Blog do André Luís Rian, rapaz autista que quer conversar com você sobre os problemas soluções do autismo...
quinta-feira, 30 de junho de 2011
ORGULHOS ´MÚLTIPLOS' - no combate a todos os preconceitos
imagem publicada - Um cérebro,com seus dois hemisférios, visto de cima com suas circunvoluções coloridas de diferentes cores e matizes, trazendo a frase a seu redor: Every Brain is Beatiful (Todo cérebro é belo), que é uma imagem utilizada no Autism Pride Day, ou seja o Dia do Orgulho Autista, quando autistas norte-americanos, em 18 de junho de 2005, afirmaram: "Não nos tratem como "doentes”. Somos diferentes, sim. Mas não precisamos de remédio ou de cura, mas de uma chance de sermos nós mesmos..." (http://neuropride.livejournal.com/) . Esse cérebro ''diferente e colorido'' traz as cores do arco-íris, alusão a um símbolo hoje do direitos de pessoas LGBTT, com vermelho, amarelo, verde, azul e laranja reforçando a noção de diversidade de modos de ser e estar em nosso planeta Terra, também multicolorido.
"Da Igualdade - como se me incomodasse dar a outros as mesmas oportunidades e direitos que tenho, como se para os meus próprios direitos não fosse indispensável que outros também os tivessem", Walt Whitman (1819-1892) - Folhas das Folhas da Relva
Na continuidade da busca de demolição de todas as formas de preconceitos e discriminações, assim como homenagem, mesmo que tardia ao Dia do Orgulho Autista, pensei bastante sobre os múltiplos orgulhos que passamos a comemorar. E me perguntei por que temos de ter ainda ORGULHO? me lembrei da leitura afetiva dos primeiros textos de Frantz Fanon. Os mesmos textos que me despertaram o que é o Orgulho Negro. Hoje digo que ele está englobado pelo Orgulho Afrodescendente, em homenagem a um novo olhar contra todos os racismos.
Mas que orgulho é esse? é apenas brio ou reatividade à alguma forma de segregação ou humilhação que foi sofrida/inflingida aos meus ancestrais? Não, é o orgulho que passamos a ter quando nos identificamos, nos re-conhecemos e nos damos o direito à uma diferença. Como nos dicionários é quando passamos a 'ter um elevado conceito de si mesmo'. Ou seja re-existimos diante de qualquer forma, tipo ou ação preconceituosa.
É quando nos incluímos antes mesmo que nos ofereçam uma inserção condescendente ou por culpa. Cuidamos para não colar mais na nossa pele nenhum rótulo, estereótipo ou estigma. Nos orgulhamos, enfim, do que somos, como somos e por que queremos/desejamos ser/estar múltiplos ou singulares. E comemoramos publicamente, seja em Maio ou Novembro,e agora em Junho.
No dia 18 de junho comemoramos o orgulho de quem vive com um transtorno: o Autismo. Depois, com uma das maiores manifestações de massa, a Parada do Orgulho Gay, de São Paulo,comemoramos os que escolhem, experimentam, se orientam e vivem como Lésbicas, Transsexuais, Bissexuais,Transgêneros, Homoeróticos, Travestis, Gays, e outras formas de ser e estar que são aglutinadas, respeitadas suas diferenças, sob a sigla LGBTT. Já conseguiram sua replicação para além de São Paulo e afetaram todos os cantos do Brasil. Faça chuva ou sol, sem temor de quaisquer repressões policiais ou políticas do passado.
O movimento de Orgulho Gay nasceu de uma afirmação de direitos civis nos EUA. O Gay Pride Day tornou-se um dia para marcar a conquista dos mesmos direitos que todos os outros cidadãos e cidadãs tinham, têm e terão. O movimento de orgulho gay começou após a Rebelião de Stonewall em 1969, quando os homossexuais em bares locais enfrentaram a polícia de Nova Iorque durante uma disputa inconstitucional. A afirmação de direitos foi a progressiva conquista resultante de Paradas que estão sendo realizadas anualmente até hoje. O orgulho passou a ser afirmação contrária à vergonha imposta pelos preconceitos contra a homossexualidade e outras formas de viver as sexualidades humanas.
Assim como os homossexuais, também os autistas foram e ainda estão sob a preconceituosa visão biomédica de serem apenas ''doentes''. E, apesar de já se ter esclarecido que ambas condições devem ser, hodiernamente, compreendidas como apenas formas diferenciadas de orientação sexual ou de funcionamento do SNC (Sistema Nervoso Central) há um olhar preconceituoso que os discrimina.
O movimento Aspies for Freedom gerou a iniciativa do Dia do Orgulho Autista. Este grupo milita pelos direitos das diferentes formas de autismo, buscando a educação e publicação de esclarecimentos, bem como a conquista de políticas públicas dedicadas para estes sujeitos, tendo como combate principal a genêse de todos os preconceitos: a ignorância.
Os preconceitos, biopoliticamente, como formas exclusão, controle e poder, podem ser assemelhados aos Impérios. Estes recrudescem, enrijecem e envelhecem nos estertores de suas quedas. Tornam-se mais ríspidos, grosseiros, violentos e, defensiva e consequentemente, mais brutais. Desses processos naturalizados e institucionalizados nasceram, historicamente, muitas ditaduras e ditadores.
Estes herdeiros de tempos imperialistas no temor de que suas práticas macropolíticas e suas ideologias fossem demolidas, com a retirada de cada tijolo ou pedra de seus alicerces, aprenderam, com o tempo, a construção de Muralhas. Para alguns ainda deveríamos construir espaços segregados para autistas ou homossexuais, com muralhas invisíveis que nos protejam das fobias que despertam, em nós, diante de suas diferenças consideradas ''extravagantes'' ou ''fora das normas ou padrões''.
Estas são como as Muralhas da China de Kafka. Porém, com o tempo, tornam-se-ão prisioneiros de seus próprios cerceamentos, com fragilidades que reforçam seus engessamentos institucionais. No Brasil estamos assistindo o espetáculo proporcionado por representantes políticos e radicais religiosos contra todas as mudanças de paradigmas. Reagem de forma agressiva a qualquer mudança, principalmente quando estas autorizam a inclusão nos mesmos direitos os que por suas ideologias devem continuar em segregação.
Em muitos momentos nos sentimos orgulhosos nos novos tempos de Marchas e de Liberdades. Nos sentimos e nos autorizamos a sentir orgulhos que possam ser expressados ''publicamente". Por isso um dia para comemorar qualquer forma de Orgulho de ser ou pertencer é um dia muito especial para quem o vivencia. Na compreensão psicanalítica de Frantz Fanon, um homem martinicano e negro, só quando trabalhamos as alienações que são produzidas em nossas subjetividades é que começamos a nos libertar do que colonizou nossos inconscientes.
Como os ''multiplos orgulhos'' sendo cartograficamente exercidos também nos libertamos das formas como nos propõem, no social, a incorporação de modelos identitários que neguem as singularidades e as diferenças. Quando, caminhando e cantando, com garra e determinação, individual ou coletivamente, compartilharmos novos espaços de liberdade. Espaços que, segundo Toni Negri em carta a Guattari, situam-se no intervalo entre o poder e o saber, o espaço onde o amor, com o concebe Spinoza, pode ser a melhor ligação entre eles.
Por isso o tema da Parada Gay é instigante: Amai-vos uns aos Outros... Hoje, constitue-se para além dos conservadorismos religiosos ou dos falsos guardiões da moral, um espaço livre para a visibilização social desses cidadãos e cidadãs orgulhosos de suas orientações sexuais.
Com as recentes conquistas de direitos para pessoas LBGTT, que vão da união estável ao uso do nome social, também estão em movimento conquista de projetos de Lei para garantir a inclusão de autistas no campo educacional, protegidos pelos mesmos direitos que já dispõem as pessoas com deficiência. E conquistarão mais políticas públicas dedicadas aos chamados transtornos do espectro autista caso seja aprovado o Projeto de Lei do Senado de número 168.
E desejo que este número nos relembre um ano de grandes mudanças culturais e de transformações políticas, quando muitos de nós acreditávamos em um outro mundo possível, com o Sol sob o asfalto e gritávamos, contra todas as ditaduras e preconceitos: queremos apenas Paz e Amor.
Estamos agora cantando, novamente, como uma nova revolução molecular em ação, aos quatro cantos da Terra, em alto e bom som: Gay is Beatiful e Every Brain is Beatiful. E o novo paradigma ético e estético guattariniano se fará um rompedor das muralhas dos preconceitos redividos...
Em meus recônditos da memória continua o meu orgulho singular, na voz da saudosa Elis Regina: Black is beatiful... e quero continuar tendo o direito a ter meus ''múltiplos'' orgulhos...e repito Walt Whitman: "...como se para os meus próprios direitos não fosse indispensável que outros também os tivessem'' .
copyright jorgemarciopereiradeandrade 2010/2012
fonte: infonet.com.br
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Viver perto de rodovias aumenta chances de desenvolver autismo
Fatores ambientais, em conjunto com um forte risco genético, podem ser uma possível explicação para esse aumento da condição
tamanho da letraA-A+
Um novo estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Keck da University of Southern California, nos Estados Unidos, revelou que viver perto de uma rodovia pode estar associado com um maior risco de desenvolver autismo. Resultados do estudo mostraram que crianças nascidas de mães que vivem a 309 metros de uma estrada parecem ter o dobro da probabilidade de desenvolver a condição.
O autismo é um transtorno do desenvolvimento que tem sido atribuído a fatores genéticos. Enquanto as mudanças nos critérios de diagnóstico foram pensadas para contribuir para a crescente incidência da doença, esses fatores sozinhos não podem explicar o aumento dramático no número de crianças afetadas.
Este estudo apoia a teoria de que os fatores ambientais, em conjunto com um forte risco genético, podem ser uma possível explicação para esse aumento.
Pouco se sabe sobre o papel dos poluentes ambientais no autismo, a exposição à poluição atmosférica durante a gravidez tem mostrado causar efeitos físicos e de desenvolvimento sobre o feto em outros estudos. A exposição à poluição do ar durante os primeiros meses de vida também tem sido associada ao atraso no desenvolvimento cognitivo.
Segundo os autores do estudo, este estudo é o primeiro a vincular o risco do autismo com a exposição a poluentes veiculares, embora medições diretas de poluentes não tenham sido feitas.
Para o estudo os pesquisadores analisaram crianças com idades entre 24 e 60 meses no início do estudo e viviam em comunidades ao redor de Los Angeles, San Francisco e Sacramento.
Grupos controles foram recrutados dos arquivos de nascimento do estado da Califórnia e, frequentemente, associaddos a casos de autismo por idade, sexo e área geográfica ampla. Cada família participante foi avaliada pessoalmente. Todas as crianças foram avaliadas para o autismo utilizando instrumentos devidamente validados.
O estudo examinou os locais onde as famílias das crianças viveram durante o primeiro, segundo e terceiro trimestres da gravidez da mãe e no momento do nascimento do bebê e avaliou a proximidade dessas casas com uma estrada principal ou rodovia.
A primeira autora do estudo, Heather Volk e seus colegas descobriram que viver a 309 metros de uma auto-estrada na época do nascimento foi associado com um aumento de duas vezes no risco de autismo. Essa associação não foi alterada pelo ajuste para o sexo da criança ou etnia, educação, idade materna e tabagismo pré-natal.
Poluentes associados ao tráfego foram observados para induzirem a inflamação e o estresse oxidativo em estudos toxicológicos e humanos. As evidências emergentes de que o estresse oxidativo e a inflamação estão envolvidos na patogênese do autismo, apoiam as conclusões deste estudo.
"Esperamos encontrar muitos, talvez dezenas, de fatores ambientais ao longo dos próximos anos, com cada um deles provavelmente contribuindo para uma fração dos casos de autismo", afirmou o autor principal do estudo, Hertz-Picciotto.
Com base nos resultados do estudo, os pesquisadores acreditam que é altamente provável que a maioria dos fatores ambientais funcionem em conjunto com outros riscos e ou genes, aumentando a probabilidade do desenvolvimento de autismo.
tamanho da letraA-A+
Um novo estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Keck da University of Southern California, nos Estados Unidos, revelou que viver perto de uma rodovia pode estar associado com um maior risco de desenvolver autismo. Resultados do estudo mostraram que crianças nascidas de mães que vivem a 309 metros de uma estrada parecem ter o dobro da probabilidade de desenvolver a condição.
O autismo é um transtorno do desenvolvimento que tem sido atribuído a fatores genéticos. Enquanto as mudanças nos critérios de diagnóstico foram pensadas para contribuir para a crescente incidência da doença, esses fatores sozinhos não podem explicar o aumento dramático no número de crianças afetadas.
Este estudo apoia a teoria de que os fatores ambientais, em conjunto com um forte risco genético, podem ser uma possível explicação para esse aumento.
Pouco se sabe sobre o papel dos poluentes ambientais no autismo, a exposição à poluição atmosférica durante a gravidez tem mostrado causar efeitos físicos e de desenvolvimento sobre o feto em outros estudos. A exposição à poluição do ar durante os primeiros meses de vida também tem sido associada ao atraso no desenvolvimento cognitivo.
Segundo os autores do estudo, este estudo é o primeiro a vincular o risco do autismo com a exposição a poluentes veiculares, embora medições diretas de poluentes não tenham sido feitas.
Para o estudo os pesquisadores analisaram crianças com idades entre 24 e 60 meses no início do estudo e viviam em comunidades ao redor de Los Angeles, San Francisco e Sacramento.
Grupos controles foram recrutados dos arquivos de nascimento do estado da Califórnia e, frequentemente, associaddos a casos de autismo por idade, sexo e área geográfica ampla. Cada família participante foi avaliada pessoalmente. Todas as crianças foram avaliadas para o autismo utilizando instrumentos devidamente validados.
O estudo examinou os locais onde as famílias das crianças viveram durante o primeiro, segundo e terceiro trimestres da gravidez da mãe e no momento do nascimento do bebê e avaliou a proximidade dessas casas com uma estrada principal ou rodovia.
A primeira autora do estudo, Heather Volk e seus colegas descobriram que viver a 309 metros de uma auto-estrada na época do nascimento foi associado com um aumento de duas vezes no risco de autismo. Essa associação não foi alterada pelo ajuste para o sexo da criança ou etnia, educação, idade materna e tabagismo pré-natal.
Poluentes associados ao tráfego foram observados para induzirem a inflamação e o estresse oxidativo em estudos toxicológicos e humanos. As evidências emergentes de que o estresse oxidativo e a inflamação estão envolvidos na patogênese do autismo, apoiam as conclusões deste estudo.
"Esperamos encontrar muitos, talvez dezenas, de fatores ambientais ao longo dos próximos anos, com cada um deles provavelmente contribuindo para uma fração dos casos de autismo", afirmou o autor principal do estudo, Hertz-Picciotto.
Com base nos resultados do estudo, os pesquisadores acreditam que é altamente provável que a maioria dos fatores ambientais funcionem em conjunto com outros riscos e ou genes, aumentando a probabilidade do desenvolvimento de autismo.
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quarta-feira, 22 de junho de 2011
A PALAVRA DE NILTON SALVADOR SOBRE INCLUSÃO
Desde quando ainda se falava que nossos filhos, autistas ou não eram “excepcionais”, enfaticamente nas décadas de 70 e 80, e de lá para cá passando por diversas nomenclaturas cheias de boas intenções, mas sem muita funcionalidade, até chegarmos ao final da primeira década deste milênio com eles ganhando a leitura gloriosa de “pessoa com deficiência”, de acordo com nova portaria do governo.
Naquelas décadas com grande impulso, estava nascendo nos Estados Unidos e na Europa à educação inclusiva, começando também a entrar em discussões por aqui.
Como em nosso país quase tudo se copia, e que em termos educacionais nossos modelos sempre tiveram sotaques estrangeiros, o novo conceito caiu por aqui como uma luva, até por existir oferta de estabelecimentos de educação especial, e como embrionariamente já se ensaiasse conviver com a educação regular, não poderíamos ser indiferentes deixando o bonde da moda estrangeira passar, sem embarcar.
Atualmente nos colégios norte-americanos e europeus, todos os colégios de educação regular, oferecem apoio à educação inclusiva, aos alunos com necessidades especiais, sendo que na Espanha e na França, além dos professores especialistas, os alunos têm mais um, que é responsável pela sala de aula, denominado de tutor.
Enquanto isso, por aqui, nós ficamos na esperança de que a propaganda enganosa vigente do sistema de educação nacional se torne realidade.
Lá os métodos podem ser alterados, mas os objetivos do currículo não. Aqui, quando se fala em implantar educação inclusiva em qualquer estabelecimento de ensino regular, além da escola ser modificada em sua estrutura, a organização do currículo e a avaliação deve ficar de acordo com seus gestores, que se utilizando de desculpas esfarrapadas pensam que podem evitar atitudes discriminatórias, por desconhecerem que isso acontece por falta de educação, familiar.
A criança com necessidades especiais, e por essa titulação nós pais somos responsáveis, porque temos o hábito de ver nossos filhos, autistas, como crianças e não como pessoas, mantendo-os eternamente púberes, quando é colocada junto com as outras normais, criam-se, ou não, atividades específicas para elas, enquanto que a educação inclusiva volta-se para todos os alunos, centrando-se mais em objetivos comuns e de currículo flexível, mesmo havendo divergências, pois é frequente entre seus defensores o encontro de quem queira a continuidade da segregação.
Nada a ver uma coisa com a outra, mas os defensores do atraso, em face das políticas equivocadas, e o nosso sistema político partidário vigente está infestado deles, além de não saberem o que é ter filho deficiente, são informados que eles são crianças excluídas da educação por estatísticas, que eles mesmos criaram.
Para eles o maior drama é transferir alunos com necessidades educativas especiais das escolas especializadas, e das classes especiais para as classes regulares, sem generalizar, é claro, porque não sabem destacar a diferença entre eles.
Na Europa e nos Estados Unidos, a inclusão de crianças com dificuldades em salas de aulas regulares aumentou e nas instituições especializadas diminuiu, porque tanto na formação como na implantação, os professores atualizam seus currículos, para que estejam bem preparados no momento de atender a demanda, coisa que por aqui não pode acontecer porque preferem o comodismo ficando à margem da atualização.
Mesmo que ficassem resolvidas essas questões, a educação inclusiva antes de prosperar ainda terá muita dificuldade, pois, em nosso sistema, a educação segregada é mais frequente porque é inconveniente trabalhar programas educativos integrados.
As crianças normais quando ficam entre crianças deficientes com atrasos de intelectualidade, não são prejudicadas por esta integração, ou pela convivência com os estereótipos inapropriados delas, ou ainda pela redução no ritmo de desenvolvimento, não existindo registro de efeitos adversos, obtendo vantagens recíprocas quando aprendem em conjunto.
Já existem pesquisas mostrando que alunos sem dificuldades de aprendizagem também têm vantagens no ensino inclusivo, porque o convívio deles com aquelas crianças aumenta a autoestima, amplia a competência social e faz com que se aprenda a respeitar as diferenças e os estigmas favorecendo sua maturidade.
Na Constituição Federal há um artigo favorável à educação inclusiva, que não é obedecido, pois os nossos educadores, geralmente políticos de plantão, preferem posar de signatários da Declaração de Salamanca e protocolos internacionais para deficientes aparecendo nas propagandas humanitárias, onde vicejam mídias ficcionistas mostrando o crescimento do número de alunos em salas de aulas regulares, que não existem.
Criança deficiente não se importa que os professores inventem modas ou percam tempo para explicar alguma coisa que ela demore a entender, porque assim têm chances de aprender mais e melhor, e ainda... Os alunos eficientes apreciam auxiliar o coleguinha com dificuldades porque entre eles quem fala é a pureza da alma.
Os obstáculos para a aplicação da educação inclusiva são os mesmos, em qualquer idioma, mas nada pode ser pior do que aqueles que deixam de ser percebidos pela Psicologia Social, por atitudes alguns mandatários do meio educacional, contra as pessoas deficientes, autistas ou não, que dificultam sua implantação e desenvolvimento.
Quem me dera que a educação inclusiva tivesse iniciado por aqui nos anos 70/80 a exemplo dos americanos e europeus, pois fico imaginando meu filho autista, que pouco depende de nós, mesmo não tendo aprendido a ler, saberia cortar sua barba e amarrar o cordão dos seus sapatos, em função da metodologia de convivência escolar com o próximo, e ser incluído como exemplo na história dos deficientes como mais um grão de areia na construção edifício de progresso da humanidade.
Quando se fala em educação inclusiva, costumamos deixar passar despercebida a grandeza do conceito nela implícito, que foi criada para todas as “pessoas com deficiências”, mas que nos dias atuais está ensaiando uma saída honrosa para que o sistema educacional “encaixe”, nossos filhos, pelo menos para manter o seu direito de crescer e a viver com natural autonomia.
De minha parte me vejo obrigado a repetir que nesta salada mista de leis, decretos, portarias, etc, os dirigentes da educação continuam dando mais valor ao condimento do que ao legume.
Quem sabe nossos filhos deficientes, autistas ou não, em mais uma reação dos seus pais, dotados da Síndrome da Paciência, tenham direito a uma vaga na escola inclusiva, por uma questão de bom senso e respeito por seu semelhante, coisa que nossos legisladores insistem em demonstrar que não sabem o que é.
Para Deus, pessoas deficientes são aquelas que estacionam no preconceito e na discriminação...
FONTE: WWW.VIVENCIASAUTISTIAS.BLOGSPOT.COM
Naquelas décadas com grande impulso, estava nascendo nos Estados Unidos e na Europa à educação inclusiva, começando também a entrar em discussões por aqui.
Como em nosso país quase tudo se copia, e que em termos educacionais nossos modelos sempre tiveram sotaques estrangeiros, o novo conceito caiu por aqui como uma luva, até por existir oferta de estabelecimentos de educação especial, e como embrionariamente já se ensaiasse conviver com a educação regular, não poderíamos ser indiferentes deixando o bonde da moda estrangeira passar, sem embarcar.
Atualmente nos colégios norte-americanos e europeus, todos os colégios de educação regular, oferecem apoio à educação inclusiva, aos alunos com necessidades especiais, sendo que na Espanha e na França, além dos professores especialistas, os alunos têm mais um, que é responsável pela sala de aula, denominado de tutor.
Enquanto isso, por aqui, nós ficamos na esperança de que a propaganda enganosa vigente do sistema de educação nacional se torne realidade.
Lá os métodos podem ser alterados, mas os objetivos do currículo não. Aqui, quando se fala em implantar educação inclusiva em qualquer estabelecimento de ensino regular, além da escola ser modificada em sua estrutura, a organização do currículo e a avaliação deve ficar de acordo com seus gestores, que se utilizando de desculpas esfarrapadas pensam que podem evitar atitudes discriminatórias, por desconhecerem que isso acontece por falta de educação, familiar.
A criança com necessidades especiais, e por essa titulação nós pais somos responsáveis, porque temos o hábito de ver nossos filhos, autistas, como crianças e não como pessoas, mantendo-os eternamente púberes, quando é colocada junto com as outras normais, criam-se, ou não, atividades específicas para elas, enquanto que a educação inclusiva volta-se para todos os alunos, centrando-se mais em objetivos comuns e de currículo flexível, mesmo havendo divergências, pois é frequente entre seus defensores o encontro de quem queira a continuidade da segregação.
Nada a ver uma coisa com a outra, mas os defensores do atraso, em face das políticas equivocadas, e o nosso sistema político partidário vigente está infestado deles, além de não saberem o que é ter filho deficiente, são informados que eles são crianças excluídas da educação por estatísticas, que eles mesmos criaram.
Para eles o maior drama é transferir alunos com necessidades educativas especiais das escolas especializadas, e das classes especiais para as classes regulares, sem generalizar, é claro, porque não sabem destacar a diferença entre eles.
Na Europa e nos Estados Unidos, a inclusão de crianças com dificuldades em salas de aulas regulares aumentou e nas instituições especializadas diminuiu, porque tanto na formação como na implantação, os professores atualizam seus currículos, para que estejam bem preparados no momento de atender a demanda, coisa que por aqui não pode acontecer porque preferem o comodismo ficando à margem da atualização.
Mesmo que ficassem resolvidas essas questões, a educação inclusiva antes de prosperar ainda terá muita dificuldade, pois, em nosso sistema, a educação segregada é mais frequente porque é inconveniente trabalhar programas educativos integrados.
As crianças normais quando ficam entre crianças deficientes com atrasos de intelectualidade, não são prejudicadas por esta integração, ou pela convivência com os estereótipos inapropriados delas, ou ainda pela redução no ritmo de desenvolvimento, não existindo registro de efeitos adversos, obtendo vantagens recíprocas quando aprendem em conjunto.
Já existem pesquisas mostrando que alunos sem dificuldades de aprendizagem também têm vantagens no ensino inclusivo, porque o convívio deles com aquelas crianças aumenta a autoestima, amplia a competência social e faz com que se aprenda a respeitar as diferenças e os estigmas favorecendo sua maturidade.
Na Constituição Federal há um artigo favorável à educação inclusiva, que não é obedecido, pois os nossos educadores, geralmente políticos de plantão, preferem posar de signatários da Declaração de Salamanca e protocolos internacionais para deficientes aparecendo nas propagandas humanitárias, onde vicejam mídias ficcionistas mostrando o crescimento do número de alunos em salas de aulas regulares, que não existem.
Criança deficiente não se importa que os professores inventem modas ou percam tempo para explicar alguma coisa que ela demore a entender, porque assim têm chances de aprender mais e melhor, e ainda... Os alunos eficientes apreciam auxiliar o coleguinha com dificuldades porque entre eles quem fala é a pureza da alma.
Os obstáculos para a aplicação da educação inclusiva são os mesmos, em qualquer idioma, mas nada pode ser pior do que aqueles que deixam de ser percebidos pela Psicologia Social, por atitudes alguns mandatários do meio educacional, contra as pessoas deficientes, autistas ou não, que dificultam sua implantação e desenvolvimento.
Quem me dera que a educação inclusiva tivesse iniciado por aqui nos anos 70/80 a exemplo dos americanos e europeus, pois fico imaginando meu filho autista, que pouco depende de nós, mesmo não tendo aprendido a ler, saberia cortar sua barba e amarrar o cordão dos seus sapatos, em função da metodologia de convivência escolar com o próximo, e ser incluído como exemplo na história dos deficientes como mais um grão de areia na construção edifício de progresso da humanidade.
Quando se fala em educação inclusiva, costumamos deixar passar despercebida a grandeza do conceito nela implícito, que foi criada para todas as “pessoas com deficiências”, mas que nos dias atuais está ensaiando uma saída honrosa para que o sistema educacional “encaixe”, nossos filhos, pelo menos para manter o seu direito de crescer e a viver com natural autonomia.
De minha parte me vejo obrigado a repetir que nesta salada mista de leis, decretos, portarias, etc, os dirigentes da educação continuam dando mais valor ao condimento do que ao legume.
Quem sabe nossos filhos deficientes, autistas ou não, em mais uma reação dos seus pais, dotados da Síndrome da Paciência, tenham direito a uma vaga na escola inclusiva, por uma questão de bom senso e respeito por seu semelhante, coisa que nossos legisladores insistem em demonstrar que não sabem o que é.
Para Deus, pessoas deficientes são aquelas que estacionam no preconceito e na discriminação...
FONTE: WWW.VIVENCIASAUTISTIAS.BLOGSPOT.COM
VITÓRIA NO PLENÁRIO PARA A CRIANÇA AUTISTA
PLENÁRIO / VOTAÇÕES
15/06/2011 - 18h09
Senado aprova política de proteção da pessoa autista
[senador Paulo Paim (PT-RS)]
Matéria atualizada às 20h25
O Plenário aprovou nesta quarta-feira (15) o Projeto de Lei do Senado (PLS)
168/11 que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa
Autista. O projeto estabelece os direitos fundamentais da pessoa autista e
equipara o portador desse distúrbio à pessoa com deficiência, além de criar um
cadastro único dos autistas, com a finalidade de produzir estatísticas nacionais
sobre o problema. O texto segue agora para análise da Câmara dos Deputados.
A política de proteção deverá articular, conforme o projeto, os organismos e
serviços da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios nas áreas
de saúde, educação, assistência social, trabalho, transporte e habitação, com
vistas à coordenação de políticas e ações assistenciais.
O senador Paulo Paim (PT-RS) saudou a aprovação do projeto e lembrou que será
realizada sessão de homenagem aos autistas no próximo dia 27. Paim é presidente
da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), autora da
proposta, e foi seu relator na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). O texto tem
como base sugestão da Associação em Defesa do Autista (Adefa).
- Agradeço em nome dos autistas pela aprovação do projeto que interessa tanto a
todos os familiares e, enfim, aos autistas.
Em seu parecer favorável ao PLS 168/11 na CAS, o senador Paulo Paim (PT-RS)
explica que o texto "define a pessoa com transtorno do espectro autista com base
em características clínicas da síndrome e a equipara à pessoa com deficiência,
para todos os efeitos legais".
O projeto prevê ainda direitos dos autistas, como proteção contra exploração e
acesso a serviços de saúde e de educação, ao mercado de trabalho, à moradia e à
assistência social. Também estende o direito a jornada especial a servidor
público que tenha sob seus cuidados cônjuge, filho ou dependente autista.
No debate da proposta, Paim lembrou que o assunto foi discutido em diversas
audiências públicas no Senado. Ressaltou ainda que a política possibilitará a
articulação de ações governamentais voltadas à proteção de pessoas com
transtorno de espectro autista.
Exmos Srs Senadores,
Temos a honra de AGRADECER as Vossas Excelências pela aprovação da PLS nº168/11. Inúmeras famílias serão beneficiadas, muitos pais Brasil a fora terão o direito de verem seus filhos atendidos dentro das especificidades de que o autismo necessita.
Estamos falando no resgate de quase 2 milhões de pessoas acometidas do Transtorno do Espectro Autista - TEA.
O Brasil dá um passo importante no sentido de garantir mais qualidade de vida aos brasileiros (as) com autismo.
Muito obrigado! As famílias brasileiras terão um futuro com mais dignidade.
E esperamos Vossas Excelências no dia 27 de junho de 2011, às 11 horas, no plenário do Senado Federal, para essa Sessão Solene que agora tem a finalidade de agradecermos pela aprovação do projeto de lei 168/11, que irá criar a Política Nacional de Proteção a Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
Sejam felizes!
Atenciosamente,
Ulisses da Costa Batista
Membro das Associações ADEFA e Mão Amiga
15/06/2011 - 18h09
Senado aprova política de proteção da pessoa autista
[senador Paulo Paim (PT-RS)]
Matéria atualizada às 20h25
O Plenário aprovou nesta quarta-feira (15) o Projeto de Lei do Senado (PLS)
168/11 que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa
Autista. O projeto estabelece os direitos fundamentais da pessoa autista e
equipara o portador desse distúrbio à pessoa com deficiência, além de criar um
cadastro único dos autistas, com a finalidade de produzir estatísticas nacionais
sobre o problema. O texto segue agora para análise da Câmara dos Deputados.
A política de proteção deverá articular, conforme o projeto, os organismos e
serviços da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios nas áreas
de saúde, educação, assistência social, trabalho, transporte e habitação, com
vistas à coordenação de políticas e ações assistenciais.
O senador Paulo Paim (PT-RS) saudou a aprovação do projeto e lembrou que será
realizada sessão de homenagem aos autistas no próximo dia 27. Paim é presidente
da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), autora da
proposta, e foi seu relator na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). O texto tem
como base sugestão da Associação em Defesa do Autista (Adefa).
- Agradeço em nome dos autistas pela aprovação do projeto que interessa tanto a
todos os familiares e, enfim, aos autistas.
Em seu parecer favorável ao PLS 168/11 na CAS, o senador Paulo Paim (PT-RS)
explica que o texto "define a pessoa com transtorno do espectro autista com base
em características clínicas da síndrome e a equipara à pessoa com deficiência,
para todos os efeitos legais".
O projeto prevê ainda direitos dos autistas, como proteção contra exploração e
acesso a serviços de saúde e de educação, ao mercado de trabalho, à moradia e à
assistência social. Também estende o direito a jornada especial a servidor
público que tenha sob seus cuidados cônjuge, filho ou dependente autista.
No debate da proposta, Paim lembrou que o assunto foi discutido em diversas
audiências públicas no Senado. Ressaltou ainda que a política possibilitará a
articulação de ações governamentais voltadas à proteção de pessoas com
transtorno de espectro autista.
Exmos Srs Senadores,
Temos a honra de AGRADECER as Vossas Excelências pela aprovação da PLS nº168/11. Inúmeras famílias serão beneficiadas, muitos pais Brasil a fora terão o direito de verem seus filhos atendidos dentro das especificidades de que o autismo necessita.
Estamos falando no resgate de quase 2 milhões de pessoas acometidas do Transtorno do Espectro Autista - TEA.
O Brasil dá um passo importante no sentido de garantir mais qualidade de vida aos brasileiros (as) com autismo.
Muito obrigado! As famílias brasileiras terão um futuro com mais dignidade.
E esperamos Vossas Excelências no dia 27 de junho de 2011, às 11 horas, no plenário do Senado Federal, para essa Sessão Solene que agora tem a finalidade de agradecermos pela aprovação do projeto de lei 168/11, que irá criar a Política Nacional de Proteção a Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
Sejam felizes!
Atenciosamente,
Ulisses da Costa Batista
Membro das Associações ADEFA e Mão Amiga
domingo, 19 de junho de 2011
Dia 18 de junho - Dia do Orgulho Autista
O Dia do Orgulho Autista é celebrado em 18 de junho de cada ano, a partir de 2005. É uma celebração da neurodiversidade dos indivíduos do espectro autista, para promover o conceito de que aqueles identificados como autistas não sofrem de um mal patológico, assim como quem tem a pele escura não sofre de uma doença de pele.
Os defensores do Orgulho Autista acreditam que a noção de pureza racial, em termos de raça humana como um todo, permeia a ciência médica, que parece refletir uma crença de que todo o cérebro humano seria idêntico. Os defensores do orgulho autista alegam que a noção de que haveria uma estrutura ideal e, por isso, desejável para o cérebro humano leva muitos praticantes da Psiquiatria a assumir que qualquer desvio requer uma "cura" para conformar à norma neurotípica. Acreditam que, no mínimo, deveria haver maior respeito para com os membros da comunidade autista como indivíduos únicos.
Os defensores do Orgulho Autista lembram que a homossexualidade já foi classificada como uma forma de doença mental que poderia ser tratada medicamente com terapia hormonal de redução da libido. Só o movimento pelos direitos gays, buscando a meta da tolerância social com a diversidade de orientação sexual fez tal classificação se tornar obsoleta. Uma das mais constantes expressões desse movimento é "orgulho gay". O Dia do Orgulho Autista espera dar início ao mesmo processo de educação e ativismo, com as metas de promover os direitos humanos básicos dos autistas e criar um lugar válido para a voz e os talentos desses indivíduos na sociedade moderna.
O Dia do Orgulho Autista é iniciativa de "Aspies for Freedom". Este grupo pelos direitos do autismo visa educar o público em geral com tais iniciativas para acabar com a ignorância dos temas que envolvem a comunidade autista.
O tema para 2005 é "Aceitação. Cura, não". Haverá um novo tema a cada ano. O principal evento é uma parada em Seattle, Washington, EUA.
Os defensores do Orgulho Autista acreditam que a noção de pureza racial, em termos de raça humana como um todo, permeia a ciência médica, que parece refletir uma crença de que todo o cérebro humano seria idêntico. Os defensores do orgulho autista alegam que a noção de que haveria uma estrutura ideal e, por isso, desejável para o cérebro humano leva muitos praticantes da Psiquiatria a assumir que qualquer desvio requer uma "cura" para conformar à norma neurotípica. Acreditam que, no mínimo, deveria haver maior respeito para com os membros da comunidade autista como indivíduos únicos.
Os defensores do Orgulho Autista lembram que a homossexualidade já foi classificada como uma forma de doença mental que poderia ser tratada medicamente com terapia hormonal de redução da libido. Só o movimento pelos direitos gays, buscando a meta da tolerância social com a diversidade de orientação sexual fez tal classificação se tornar obsoleta. Uma das mais constantes expressões desse movimento é "orgulho gay". O Dia do Orgulho Autista espera dar início ao mesmo processo de educação e ativismo, com as metas de promover os direitos humanos básicos dos autistas e criar um lugar válido para a voz e os talentos desses indivíduos na sociedade moderna.
O Dia do Orgulho Autista é iniciativa de "Aspies for Freedom". Este grupo pelos direitos do autismo visa educar o público em geral com tais iniciativas para acabar com a ignorância dos temas que envolvem a comunidade autista.
O tema para 2005 é "Aceitação. Cura, não". Haverá um novo tema a cada ano. O principal evento é uma parada em Seattle, Washington, EUA.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Autismo: transtorno do espectro autista é grande estressor para as mães
A autora do estudo, publicado no periódico Autismo, Anette Estes – pesquisadora da Universidade de Washington, EUA – acompanhou 73 mães com filhos de idades médias de 3,5 anos com autismo ou outro tipo de problema de desenvolvimento.
A pesquisadora focou no estresse percebido e relacionado com a criação dos filhos; estresse em geral, sem associação com a família; problemas comportamentais nas crianças; nível de dificuldade para realizar os cuidados cotidianos com seus filhos (como vesti-los ou levá-los à escola). “Procuramos saber qual seria a parte mais difícil para as mães”, diz Estes.
Mães de filhos autistas indicaram os maiores níveis de estresse, tanto no trato com as crianças quanto em atividades diárias em geral, mesmo quando comparadas com as mães de crianças com outros tipos de problemas de desenvolvimento.
As respostas emocionais e comportamentos problemáticos – como irritabilidade, choro, agitação excessiva e verbalizações inapropriadas – foram os estressores mais citados. Tarefas cotidianas eram apontadas como mais fáceis de serem executadas.
Os resultados do estudo de Estes indicam que intervenções que possam auxiliar na melhoria dos comportamentos das crianças seriam importantes para diminuir o nível de estresse das mães, melhorando a qualidade de vida dessas mulheres e de seus filhos.
A pesquisa é parte de um crescente interesse em terapias para o autismo que incluam não somente os indivíduos com a condição, mas também os cuidadores. “O autismo impacta a família como um todo e é preciso expandir os limites dos tratamentos”, finaliza Estes.
Créditos: este material aparece originalmente em inglês como Autism ups stress for mothers. Copyright © 2010 da American Psychological Association (APA). Traduzido e reproduzido com permissão. A APA não é responsável pela exatidão desta tradução. Esta tradução não pode ser reproduzida ou, ainda, distribuída sem permissão prévia por escrito da APA.
Fonte: O que eu tenho?
Via: www.guiame.com.br
sábado, 11 de junho de 2011
SUPER FELIZ
Super feliz... O meu filho André Luís venceu mais uma etapa. Passou pela anestesia, já saiu da clínica após intervenção odontológica. O Doutor (dentista) elogiou a dentição dele e os nossos procedimentos e prevenção. Não tem nenhuma cárie e sua saúde bucal está ótima. Mais uma etapa vencida. Obrigada Jesus por tudo de bom que me deu, mesmo por tudo que perdi injustamente pela vida. Duvido que alguém seja feliz como eu! Obrigada Mestre Jesus!
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Qual a importância de levar meu filho autista ao dentista?
A prevenção é sempre o melhor caminho, então os pais devem incluir na rotina de seus filhos a visita ao dentista, afinal ele já está acostumado à consultas com fonoaudiólogas, psicól...ogas, terapeutas, etc. O profissional irá ensiná-lo a fazer a prevenção de cáries e doenças periodontais, além de técnicas facilitadoras para conquistar a boa higiene oral.
Meu filho(a) será atendido amarrado?
A contenção mecânica é uma forma de estabilizar o paciente para o tratamento odontológico. O paciente não é machucado ele é apenas estabilizado. Esse processo só é realizado com autorização do responsável. Em muitos casos a contenção só é usada 1 ou 2 vezes, até que o paciente confie no profissional e sinta que não sofre durante o tratamento. Para evitar esse procedimento é que indicamos o condicionamento para facilitar o tratamento odontológico.
Como é o condicionamento?
O condicionamento é realizado por profissionais treinados e que de forma lúdica apresentam o tratamento odontológico. O método falar-mostrar-fazer é empregado nessa fase. Também são utilizados fantoches, brinquedos, bolinhas de sabão e tudo mais que o paciente goste. Essas informações são conseguidas durante a entrevista com os pais, antes de iniciar as sessões de condicionamento.
E se meu filho não sentar na cadeira do dentista?
Não tem problema, nesse caso o condicionamento é realizado no chão sobre um tapete de E.V.A.. A medida que o profissional conquistar a confiança do paciente, ele será transferido de forma espontânea para a cadeira odontológica.
Quantas sessões de condicionamento serão necessárias?
O número de sessões é individual porque cada paciente é único. Não podemos criar expectativas para os pais. Nesse momento temos que explicar que é uma tentativa, que vamos fazer o possível e que temos que acreditar que é possível. Nesses anos todos percebo que alguns pacientes surpreendem até os pais e logo estão familiarizados com a rotina da Odontologia.
Meu filho(a) será atendido amarrado?
A contenção mecânica é uma forma de estabilizar o paciente para o tratamento odontológico. O paciente não é machucado ele é apenas estabilizado. Esse processo só é realizado com autorização do responsável. Em muitos casos a contenção só é usada 1 ou 2 vezes, até que o paciente confie no profissional e sinta que não sofre durante o tratamento. Para evitar esse procedimento é que indicamos o condicionamento para facilitar o tratamento odontológico.
Como é o condicionamento?
O condicionamento é realizado por profissionais treinados e que de forma lúdica apresentam o tratamento odontológico. O método falar-mostrar-fazer é empregado nessa fase. Também são utilizados fantoches, brinquedos, bolinhas de sabão e tudo mais que o paciente goste. Essas informações são conseguidas durante a entrevista com os pais, antes de iniciar as sessões de condicionamento.
E se meu filho não sentar na cadeira do dentista?
Não tem problema, nesse caso o condicionamento é realizado no chão sobre um tapete de E.V.A.. A medida que o profissional conquistar a confiança do paciente, ele será transferido de forma espontânea para a cadeira odontológica.
Quantas sessões de condicionamento serão necessárias?
O número de sessões é individual porque cada paciente é único. Não podemos criar expectativas para os pais. Nesse momento temos que explicar que é uma tentativa, que vamos fazer o possível e que temos que acreditar que é possível. Nesses anos todos percebo que alguns pacientes surpreendem até os pais e logo estão familiarizados com a rotina da Odontologia.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
A história do autismo
Claudia Mascarenhas-Fernandes
A criança autista indiscutivelmente interroga. Não há dúvida que, no mundo
atual, pleno de “performances” e “resultados”, que promete o “sucesso” e a
“felicidade”, a criança portadora de autismo vem apontar o furo dessa
promessa. A idéia da mudança rápida e do descartável é incompatível: não
toleram nem o imprevisto e nem mudanças, e, se não podemos prestar
atenção aos mínimos detalhes de seus movimentos em relação ao outro, não
temos chances. O fenômeno do autismo nos faz pensar, falar, escrever...
“Atualmente é considerado portador de autismo aquela criança que tem
dificuldades específicas de se comunicar e de se socializar, que apresenta
interesses restritos e comportamentos estereotipados, tendo iniciado com
essas dificuldades antes dos 3 anos e fixado até idade adulta”1.
Segundo Maleval2 o termo autismo ficará marcado por sua origem na clinica da
esquizofrenia, quando foi definido por Bleuler, para falar daquelas crianças que
se voltavam para elas próprias num mundo auto-erótico, “fica difícil até hoje
apreender o termo autismo sem passar pelo prisma deformante da psicose”3.
1 J. Hocchman, Histoire de l´autisme. Paris : Odile jacob, 2009. p. 27
2 J.C. Maleval
3 Idem, p. 10.
Um pouco da historia do autismo
Hocchman4 historia o autismo partindo do conceito psiquiátrico de idiota, do
homem privado de razão, isolado da sociedade com uma linguagem
desprovida de significação, o termo é precursor tanto da noção de
esquizofrenia infantil quanto do conceito de autismo5. Seguindo a saga da
exclusão, o idiota foi, dentre os pacientes da psiquiatria, dos mais
negligenciados, pelos administradores e psiquiatras que queriam o excluir de
seu território. Mas o autismo, nesse aspecto difere da idiotia, pois como
fenômeno, desperta entre os profissionais uma irresistível necessidade de
tomá-lo para si: quem tem a cura, quem tem o melhor tratamento, que
descobre sua etiologia, enfim, o autista tem promovido as mais diversas
disputas e contradições. Enfrentamos no momento atual, talvez, o ápice da
diferença entre psicopatologia e organicismo e, portanto, a tendência a colocar
o autismo a uma condição de handcap esteja forte, distanciando-o das
abordagens mais psicodinâmicas.
Uma primeira versão do autismo, portanto, foi cunhada por Bleuler em 1911,
que a define como uma função complexa em que a relação com a realidade é
perturbada ou suspensa, em conseqüência de uma perturbação primaria de
associações e surgimento de emoções e imagens fugidias6. Esse retorno ao
sujeito ao seu mundo interior, essa submissão imaginária, essa espécie de
adesão a uma nova realidade que vem recobrir a realidade tomada a distancia,
representa uma segunda spaltung, onde o sujeito não é apenas dividido, mas
separado do seu mundo.
4 Hocchman, idem.
5 Idem, p. 31.
6 J. Hocchman, Idem, p. 204.
A evolução do termo idiotia também derivou o termo esquizofrenia infantil. O
paciente Dick, que hoje em dia poderia ser classificado como autista, segundo
Klein sua psicanalista, era portador de esquizofrenia infantil. Klein se interessa
muito pouco pela etiologia da patologia de Dick, que considerava sofrendo, não
de perturbações de seu meio familiar, mas de uma incapacidade inata
constitucional de suportar a angustia, e que o levou a operar uma espécie de
amputação de seu psiquismo habitado pela violência e rejeitar, para se
proteger, todas as tendências destrutivas. Por conta disso, ficar privado de
qualquer atividade simbólica. O paciente foi enviado a Klein com o diagnostico
de demência precoce, mas o termo não era satisfatório porque esta era
definida como secundaria a um primeiro desenvolvimento normal. Segundo
Klein, que afirmava ser o tratamento da psicose infantil uma das principais
tarefas da psicanálise, a esquizofrenia infantil é semelhante a do adulto,
apenas com sintomatologia menos clara, mais discreta. Já Lauretta Bender se
refere a uma perturbação de integração que toca o desenvolvimento de uma
criança ainda inacabada: “a esquizofrenia na infância pode se definir como uma
forma de encefalopatia que aparece em diversos momentos da curva do
desenvolvimento, interferindo no desenvolvimento da unidade biológica e da
personalidade social, de modo característico e que em relação a frustração,
envolve uma angustia à qual o individuo reage com suas próprias
capacidades”7. O problema da criança portadora da esquizofrenia é, segundo a
psiquiatra, sua incapacidade de se identificar como diferente dos outros e então
entrar em relação com o mundo, fonte de angustias e de enfrentar as reações
7 J. Hocchman, l´hisoire de l´autisme, idem, p. 323.
de proteção contra essa angustia. Lauretta Bender conjuga aspectos
psicopatológicos e organicistas no seu modo de ver a esquizofrenia infantil.
O autismo foi visto por Bleurer e por Lauretta Bender também como um
mecanismo de defesa secundário, uma volta a si mesmo para se proteger dos
efeitos da dissociação ou da falta de integração das idéias e sentimentos. É
Kanner em 1943 que vai modificar essa concepção, descrevendo o autismo
como perturbação inata do contato afetivo, e vai colocar a perturbação não
como conseqüência, mas como um fracasso inicial fundamental. É essa
posição que vai separar definitivamente o autismo da esquizofrenia infantil.
Então Kanner, impressionado pela distancia emocional que essas crianças
colocam entre ela e os outros, insiste em dois sintomas fundamentais: solidão e
imutabilidade, assim como as cóleras violentas, que ocorrem, sobretudo,
quando se tenta barrar as rotinas e as estereotipias. A posição de Kanner é,
portanto, ligada a psicopatologia, sem ser psicanalista, coloca a reação de
angustia da criança no centro de suas preocupações. Diferentemente da
esquizofrenia infantil, que aparece após certa latência e se manifesta por uma
deteriorização, ou regressão, o autismo tem como sinal patognomônico a
inabilidade das crianças de estabelecerem relações normais com as pessoas e
a reagir normalmente desde o início da vida. E diferentemente da esquizofrenia
infantil, o autismo apesar da dificuldade de estabelecer relações com as
pessoas, possui um grande interesse de estabelecer relações com os objetos,
muitas vezes dedicando a estes uma atenção exagerada.
Quase no mesmo momento que Kanner estabelece os parâmetros do autismo
como perturbação inata do contato afetivo, Hans Asperger publica sua tese
intitulada “As psicopatias autísticas durante a infancia”, por conta da falta de
comunicação durante a guerra ele não teve acesso possivelmente ao artigo de
Kanner, sendo o seu publicado num tratado de pedagogia, tendência de um
movimento pedagógico curativo seguido pelo autor. A diferença entre os dois
textos citada por Arn Van Krevelen (op. Cit Hocchman)8, é que Kanner
descreve uma doença em curso, quer dizer um processo evolutivo, e Asperger
se dá conta de um tipo de personalidade que existe desde a infância e se
prolonga durante a vida adulta. Asperger inova no seu estudo sobre o exercício
intelectual do autista, difere de Kanner que acha que todos os autistas são
inteligentes, Asperger aceita que pode estar ligado a um déficit intelectual, e
afirma que o autismo é um estado (uma estrutura patológica da personalidade)
e não uma psicose (uma doença evolutiva). E contrariamente a Kanner não
acredita que os autistas possuem uma angustia importante em seu quadro
clinico. Atualmente a síndrome de Asperger é vista independente do autismo,
se manifesta mais tardiamente e tem melhor prognóstico.
Margaret Mahler por sua vez fará uma diferença entre esquizofrenia infantil e
psicose infantil. Vai optar por usar o termo psicose infantil e assim diferenciar
definitivamente das patologias dos adultos, definindo a criança psicótica como
uma criança que se mostra intrinsecamente capaz de fazer contato afetivo com
os outros. Ela acredita numa incompatibilidade biológica entre mãe e criança
de origem fetal, e deste modo as diferencia das crianças que possuem uma
importante carência afetiva, como as crianças criadas em campos de
concentração, pois, mesmo que tenham um retardo de maturação, são
capazes de retirar do entorno a mínima gota de humanidade a partir da mínima
estimulação. Ela define as psicoses autisticas, quando os sintomas são
precoces e aparecem desde o primeiro ano de vida, essas crianças ficam
perdidas, desorientadas, possuem uma ausência de antecipação postural,
ausência de sorriso, olhar vago e podem ocorrer as crises de cóleras quando
perturbados pelo outro. Essas crises ela interpreta como crises que tentam
restabelecer o equilíbrio interior da criança. Depois vem as psicoses
simbióticas, onde os sintomas aparecem depois do terceiro ano de vida, e as
psicoses benignas, que são tradutoras de sintomas neuróticos, esta ultima
categoria, depois de algumas criticas foi abandonada pela autora. Mahler faz
uma comparação interessante às crianças autistas, diz que elas são como
mágicos que fazem desaparecer tudo que esta em sua volta. Segundo a autora
é preciso separar as duas condições (psicose autística e psicose simbiótica)
pois, isso determinará a atitude do terapeuta. Em relação às crianças com
psicoses autisticas, ela aconselha inicialmente construir uma relação,
colocando ênfase em retirar a criança da sua concha, levando-a a perceber e a
investir na relação com outro, antes mesmo de estabelecer uma relação de
ajuda, ela usa o termo que equivaleria ao termo “seduzir”. Acredita que
devemos ficar moderados em relação a apreciação dos resultados do trabalho,
principalmente em relação aos pais, para evitar dar falsas esperanças, pois
depois de uma primeira melhora da criança, pode ocorrer um recuo se a família
ou profissionais começam a se animar e a solicitar muito energicamente a
criança para que saia do seu autismo ou da sua simbiose.
Os últimos debates
Depois de trinta anos de trabalho da corrente psicodinâmica e psicopatológica,
com influencias da psicanálise, uma reviravolta se processa no campo da
saúde mental. Essa reviravolta se denomina um progresso científico e se
caracteriza por um retorno ao organicismo a as teses de degenerescência,
reformuladas na linguagem da genética moderna, e o que esse movimento tem
de maior conseqüência é transpor a idéia do autismo como doença (processo
evolutivo, ligado a vários agentes patógenos, que mesmo que ainda possam
ser incuráveis, se trabalha no sentido de encontrar a sua cura), para a idéia do
autismo como handcap (desviação fixa da norma, composta de um déficit e
uma incapacidade, que coloca o individuo em situação de desadaptação com o
meio, necessitando uma reabilitação). Esse deslizamento de conceitos torna o
autista um ser passivo, que, considerado autista um dia, sempre será autista.
Essa orientação se inicia nos anos 60 nos Estados Unidos. Em 1971 Kanner
funda, a pedido de um pai de autista e editor, uma revista Journal of autism and
childhood schizofrenia, que nesse momento tinha colaboradores importantes
neurologistas, psicanalistas, psiquiatras. A psicanálise e seus representantes
estavam entres seus autores. Mas cinco anos mais tarde, sem nenhuma
novidade nas descobertas sobre o autismo e quando ainda se mantinha a idéia
da diversidade dos casos e conseqüentemente da necessidade da diversidade
de práticas, a revista fundada por Kanner muda radicalmente, torna-se journal
of autism and developmental disorders e Eric Schoppler toma sua direção
como editor. Nesse editorial afirmam que segundo “numeráveis pesquisas” o
tratamento e a compreensão do autismo dependem de fatores do
desenvolvimento, além de colocarem ênfase no retardo mental que seria
sofrido supostamente pela maioria dos autistas (de fato as pesquisas
mostravam que apenas 10 a 20% tinham retardo mental). Seu objetivo foi
conseguido, pois o autismo se torna rapidamente uma perturbação do
desenvolvimento, e toda perspectiva psicodinâmica desaparece sumariamente
dos editoriais. O livro desses dois editores, Schoppler e Rutter, se tornam
exemplares do novo pensamento sobre o autismo. Dois fatores ajudaram
nessa virada do poder: a pressão dos familiares e um texto de lei promulgado.
O autismo precisava de atendimento especializado e a pressão dos pais foi
decisiva, acompanhando a mudança do editorial da revista. A opinião das
famílias foi se tornando cada vez mais uma opinião científica, chegando a
orientar e financiar pesquisas sobre o assunto.
A psicanálise que tratou durante trinta anos os autistas era a única via na
época que poderia salvar a criança autista de uma internação e ali os pais e
crianças tinham uma escuta, porém isso poderia se reverter contra a própria
psicanálise, dado que escutar os pais e as crianças faria ela própria parecer
perigosa para a paz interior destes, remoendo os fantasmas mais difíceis
diante de uma criança autista. Mas de todo modo o que parecia mais complexo
era admitir que não era a psicanálise que inventava esses fantasmas, caso
eles aparecessem. Para as famílias começa a ficar mais fácil tratar seus filhos
como handcaps que precisariam de uma reabilitação, do que passar todos os
sortilégios de uma doença, ainda inexplicável, mesmo que tenha um percurso
evolutivo. O que precisa ficar claro aqui, que talvez não o seja para essas
famílias, é o fundamento que está implícito: o handcap é uma condição
imutável podendo apena ser adaptada ao meio.
Alguma teoria precisava se adequar a esse novo pensamento. O behaviorismo
seria ela: “todo comportamento, aquele do homem e aquele do rato, podem se
resumir a uma resposta à um estimulo”, afirmava Skinner, agregando a idéia de
que se não temos meios científicos para trabalhar e conhecer a mente humana,
é preciso desconsiderá-la, e de fato, acreditava ele, isso não trará nenhum
efeito negativo aos estudos científicos. Um aprimoramento nessa idéia foi
acrescido: “certas contingências de um ato aumentam a probabilidade de
ocorrer novamente e ao mesmo tempo, cria condições que podem ser sentidas,
o que achamos digno em um comportamento está ligado a reforços positivos”.
Como os estados mentais precisam ter direito a uma teorização, a famosa
caixa preta (a MENTE) dos behavioristas, se torna acessível aos cognitivistas.
Os behavioristas perderam terreno com isso, lhes restavam se converter em
ciências aplicadas a educação, por exemplo, no controle de comportamentos
socialmente desviantes: delinqüência, alcoolismo, perturbações sexuais e
toxicomanias. Eles dão a essa abordagem do behaviorismo aplicado o nome
de Applied Behavior Analysis, ABA, e, criam um segundo jornal Journal of
Applied Behavior Analysis.
Ferster, publica então no Journal of experimental Analysis of behavior, o
tratamento comportamental de duas crianças autistas, uma hoje se sabe que
tinha uma síndrome desintegrativa secundaria a uma encefalopatia. É, no
entanto, segundo Hocchman, curioso notar que o autor se refere a depressão
materna aguda. E com esse texto foi demonstrada a possibilidade de alargar a
gama de comportamentos socialmente adaptados de uma criança
profundamente autista. Mas é Lovaas que se mostra mais audacioso, ele que
era inicialmente um pesquisador de laboratório, tinha o objetivo de isolar e
controlar as variáveis num quadro experimental rigoroso. A hipótese de base
era que numerosos comportamentos sociais e intelectuais são regulados por
funções adquiridas a partir das primeiras interações com o meio, olhar e
sorriso. A criança autista se fechava em comportamentos de automutilação e
autoestimulação que paralisavam suas aprendizagens, daí a necessidade de
eliminar esses comportamentos inapropriados. Trabalhará com quatro
comportamentos indesejáveis: automutilação, ecolalia, estímulos
autosensoriais estereotipados e crises auto agressivas. Atualmente seguindo
pesquisas que permitem melhor codificar o projeto, fragmentam em pequenas
etapas a constituição do comportamento desejável e de eliminação do
inadaptado, e os reforços dolorosos parecem ter sido abandonados.
O texto de 1987 de Lovaas que promoveu esperanças no tratamento do
autismo deu inicio a um projeto “University of California at Los Angeles (UCLA)
Young Autism Project - UCLA YAP, de 1970 à 1984. Nesse estudo sete dos
dezenove sujeitos do experimento foram vistos entre 1970 e 1974, e depois um
estudo foi seguido de 1984 a 1985. A experiência foi publicada em 1987 e o
estudo do seguimento em 1993, o que faz pensar a pesquisa como sendo mais
recente do que foi. As crianças estudadas tinha menos que 46 meses,
passavam pelo tratamento durante quarenta horas semanais durante no
mínimo dois anos. Os resultados foram que nove dessas crianças não
precisaram ir numa escola especializada. O artigo de Victoria Seha9, no
entanto questiona de modo rigoroso esse “sucesso” do método de Lovaas,
resumo aqui algumas das principais críticas:
- Falta de randomização dos sujeitos e do grupo controle
- Os grupos experimentais e os de controles não estavam equivalentes
9 Victoria SHEA, Revue commentée des articles consacrés à la méthode ABA (EIBI : Early intensive
behavioral intervention) de Lovaas, appliquée aux jeunes enfants avec autisme, Chapel Hill, Caroline du
Nord, USA – 2004.
- Os grupos experimentais não eram representativos da população de
crianças com autismo
- A ausência de dados sobre correspondência entre tratamento
administrado e tratamento previsto.
- Ausência de informações sobre eventuais intervenções suplementares
administradas simultaneamente.
- Falta de claridade quanto às quantidades dos tratamentos administrados
aos grupos controles.
- Avaliação dos resultados realizada muito tempo depois que os
tratamentos foram finalizados.
- Avaliações dos resultados não foram realizadas pelos profissionais
independentes da pesquisas.
- Avaliação dos resultados (classificações) que podem refletir mais fatores
políticos ou filosóficos que as competências reais da criança.
- Erros de avaliação resultante do uso de diferentes ferramentas de
medida do QI e do QD para diferentes crianças.
- Uso de estatística inabitual, como a idade mental pre-calculada, e uso
contestável de desvio de QI.
- A não inclusão de fatores humanos, como parentes e terapeutas, que
podem ter influenciado os resultados de modo significativo.
- Falta de recuo critico das apreciações dos familiares.
È notório que o enigma da criança autista provoca dificuldades até mesmo para
as ciências ditas mais científicas. A posição da psicanálise é apenas diferente,
sem grau de valoração, a diferença mais impactante é que a psicanálise
precisa tomar o sujeito no seu aspecto mais singular, não como uma
generalização, o que vai acarretar sempre uma busca para escrever sobre o
sujeito, mais especificamente, sobre aquele sujeito. E desse modo, longe de
generalizar sujeitos ou sintomas, a escrita da psicanálise é uma escrita do
analista.
A criança autista indiscutivelmente interroga. Não há dúvida que, no mundo
atual, pleno de “performances” e “resultados”, que promete o “sucesso” e a
“felicidade”, a criança portadora de autismo vem apontar o furo dessa
promessa. A idéia da mudança rápida e do descartável é incompatível: não
toleram nem o imprevisto e nem mudanças, e, se não podemos prestar
atenção aos mínimos detalhes de seus movimentos em relação ao outro, não
temos chances. O fenômeno do autismo nos faz pensar, falar, escrever...
“Atualmente é considerado portador de autismo aquela criança que tem
dificuldades específicas de se comunicar e de se socializar, que apresenta
interesses restritos e comportamentos estereotipados, tendo iniciado com
essas dificuldades antes dos 3 anos e fixado até idade adulta”1.
Segundo Maleval2 o termo autismo ficará marcado por sua origem na clinica da
esquizofrenia, quando foi definido por Bleuler, para falar daquelas crianças que
se voltavam para elas próprias num mundo auto-erótico, “fica difícil até hoje
apreender o termo autismo sem passar pelo prisma deformante da psicose”3.
1 J. Hocchman, Histoire de l´autisme. Paris : Odile jacob, 2009. p. 27
2 J.C. Maleval
3 Idem, p. 10.
Um pouco da historia do autismo
Hocchman4 historia o autismo partindo do conceito psiquiátrico de idiota, do
homem privado de razão, isolado da sociedade com uma linguagem
desprovida de significação, o termo é precursor tanto da noção de
esquizofrenia infantil quanto do conceito de autismo5. Seguindo a saga da
exclusão, o idiota foi, dentre os pacientes da psiquiatria, dos mais
negligenciados, pelos administradores e psiquiatras que queriam o excluir de
seu território. Mas o autismo, nesse aspecto difere da idiotia, pois como
fenômeno, desperta entre os profissionais uma irresistível necessidade de
tomá-lo para si: quem tem a cura, quem tem o melhor tratamento, que
descobre sua etiologia, enfim, o autista tem promovido as mais diversas
disputas e contradições. Enfrentamos no momento atual, talvez, o ápice da
diferença entre psicopatologia e organicismo e, portanto, a tendência a colocar
o autismo a uma condição de handcap esteja forte, distanciando-o das
abordagens mais psicodinâmicas.
Uma primeira versão do autismo, portanto, foi cunhada por Bleuler em 1911,
que a define como uma função complexa em que a relação com a realidade é
perturbada ou suspensa, em conseqüência de uma perturbação primaria de
associações e surgimento de emoções e imagens fugidias6. Esse retorno ao
sujeito ao seu mundo interior, essa submissão imaginária, essa espécie de
adesão a uma nova realidade que vem recobrir a realidade tomada a distancia,
representa uma segunda spaltung, onde o sujeito não é apenas dividido, mas
separado do seu mundo.
4 Hocchman, idem.
5 Idem, p. 31.
6 J. Hocchman, Idem, p. 204.
A evolução do termo idiotia também derivou o termo esquizofrenia infantil. O
paciente Dick, que hoje em dia poderia ser classificado como autista, segundo
Klein sua psicanalista, era portador de esquizofrenia infantil. Klein se interessa
muito pouco pela etiologia da patologia de Dick, que considerava sofrendo, não
de perturbações de seu meio familiar, mas de uma incapacidade inata
constitucional de suportar a angustia, e que o levou a operar uma espécie de
amputação de seu psiquismo habitado pela violência e rejeitar, para se
proteger, todas as tendências destrutivas. Por conta disso, ficar privado de
qualquer atividade simbólica. O paciente foi enviado a Klein com o diagnostico
de demência precoce, mas o termo não era satisfatório porque esta era
definida como secundaria a um primeiro desenvolvimento normal. Segundo
Klein, que afirmava ser o tratamento da psicose infantil uma das principais
tarefas da psicanálise, a esquizofrenia infantil é semelhante a do adulto,
apenas com sintomatologia menos clara, mais discreta. Já Lauretta Bender se
refere a uma perturbação de integração que toca o desenvolvimento de uma
criança ainda inacabada: “a esquizofrenia na infância pode se definir como uma
forma de encefalopatia que aparece em diversos momentos da curva do
desenvolvimento, interferindo no desenvolvimento da unidade biológica e da
personalidade social, de modo característico e que em relação a frustração,
envolve uma angustia à qual o individuo reage com suas próprias
capacidades”7. O problema da criança portadora da esquizofrenia é, segundo a
psiquiatra, sua incapacidade de se identificar como diferente dos outros e então
entrar em relação com o mundo, fonte de angustias e de enfrentar as reações
7 J. Hocchman, l´hisoire de l´autisme, idem, p. 323.
de proteção contra essa angustia. Lauretta Bender conjuga aspectos
psicopatológicos e organicistas no seu modo de ver a esquizofrenia infantil.
O autismo foi visto por Bleurer e por Lauretta Bender também como um
mecanismo de defesa secundário, uma volta a si mesmo para se proteger dos
efeitos da dissociação ou da falta de integração das idéias e sentimentos. É
Kanner em 1943 que vai modificar essa concepção, descrevendo o autismo
como perturbação inata do contato afetivo, e vai colocar a perturbação não
como conseqüência, mas como um fracasso inicial fundamental. É essa
posição que vai separar definitivamente o autismo da esquizofrenia infantil.
Então Kanner, impressionado pela distancia emocional que essas crianças
colocam entre ela e os outros, insiste em dois sintomas fundamentais: solidão e
imutabilidade, assim como as cóleras violentas, que ocorrem, sobretudo,
quando se tenta barrar as rotinas e as estereotipias. A posição de Kanner é,
portanto, ligada a psicopatologia, sem ser psicanalista, coloca a reação de
angustia da criança no centro de suas preocupações. Diferentemente da
esquizofrenia infantil, que aparece após certa latência e se manifesta por uma
deteriorização, ou regressão, o autismo tem como sinal patognomônico a
inabilidade das crianças de estabelecerem relações normais com as pessoas e
a reagir normalmente desde o início da vida. E diferentemente da esquizofrenia
infantil, o autismo apesar da dificuldade de estabelecer relações com as
pessoas, possui um grande interesse de estabelecer relações com os objetos,
muitas vezes dedicando a estes uma atenção exagerada.
Quase no mesmo momento que Kanner estabelece os parâmetros do autismo
como perturbação inata do contato afetivo, Hans Asperger publica sua tese
intitulada “As psicopatias autísticas durante a infancia”, por conta da falta de
comunicação durante a guerra ele não teve acesso possivelmente ao artigo de
Kanner, sendo o seu publicado num tratado de pedagogia, tendência de um
movimento pedagógico curativo seguido pelo autor. A diferença entre os dois
textos citada por Arn Van Krevelen (op. Cit Hocchman)8, é que Kanner
descreve uma doença em curso, quer dizer um processo evolutivo, e Asperger
se dá conta de um tipo de personalidade que existe desde a infância e se
prolonga durante a vida adulta. Asperger inova no seu estudo sobre o exercício
intelectual do autista, difere de Kanner que acha que todos os autistas são
inteligentes, Asperger aceita que pode estar ligado a um déficit intelectual, e
afirma que o autismo é um estado (uma estrutura patológica da personalidade)
e não uma psicose (uma doença evolutiva). E contrariamente a Kanner não
acredita que os autistas possuem uma angustia importante em seu quadro
clinico. Atualmente a síndrome de Asperger é vista independente do autismo,
se manifesta mais tardiamente e tem melhor prognóstico.
Margaret Mahler por sua vez fará uma diferença entre esquizofrenia infantil e
psicose infantil. Vai optar por usar o termo psicose infantil e assim diferenciar
definitivamente das patologias dos adultos, definindo a criança psicótica como
uma criança que se mostra intrinsecamente capaz de fazer contato afetivo com
os outros. Ela acredita numa incompatibilidade biológica entre mãe e criança
de origem fetal, e deste modo as diferencia das crianças que possuem uma
importante carência afetiva, como as crianças criadas em campos de
concentração, pois, mesmo que tenham um retardo de maturação, são
capazes de retirar do entorno a mínima gota de humanidade a partir da mínima
estimulação. Ela define as psicoses autisticas, quando os sintomas são
precoces e aparecem desde o primeiro ano de vida, essas crianças ficam
perdidas, desorientadas, possuem uma ausência de antecipação postural,
ausência de sorriso, olhar vago e podem ocorrer as crises de cóleras quando
perturbados pelo outro. Essas crises ela interpreta como crises que tentam
restabelecer o equilíbrio interior da criança. Depois vem as psicoses
simbióticas, onde os sintomas aparecem depois do terceiro ano de vida, e as
psicoses benignas, que são tradutoras de sintomas neuróticos, esta ultima
categoria, depois de algumas criticas foi abandonada pela autora. Mahler faz
uma comparação interessante às crianças autistas, diz que elas são como
mágicos que fazem desaparecer tudo que esta em sua volta. Segundo a autora
é preciso separar as duas condições (psicose autística e psicose simbiótica)
pois, isso determinará a atitude do terapeuta. Em relação às crianças com
psicoses autisticas, ela aconselha inicialmente construir uma relação,
colocando ênfase em retirar a criança da sua concha, levando-a a perceber e a
investir na relação com outro, antes mesmo de estabelecer uma relação de
ajuda, ela usa o termo que equivaleria ao termo “seduzir”. Acredita que
devemos ficar moderados em relação a apreciação dos resultados do trabalho,
principalmente em relação aos pais, para evitar dar falsas esperanças, pois
depois de uma primeira melhora da criança, pode ocorrer um recuo se a família
ou profissionais começam a se animar e a solicitar muito energicamente a
criança para que saia do seu autismo ou da sua simbiose.
Os últimos debates
Depois de trinta anos de trabalho da corrente psicodinâmica e psicopatológica,
com influencias da psicanálise, uma reviravolta se processa no campo da
saúde mental. Essa reviravolta se denomina um progresso científico e se
caracteriza por um retorno ao organicismo a as teses de degenerescência,
reformuladas na linguagem da genética moderna, e o que esse movimento tem
de maior conseqüência é transpor a idéia do autismo como doença (processo
evolutivo, ligado a vários agentes patógenos, que mesmo que ainda possam
ser incuráveis, se trabalha no sentido de encontrar a sua cura), para a idéia do
autismo como handcap (desviação fixa da norma, composta de um déficit e
uma incapacidade, que coloca o individuo em situação de desadaptação com o
meio, necessitando uma reabilitação). Esse deslizamento de conceitos torna o
autista um ser passivo, que, considerado autista um dia, sempre será autista.
Essa orientação se inicia nos anos 60 nos Estados Unidos. Em 1971 Kanner
funda, a pedido de um pai de autista e editor, uma revista Journal of autism and
childhood schizofrenia, que nesse momento tinha colaboradores importantes
neurologistas, psicanalistas, psiquiatras. A psicanálise e seus representantes
estavam entres seus autores. Mas cinco anos mais tarde, sem nenhuma
novidade nas descobertas sobre o autismo e quando ainda se mantinha a idéia
da diversidade dos casos e conseqüentemente da necessidade da diversidade
de práticas, a revista fundada por Kanner muda radicalmente, torna-se journal
of autism and developmental disorders e Eric Schoppler toma sua direção
como editor. Nesse editorial afirmam que segundo “numeráveis pesquisas” o
tratamento e a compreensão do autismo dependem de fatores do
desenvolvimento, além de colocarem ênfase no retardo mental que seria
sofrido supostamente pela maioria dos autistas (de fato as pesquisas
mostravam que apenas 10 a 20% tinham retardo mental). Seu objetivo foi
conseguido, pois o autismo se torna rapidamente uma perturbação do
desenvolvimento, e toda perspectiva psicodinâmica desaparece sumariamente
dos editoriais. O livro desses dois editores, Schoppler e Rutter, se tornam
exemplares do novo pensamento sobre o autismo. Dois fatores ajudaram
nessa virada do poder: a pressão dos familiares e um texto de lei promulgado.
O autismo precisava de atendimento especializado e a pressão dos pais foi
decisiva, acompanhando a mudança do editorial da revista. A opinião das
famílias foi se tornando cada vez mais uma opinião científica, chegando a
orientar e financiar pesquisas sobre o assunto.
A psicanálise que tratou durante trinta anos os autistas era a única via na
época que poderia salvar a criança autista de uma internação e ali os pais e
crianças tinham uma escuta, porém isso poderia se reverter contra a própria
psicanálise, dado que escutar os pais e as crianças faria ela própria parecer
perigosa para a paz interior destes, remoendo os fantasmas mais difíceis
diante de uma criança autista. Mas de todo modo o que parecia mais complexo
era admitir que não era a psicanálise que inventava esses fantasmas, caso
eles aparecessem. Para as famílias começa a ficar mais fácil tratar seus filhos
como handcaps que precisariam de uma reabilitação, do que passar todos os
sortilégios de uma doença, ainda inexplicável, mesmo que tenha um percurso
evolutivo. O que precisa ficar claro aqui, que talvez não o seja para essas
famílias, é o fundamento que está implícito: o handcap é uma condição
imutável podendo apena ser adaptada ao meio.
Alguma teoria precisava se adequar a esse novo pensamento. O behaviorismo
seria ela: “todo comportamento, aquele do homem e aquele do rato, podem se
resumir a uma resposta à um estimulo”, afirmava Skinner, agregando a idéia de
que se não temos meios científicos para trabalhar e conhecer a mente humana,
é preciso desconsiderá-la, e de fato, acreditava ele, isso não trará nenhum
efeito negativo aos estudos científicos. Um aprimoramento nessa idéia foi
acrescido: “certas contingências de um ato aumentam a probabilidade de
ocorrer novamente e ao mesmo tempo, cria condições que podem ser sentidas,
o que achamos digno em um comportamento está ligado a reforços positivos”.
Como os estados mentais precisam ter direito a uma teorização, a famosa
caixa preta (a MENTE) dos behavioristas, se torna acessível aos cognitivistas.
Os behavioristas perderam terreno com isso, lhes restavam se converter em
ciências aplicadas a educação, por exemplo, no controle de comportamentos
socialmente desviantes: delinqüência, alcoolismo, perturbações sexuais e
toxicomanias. Eles dão a essa abordagem do behaviorismo aplicado o nome
de Applied Behavior Analysis, ABA, e, criam um segundo jornal Journal of
Applied Behavior Analysis.
Ferster, publica então no Journal of experimental Analysis of behavior, o
tratamento comportamental de duas crianças autistas, uma hoje se sabe que
tinha uma síndrome desintegrativa secundaria a uma encefalopatia. É, no
entanto, segundo Hocchman, curioso notar que o autor se refere a depressão
materna aguda. E com esse texto foi demonstrada a possibilidade de alargar a
gama de comportamentos socialmente adaptados de uma criança
profundamente autista. Mas é Lovaas que se mostra mais audacioso, ele que
era inicialmente um pesquisador de laboratório, tinha o objetivo de isolar e
controlar as variáveis num quadro experimental rigoroso. A hipótese de base
era que numerosos comportamentos sociais e intelectuais são regulados por
funções adquiridas a partir das primeiras interações com o meio, olhar e
sorriso. A criança autista se fechava em comportamentos de automutilação e
autoestimulação que paralisavam suas aprendizagens, daí a necessidade de
eliminar esses comportamentos inapropriados. Trabalhará com quatro
comportamentos indesejáveis: automutilação, ecolalia, estímulos
autosensoriais estereotipados e crises auto agressivas. Atualmente seguindo
pesquisas que permitem melhor codificar o projeto, fragmentam em pequenas
etapas a constituição do comportamento desejável e de eliminação do
inadaptado, e os reforços dolorosos parecem ter sido abandonados.
O texto de 1987 de Lovaas que promoveu esperanças no tratamento do
autismo deu inicio a um projeto “University of California at Los Angeles (UCLA)
Young Autism Project - UCLA YAP, de 1970 à 1984. Nesse estudo sete dos
dezenove sujeitos do experimento foram vistos entre 1970 e 1974, e depois um
estudo foi seguido de 1984 a 1985. A experiência foi publicada em 1987 e o
estudo do seguimento em 1993, o que faz pensar a pesquisa como sendo mais
recente do que foi. As crianças estudadas tinha menos que 46 meses,
passavam pelo tratamento durante quarenta horas semanais durante no
mínimo dois anos. Os resultados foram que nove dessas crianças não
precisaram ir numa escola especializada. O artigo de Victoria Seha9, no
entanto questiona de modo rigoroso esse “sucesso” do método de Lovaas,
resumo aqui algumas das principais críticas:
- Falta de randomização dos sujeitos e do grupo controle
- Os grupos experimentais e os de controles não estavam equivalentes
9 Victoria SHEA, Revue commentée des articles consacrés à la méthode ABA (EIBI : Early intensive
behavioral intervention) de Lovaas, appliquée aux jeunes enfants avec autisme, Chapel Hill, Caroline du
Nord, USA – 2004.
- Os grupos experimentais não eram representativos da população de
crianças com autismo
- A ausência de dados sobre correspondência entre tratamento
administrado e tratamento previsto.
- Ausência de informações sobre eventuais intervenções suplementares
administradas simultaneamente.
- Falta de claridade quanto às quantidades dos tratamentos administrados
aos grupos controles.
- Avaliação dos resultados realizada muito tempo depois que os
tratamentos foram finalizados.
- Avaliações dos resultados não foram realizadas pelos profissionais
independentes da pesquisas.
- Avaliação dos resultados (classificações) que podem refletir mais fatores
políticos ou filosóficos que as competências reais da criança.
- Erros de avaliação resultante do uso de diferentes ferramentas de
medida do QI e do QD para diferentes crianças.
- Uso de estatística inabitual, como a idade mental pre-calculada, e uso
contestável de desvio de QI.
- A não inclusão de fatores humanos, como parentes e terapeutas, que
podem ter influenciado os resultados de modo significativo.
- Falta de recuo critico das apreciações dos familiares.
È notório que o enigma da criança autista provoca dificuldades até mesmo para
as ciências ditas mais científicas. A posição da psicanálise é apenas diferente,
sem grau de valoração, a diferença mais impactante é que a psicanálise
precisa tomar o sujeito no seu aspecto mais singular, não como uma
generalização, o que vai acarretar sempre uma busca para escrever sobre o
sujeito, mais especificamente, sobre aquele sujeito. E desse modo, longe de
generalizar sujeitos ou sintomas, a escrita da psicanálise é uma escrita do
analista.
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