No último domingo comemorou-se o Dia das Mães, mas para a dona de casa Márcia Maria de Barros, 33, o presente chegou há dois meses, quando o filho dela, Luiz Fernando Barros de Amorim, de seis anos, começou a demonstrar afetividade com sorrisos, trocas de olhar e carinhos. Gestos comuns em crianças desta idade, mas raros em um autista. Nando, como é chamado pela mãe, foi diagnosticado aos dois anos de idade, depois que Márcia, que tem outros quatro filhos, percebeu que ele era diferente dos demais.
"Com dois anos meus outros filhos já falavam, mas o Nando não. Eu chamava por ele, mas ele não respondia, sempre queria brincar sozinho, não reclamava de nada", lembra.
Foi então que Márcia buscou ajuda profissional. Procurou um neurologista, que diagnosticou Nando como portador de Síndrome de Autismo. O médico encaminhou o menino para tratamento no Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSI), unidade estadual de saúde. Lá a mãe recebeu orientações de como cuidar do filho especial. "Eu trabalhava como auxiliar de limpeza, mas tive que deixar o emprego para ficar tempo integral com o meu filho. Ele precisa de cuidados 24 horas por dia", afirma.
O presente do Dia das Mães de Márcia chegou quando ela conseguiu uma das 15 vagas disponibilizadas pelo projeto de Equoterapia desenvolvido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (SENAR-MT) em parceria com o Espaço Hípico Rancho Dourado, em Cuiabá. A coordenadora da equipe de Pedagogia do SENAR-MT, Tatiana Perondi, explica que o projeto de Equoterapia é filantrópico e por meio dele o SENAR visa proporcionar ao indivíduo o desenvolvimento de suas potencialidades, respeitando seus limites e visando sua integração na sociedade.
"O projeto só pode funcionar por meio de parceria entre o SENAR e os Centros Hípicos, Sindicatos Rurais e/ou Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs). Para esse atendimento acontecer o SENAR entra com uma ajuda de custo e o parceiro com a estrutura necessária", completa.
O Espaço Hípico Rancho Dourado definiu que iria disponibilizar um dia da semana, às quartas-feiras, para atender os 15 beneficiários do projeto. Cada um participa de sessões de 30 minutos com o cavalo e mais dois ou três integrantes de equipe disciplinar formada por fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicopedagoga, psicólogo e auxiliares de pista. Nando chegou quieto, alheio ao ambiente a sua volta. Ao subir na égua Lady, deu o primeiro sorriso demonstrando que estava pronto para a sessão de equoterapia. "Ele só aceitou subir no cavalo no terceiro dia, agora já vem todo animado", afirma a mãe empolgada.
Em apenas 60 dias, Márcia já percebeu que Nando estava mais tranquilo, começava a interagir com as pessoas e demonstrar interesse pelo cavalo. "Como ele não fala, percebo os sentimentos dele pela expressão. Quando digo que é hora de ver o cavalo, ele já muda a expressão". E completa: "Meu filho está se desenvolvendo. Estou muito feliz. Não deixo de vir às sessões", diz ao lembrar que para o filho participar da sessão, eles que moram no bairro Parque Sabiá, em Várzea Grande, precisam pegar dois ônibus e caminhar mais 15 minutos até a hípica, são quase duas horas de trajeto.
De acordo com a psicóloga da equipe multidisciplinar que acompanha o tratamento de Nando, Andrea Amude, a percepção da mãe em relação ao tratamento do filho está correta. "Estamos percebendo essas melhoras no Nando. O que é muito positivo. Com apenas dois meses a evolução apresentada por ele é muito rápida", avalia. Para a profissional o principal progresso apresentado pelo menino foi em relação à afetividade. "Sabemos que os autistas têm dificuldades de interação social e durante a última sessão Nando passou a mão na minha cabeça e puxou para perto dele. Isso para uma criança que tem autismo é uma evolução tremenda", compartilha a psicóloga.
O fisioterapeuta Daniel Penha, integrante da equipe multidisciplinar do projeto, explica que a única exigência para a prática da equoterapia é que haja uma recomendação médica, pois não há limite de idade e as indicações da equoterapia são para tratamentos de outras patologias como para pessoas acometidas por paralisia cerebral, Acidente Vascular Cerebral (AVC), problemas neurológicos ou físicos, lesões tóraco-lombares, distúrbios psicológicos, distúrbios mentais, esquizofrenia, depressão, transtorno de ansiedade, Síndrome do Pânico, entre outras. "Muitos pais que não têm a informação sobre a equoterapia acham que os filhos deles vão chegar aqui e simplesmente dar 'uma voltinha a cavalo'. Mas, com o tempo e com o tratamento eles veem a evolução dos praticantes e percebem o quanto a equoterapia é importante, percebem o quanto os filhos melhoram com o tratamento", argumenta.
A proprietária da hípica, Ana Julieta Pompeu de Barros, diz que nestes três anos de parceria com o SENAR já realizou mais de dois mil atendimentos gratuitos voltados à população de baixa renda. Durante esse período, muitas mães tiveram a felicidade de ver seus filhos apresentando melhoras como a experiência que pela qual Márcia está passando. "As mães que conseguem uma vaga para o tratamento de seu filho ficam devotas da equoterapia, ficam gratas pela melhora que os filhos apresentam de forma tão rápida. As mães ficam realmente impressionadas e fazem propaganda boca a boca. Tenho uma fila de espera com mais de 300 pessoas", contabiliza.
Márcia conta que o pai de Nando, Roney Amorim da Silva, 27, é frentista de posto de gasolina e que sem o salário de auxiliar de limpeza que ela recebia o orçamento familiar ficou apertado. "Eu jamais teria condições de manter meu filho na equoterapia. Eu não posso trabalhar para poder cuidar dele. Se não fosse o projeto eu não estaria aqui e ele não teria essa evolução. Agradeço muito por ter esse projeto em nossas vidas", diz.
"A equoterapia é uma terapia cara, por envolver um animal como o cavalo, gasta-se muito com a manutenção. Além disso sempre temos dois profissionais, pelo menos, acompanhando cada praticante. Sabemos que poucas pessoas tem acesso ao tratamento privado", informa a psicóloga. "O projeto do Senar possibilita que nossos praticantes de quarta-feira possam ter um tratamento que eles jamais teriam, já que por mês o custo seria em torno de R$ 300. O valor acaba dificultando o acesso", cita.
O fisioterapeuta Daniel Penha acredita que o convênio com o Senar contribui para deselitizar a equoterapia, ampliando o tratamento para pessoas com poder aquisitivo menor. "Essa parceria veio em boa hora. É gratificante ver a melhora de cada um que vem aqui", afirma.
A psicóloga Andrea ainda ressalta: "Após ver a evolução deles é uma realização e sem esse projeto essa evolução não seria possível".
PROJETO - O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso é o único SENAR do Brasil que oferece o projeto de Equoterapia como uma das atividades do Programa Especial Apoena, que na língua tupi-guarani quer dizer "aquele que enxerga longe". O programa tem por objetivo a qualificação de pessoas com necessidades especiais, estimulando a participação de deficientes nos cursos ofertados pela instituição. Todo Senar segue o programa da instituição sediada em Brasília (SENAR Central), mas tem autonomia para definir projetos próprios. A equoterapia consiste em um método terapêutico e educacional, que utiliza o cavalo, dentro de uma abordagem interdisciplinar. As atividades são desenvolvidas pela equipe multidisciplinar.
De acordo com o supervisor do SENAR-MT, Rodrigo Fischdick, responsável projeto de Equoterapia no Estado, a primeira parceria foi firmada em janeiro de 2007 com o Centro Equestre e de Equoterapia de Várzea Grande. Atualmente, o SENAR-MT mantém oito convênios, sendo dois em Cuiabá (Rancho Dourado e o Centro Hípico de Cuiabá), em Santo Antonio do Leverger (parceria com o Sindicato Rural), em Lucas do Rio Verde, em Tangará da Serra, em Sorriso e em Sinop, onde os convênios foram assinados com as Apaes locais. Cada um dos parceiros tem a meta de atender 15 praticantes por mês. Em 2011, por meio dessas parcerias foram oferecidos 3038 atendimentos de Equoterapia, atingindo 1.298 pessoas no Estado.
Assessoria de Comunicação do Sistema FAMATO / SENAR-MTwww.sistemafamato.org.br
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