
E assim a salada de frutas, pensou Maria,
nunca seria amarga e traventa!
O TELEFONE tocou.
Primmmmmmmmmmmmmmmm!
Primmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm!
- Maria, sou eu José!
- Oi José, tudo bem?
- Sim, peguei André no colégio! O jantar já está pronto?
- Quase! Estou fazendo
a sobremesa!
- E o que teremos na
sobremesa?
- SALADA DE
FRUTAS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Muito interessante a sua escrita livre de preconceito sobre o problema dos nossos filhos.
ResponderExcluirVocê usa a metáfora para divulgar o autismo. Fico feliz por nossos filhos. Beatriz Gouveia, Recife, PE