silvania mendonça almeida margarida
O alfinete e a agulha, entabulando
uma conversa informal, mas muito importante sobre crianças, cogitavam a
importância da educação, no intervalo de um curso que frequentavam. Nossos
personagens cursavam o famoso Corte &
Costura, para serem artesãos de uma confecção de moda infantil. Era a hora mais sagrada para aqueles
entabuladores, lanche e uma boa hora
para a trocas de ideias. Exatamente, naquele dia, o alfinete estava tristonho e
dizia cabisbaixo: “eu não tenho o alicerce para a aprendizagem. Como disse MACHADO sobre mim, sou apenas a marcação
de mim mesmo na costura e não consigo segurar o pano em seus moldes perfeitos”.
A agulha argumentou: “Alfinete, faça-me
o favor. Não chore por você! Somente por você! Não seja egoísta! Chore por nós! Você acha que eu também tenho
o dom da aprendizagem? ASSIS foi claro em seus
dizeres: somente consigo costurar panos
frente qualquer linha ordinária. A Agulha e o Alfinete precisam da Linha para a
sobrevivência do Corte de Costura”.
O Alfinete mais pensativo
corroborou a mensagem da Agulha e disse mais contemplativo: “é, realmente,
precisamos da linha para a nossa sobrevivência, principalmente aquelas que são
mais tênues e delicadas”.
A Linha entrou na conversa: “Alfinete
e Agulha, vocês não deixam de ter razão, mas vou repetir para vocês EXATAMENTE,
onde devo investir se me quero descobrir como uma linha tênue e que não arrebenta.
Que pode ser burilada e se encontra forte. Delicada nas mãos e nos corpos das
crianças que vestiremos. Mas Machado
também deixou a mensagem da educação, principalmente a mensagem da educação
especial. Aí, poderemos escolher em qual departamento da confecção que
trabalharemos. Existem vários. Podemos escolher crescer ou ficarmos estagnados. Já estamos, inclusive, matriculados num curso muito especial que vai ter aqui na Confecção, esqueceram-se?
Alfinete e Agulha escutaram admirados
todos os ensinamentos da Linha que começou a dizer:
“Por alegria e satisfação, EU, Linha, gostaria de ser a tênue linha do
Departamento Autismo, dentre vários departamentos importantes da Confecção
Infantil, pois andei escutando que
faremos belos modelos para estas crianças. Teremos que ser diminutos, imperceptíveis e delicados. Mas será um trabalho de
equipe conjugado com o amor. A Professora do Departamento Autismo já deixou
elaborado o primeiro molde que
devemos aprender. Vou lê-lo para vocês:
“Os quatros pilares da vida
(infância, juventude, vida adulta e madureza) são bênçãos herdadas da família
para o seu prosseguimento em uma linha
genealógica em cada uma
de suas fases.
Aí se imprimem os caracteres dos diversos valores já
implícitos, que se carregam
nos laços peculiares
à consanguinidade e/ou
aos caracteres transmitidos pela genética humana. Por isto, a criança autista, o jovem autista, o adulto
autista precisam tanto da família em suas basilares marcas. Vale
a pena incentivar
a formação correta
do autista. Educar sempre
por intermédio dos exemplos,
da palavra carregada
de informações de nobreza, do parecer
consciente, da arte,
da música, de tantas
outras formas ditadas
pelo bom senso . Sempre lembrando
de que a boa semente é retroativa quando lançada com total responsabilidade ao campo.
Produz-se em abundância e
a riqueza abençoada
pela Lei de causas
e efeitos, retorna multiplicada ao celeiro do semeador educacional. “Aí está a primeira delicadeza do nosso trabalho de costura tênue”,
repetiu a Linha!
O Autismo representa, com certeza,
a dinâmica e a sequência da vida que se desdobra para
novos patamares existenciais. Ao mesmo tempo,
se responsabiliza pela
continuidade e pela qualidade
desta costura tênue, feita em
conjunto, por Alfinete, Agulha e Linha, de
seus portadores, como prova bio-psico-física-espiritual, cuja
origem está radicada
na gênese da
criação. Vem através do seu normal
estabelecimento, de tempos em tempos, incrementando o
progresso basilar de seus pais, professores e terapeutas, usando
a inteligência e as
aptidões humanas na renovação
dos feitos e fatos
trazidos e atualizados para a
conjuntura vigente.
Geralmente, o autismo é conceituado como fase da força. E
é justamente tal
força que deve se
imbuir dos recursos pedagógicos para
acionar com dignidade
todas as prerrogativas ditadas
pela educação especial na construção de um mundo
renovado para o autista.
Há de se convir que o autismo somente
atua nesta linha
especial, impulsionado pela
força, se teve
como suporte a experiência
madura naturalmente vivida
pela família na qual
se reabasteceu e se preparou
para o desempenho de
realizações diversas. E,
também, se fez da
grande família universal
o pedestal de apoio
para o mergulho
de corpo e alma no
grande mar da existência. Aí
se posicionar e
ganhar a força suficiente como
cidadão ou cidadã do
mundo, o qual tem por norma arregimentar, colaboradores conscientes.
Ao mesmo tempo,
prontos em vontade
e com o devido
preparo para o enfrentamento de novas
conquistas em face às demandas
de saudáveis formas
de vida, em substanciosas
expansões.
Assim, a família
da criança autista não é mais como um locus de posse e domínio. Ela passa a ser realidade vivencial compartilhada
por todos em relações de reciprocidade e mutualidade. Torna-se, em visão
global, uma aceitação de transformação
(finitude de determinadas funções) para a formação de novas
atribuições (os filhos autistas se tornam mais independentes e passam a assumir outros
papéis). A família do autista sempre terá, que aprender a desenhar, cortar e costurar, a mesma filosofia
moderna, do direito de liberdade, fraternidade e prosperidade. A verdade constitucional e
fundamental deveria envolver a chamada dignidade humana para todos os seres autistas do planeta. Ninguém
poderia estar só, e, portanto, todos abarcados pelo casulo familiar e pela sua
perpetração na espécie humana. Ninguém no Globo é uma ínsula. Os direitos familiares dos autistas envolvem a educação e
ampliam seus campos de incidência. Mas
as famílias ainda estão aquém do preceito fundamental da existência no planeta:
a vida.
Os profundos pensamentos sobre a
Educação, propostos por filósofos antigos e de outros séculos da Grécia, são
subsídios de correta penetração em relação ao aprimoramento do indivíduo.
Todos os indivíduos carregam em suas mentes o
convite às novas
escaladas vivenciais. Alguns, portanto, se atrasam
neste impulso, porém
jamais perderão a
oportunidade do avanço para novas
conquistas. A oportunidade de
educação e de frequentar uma escola especial transformam a vida do indivíduo. O
que acontece quando a Educação
proporciona uma nova visão
existencial sobre o autismo, para
uma atitude coerente com o
bem comum, a pessoa aceita
o compromisso de mudança e se integra na sociedade ajustada aos
padrões a ela
coerentes. A escola especial mais uma vez é a diretamente responsável
para acompanhar o autista em todas as mudanças que perpassam em sua vida
educacional e o transforma em um ser vivente socializado para o trabalho e para
a integralização com o ambiente. Uma vez
transformado o quadro indesejável, o resgate
se estabelece em lucro em
medidas pessoais e um
avanço para a sociedade
que espera do
autista o seu
enquadramento no contexto com novas atitudes comportamentais. Sabe-se que
a escola especial é constituída pelos hábitos
adquiridos por intermédio de um esforço e de um trabalho constante
do indivíduo, cuja aprendizagem
e transformações se realizam em
valores preferenciais. É muito
mais fácil para o autista viver bem se
se encontrar bem, nos relacionamentos saudáveis, no conforto de uma vida plena, com modelos exclusivos da Confecção
Infantil; o que pode ocorrer sempre a partir da
experiência compreendida
entre o
antes e o depois, coincidente
com a transformação
das etapas que a própria escola especial ensina aos seus alunos
autistas. Quando é atualizada uma norma de
vida amparada pela educação
especial, de acordo com o que é estabelecido pela
sociedade, o autista adquire
o privilégio de ser aceito e ao mesmo
tempo respeitado como cidadão desejável
e atuante no meio em que convive
.
Nenhum alfinete ou agulha perde a
linha escolhida para o Corte e Costura. A criança autista sempre é a
beneficiária imediata. Tudo acontece
de bom para o grupo
de indivíduos unido por
um ideal maior do trabalho, da educação e da juventude. Todos
estarão na mobilização construtiva
do bem comum.
Metaforicamente, são
considerados como a árvore
frutífera na qual,
troncos e galhos unidos
e, mantida pela seiva
do trabalho, oferece o fruto
sustentável para a vida. A educação especial como um fator interno,
vivenciada na mente
humana, constitui-se em
valores de importância
fundamental na criação de laços
propostos ao bom
relacionamento entre as
pessoas. Com os autistas nada acontece de diferente. São pequenos seres
que estão ali para serem burilados e amados.
O autista educado regularmente torna-se sensível em
suas atitudes em
relação ao trato
com o semelhante.
E isto modifica toda uma existência da Costura, que poderá se transformar
em Alta Costura, até as hierarquias imagináveis.
Ninguém escapa da responsabilidade de
criar novas formas
de vida, de aprendizagem para sua prova espiritual, de mudar
os moldes da costura para se ajustar
ao novo painel
da existência que o autista quer, subconscientemente, viver. E se há desvio da função dos moldes existenciais,
por certo, a
própria Confecção se encarregará
da reparação. Não pode haver falha na
construção da sociedade para o autista. Numa visão retroativa
em relação à
construção da história
da humanidade, percebe-se
uma verdade relativa à
dinâmica desta evolução.
Portanto, como pode o autista
avançar na sua linha
existencial do Departamento
Autismo sem elevar os seus passos
na escalada? A resposta para tal molde é
básica. Só se realiza com o esforço
extraído
do manancial da educação especial em que terapeutas e professores, juntamente
com os pais, proporcionarão. O
Departamento Autismo traz em
si todos os
jeitos e os
modos, para a construção da
vida consciente e progressiva, rumo
à transcendência. Desta forma, amadurece e
cria novos horizontes para o atendimento a todos
anseios do aluno autista. Para corrigir os percalços
surgidos na construção da caminhada
humana e para incorporar
valores necessários ao
acréscimo de virtudes, somente
a educação especial pode assessorar tais atitudes. O
equilíbrio de uma
vida social sem conflito
e relativamente mantida
nos moldes pacíficos da
comunidade gerenciadora do
bem comum que só se consegue na
aprendizagem do autismo. O autismo é um
manancial de aprendizagem e ensino especial.
Tudo realizado nos padrões da seguridade pedagógica para o Departamento Autismo, torna-se
patrimônio que resiste
ao tempo e se multiplica na
razão do valor
conquistado. E todas as atitudes
nobres não contêm
o germe do fracasso. Podem até se
transformar de acordo com a
mudança de gosto e de novas
aptidões, porém são
conservadas sem perderem
a vitalidade do radical
que lhe serviu
de base ou de origem na manutenção da
espécie.
“Por isto, alunos do curso, e por
muito mais, vocês deverão aprender este primeiro molde”. “Leiam e releiam o
texto. Esta é apenas a primeira lição. Muitas outras virão. Nos professores do
Departamento Autismo lhes desejamos boas vindas e eternas aprendizagens. Este é
um curso que nunca estagna, sempre se vitaliza”.
“Você, Alfinete, marque o
território. Você, Agulha, agrega-se à linha tênue do autismo e faça a primeira,
a segunda, a infinita costura. E você
Linha, que quer cogitar ser tênue,
mas com Tenacidade, procure-se não se arrebentar. Tudo o que já foi costurado e
produzido deve permanecer em seus corações, mas também na costura bem produzida”.
Torne-se forte, e ao mesmo tempo delicada.
Assim, “alunos, após estas
primeiras lições, estaremos prontos para conhecer o Departamento Autismo”.
Os alunos do Corte & Costura respiraram ofegantes. Um olhou para outro e
sentiram o peso da responsabilidade. Foi sentido, mas não desistido. O Alfinete
comentou com a agulha: “o Departamento
Autismo, realmente, tem uma linha tênue”. A Agulha respondeu: “O estudo é o preparo”. A Linha deu o
seu primeiro ponto sem nada dizer. Queria
ser tênue de qualquer maneira.
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Vi e reli seu texto. Você faz comparações metafóricas do autismo. Também, me sinto assim, metaforizando uma síndrome desconhecida que pouco se sabe sobre ela. Parabéns.
ResponderExcluirA linha ténue do autismo não se compara à beleza do seu André. Filho maravilhoso e abençoado. Parabéns por ser esta mãe ligeira, como dizemos aqui no Nordeste. Abraços. Vilma Carlazzi
ResponderExcluirDe uma coisa não tenho dúvida. Tem que ter muita paciência para ler este seu texto. A gente vai e volta, vai e volta e somente depois percebe que você o "costurou" para dar uma aula sobre educação autista. Parabéns. Benedito Antunes - Formiga MG
ResponderExcluirVocê tem o dom da escrita. O seu André é lindo. Parabéns. Julieta Magalhães Porto Velho Ro
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