quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Os direitos fundamentais , a mídia e o meu filho autista.





Silvania Mendonça Almeida Margarida


O mundo está errado e a psicóloga e suas explicações midiáticas são as certas? 

Não e não. Alguma coisa está errada neste recém-criado preconceito, mesmo que ele tem sido gerado por desconhecimento do que seja autismo. 

E a nossa luta? Isto é uma questão evolutiva. Se uma rede de televisão quer abordar um assunto tão delicado, num folhetim das 9 h, faz propagandas que tem a ISO 26000 (ISO da Responsabilidade social) assim esta emissora deve agir. Com RS e Desenvolvimento sustentável. Isto faz da inteligência das pessoas algo mais concreto e mais suscetível de entender. Mas de antemão, pela sua editoria, deixa na mão de pessoas despreparadas o que seja o autismo. Sei não. Tenho minhas dúvidas.

Limpar a mente, sustentabilizar boas memórias, num sentido, de lembrar-se de que os tempos hitlerianos não podem mais voltar. Isto sim é evoluir e crescer. 

Como não ficaremos preocupados de ver o autismo ser televisionado num horário nobre da Rede Globo? O autismo mercantilizado e sensacionalizado pela rede "se liga na gente" é de se preocupar. A partir de agora, sem a retratação, fica difícil acreditar na responsabilidade social desta empresa midiática. 

Acredito que, se o Dr. Ireneu Marinho estivesse neste plano, ele jamais ofenderia quem não se pode defender. Foi embora e deixou seu legado de honradez. Estão cumprindo?

Então, voltando ao assunto do mundo errado, na petição movida apenas pela justiça com os nossos filhos autistas, diga-se de passagem, sem intenção de ofender ninguém, já tem muitas assinaturas. 

E, leitores, sabem vocês o motivo pelo qual o mundo talvez não esteja errado? Explico-lhes: essa petição foi assinada por pessoas da Ásia, Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália. Na Europa, países como Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Portugal, dentre outros. Estão a favor da nossa causa. 

Pois a nossa causa é única, resgatar o preconceito gerado em rede nacional contra os nossos filhos inocentes. Balizo-me minha opinião no inocente, manso e meigo de coração, residente na minha casa, tratado como adulto fosse, e, no entanto, sem falar, com o mesmo sorriso de ternura, a que todos da nossa convivência encanta. 

Fácil é jogar palavras ao vento, para se ganhar dinheiro midiático. Fácil é transgredir todos os tipos de idoneidade e balizamento dos conhecimentos profissionais, na busca do sensacionalismo. 

No entanto, na nossa missão espiritual, não é fácil ver a negativa social do nosso filho ir à faculdade, à escola dos "chamados normais", ser discriminado em restaurantes e locais de lazer. Não ter autonomia e ser interditado civilmente para ter direito aos seus direitos civis. 

Meu Deus! Este é o verdadeiro paradoxo. Quantas portas de escolas e faculdades ainda serão fechadas para os nossos filhos? Quantas horas de lazer eles ainda terão que renunciar? Quantas vezes ainda eles não terão a luz da mídia em sua defesa? Primeiro a Casa dos Autistas da M TV, agora este preconceito gerado em rede nacional. 

Os abastados midiáticos e, inclusive, o próprio Estado, ainda poderão transgredir os direitos fundamentais, negando a dignidade humana, "carro chefe" do Estado Democrático de Direito. 
Por quanto tempo, o mundo será dos errados? Para eles, na exclusão, nós somos os errados. 

Ora, em momento algum, estou me dizendo a mais certa das pessoas, pelo contrário, tenho muito o que aprender. Tenho um filho autista que me ensina a cada dia, a cada momento que veste a roupa do lado do avesso, e, eu pacientemente, ensino-lhe, a vestir a roupa certa, a calçar seu tênis e seguir seu rumo tão restrito, mas tão indolor. 

Acontece que eu, constitucionalista de paixão, não sei separar os direitos humanos do autismo. É mesmo uma questão de defesa ferrenha. Todos os meus preceitos envolvem a dignidade humana que Norberto Bobbio tanto pregou. Os Direitos Humanos alavancados por Benjamim Franklin. 

Diante dos pressupostos de Kant, Bobbio particularizou que o homem, diante dos seus direitos de liberdade teria um sinal premonitório do progresso “moral” da humanidade. Juntando a este aparato estaria indiscutivelmente o científico e o técnico que são meios mais efetivos de tutelar a liberdade frente aos descobrimentos e à quantificação do progresso. Com o progresso, o homem mostra a sua evolução (abolição da escravidão em algumas partes do mundo) e a supressão da pena de morte em alguns países. A história da moral transmite que direitos se transformariam em deveres, pois direitos e deveres são lados de uma mesma moeda. Com o aparecimento dos direitos políticos reproduzindo o sinal de liberdade e igualdade que todo homem que todo homem representa. Ela fala também da internacionalização destes direitos, ou seja, eles se estendem para todos os sujeitos de direito, mas que esta proteção deveria ser efetivada.

Frente aos direitos fundamentais, art. 5o. da CF, temos os nossos direitos garantidos e não podem ser recalcados pelo sensacionalismo da psicopatia, misturada com o autismo. Dois institutos da psicologia completamente diferentes e nem paralelamente caminham. Erroneamente postulados e vislumbrados por um jornalista monólogo, pois somente ele fala e nunca o seu entrevistado ou visitante. 

Em quanto tempo, gastaremos para desfazer tão tolas palavras, assoberbadas negativamente por profissionais que vivem os momentos dos refletores. O próprio Chaplin já diria. Não usem os refletores, meu cinema é mudo e sou AUTISTA. 

Einstein também diria, "não posso descobrir a teoria da relatividade", pois sou autista e serei considerado psicopata. E por aí vai.

Os profissionais da mídia são obrigados a obedecer a CF/88. A nossa Lei Maior está aí para ser cumprida. É necessária a participação, com toda certeza, o esclarecimento. Mas que ele seja sadio e não insanamente midiático. E a participação só poderá ser efetivamente alcançada com a inserção do indivíduo em uma comunidade, para formar um todo, onde as individualidades ficam em segundo plano. A preocupação primeira é o coletivo.

E a coletividade do Brasil está preocupada com seus filhos autistas, a partir de então. 

É normal, é natural, é viável. A política nacional do autismo também não será afetada pelo Terceiro Poder? Quem já viu o filme, sabe do que estou postulando. 

E assim a humanidade caminha! E a Rede Globo informa: "Denúncias em novelas? Tráfegos de mulheres são retratados. A próxima novela "Em nome do Pai" vamos tratar de outro assunto extremamente social: o autismo." "Já escolhemos a atriz que está fazendo laboratório." 

Qual é a confiança gerada a partir de agora? Parem de dizer que oferecem em seus folhetins denúncias de problemas sociais; amem, de verdade, o ser humano. 

Sim, amem o cidadão autista que não pode ser maculado por palavras levadas por cabos de transmissão. O Brasil precisa saber de verdade, por profissionais competentes, o que seja o autismo, a psicopatia e a violência. 

Não estou sozinha nesta luta e não sou muda como Chaplin. Enquanto eu tiver forças dentro da minha vida autística, lutarei pelo meu filho e por nossos filhos. 

Belo Horizonte, 19 de dezembro de 2012.
Silvania Mendonça Almeida 
Dra. em Educação Especial pela Universidad de Jaén - Espanha
Mestre em Linguistica pela UFMG

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