silvania
Mendonça Almeida margarida
O mel é o néctar dos deuses. É o açúcar da natureza. Fez
pré-história predatória e depois história no Oriente Médio, no Egito e depois
mundo afora. Quando os antigos Egípcios faziam as suas
expedições, conservavam a carne em barricas cobertas de mel! A chamada
"Lua de Mel" tem a sua origem no costume romano em que a mãe da noiva
deixava em cada noite, na alcova nupcial, à disposição dos recém casados, um
pote de mel para "repor energias". Esta prática durava toda a lua...
É a delícia que se prova e oferece o sabor magnífico e
degustador. Os fazedores de mel, abelhas e formigas trabalham para si, em
sociedade, para colher resultados casulados e temperados ao sabor da
felicidade. Diariamente uma abelha
percorre 40 km e visita cerca de 7200 flores para produzir 5 gramas de mel. Mas
tais insetos não sabem que trabalham para o homem, oferecendo o néctar dos
deuses. Trabalham e trabalham. Nada pedem em troca, oferecendo aos indivíduos
um alimento de alto valor nutritivo.
É isto mesmo.
Formigas na África também fabricam esta bebida dos deuses para suas
companheiras de inverno. Reproduzem o mel para alimentar as companheiras no
fundo do formigueiro. E não se queixam. E la vai a história do mel com seus
exemplos positivos de perfeição.
Provar mel é provar alegria, felicidade. Exemplo natural para todos os seres viventes.
E o que dizer dos favos do mel, da lua de mel, dos arquétipos que o mel
inspira. O mel está nas cores delicadas e nos ambientes coloridos. Está nas jóias
raras e nos banquetes mais preciosos. Toda situação delicada tem sabor de mel.
Nada mais ofuscador e magnífico. O sabor de mel está em toda gastronomia, em
todo chá inglês, em toda tradição. Basta
as abelhas consumirem o pólen das
flores, encontrarem-se em reunião e produção e pouco tempo depois se descobre o
resultado: potes e potes de mel. O mel também inspira
oficina de ideias em festas, no ambientes ensolarados e a ideia de adoçar o
mundo, com músicas, receitas saborosas e o leite quentinho do adoçado com mel.
E suas outras atribuições?
Não há o que falar. O mel é remédio, tem efeito para diversas curas, limpa os
pulmões e respirações. E lá se vai. Sempre positivo e lindo! Deliciosa de se
contar e provar. A ação do mel sobre a
longevidade humana deve-se não só à sua alta ação energética, mas fundamentalmente
às enzimas, às vitaminas e à compleição de elementos químicos, extraordinários
para o bom funcionamento do organismo humano.
E assim, de deleite em deleite, lá vai o mel história afora, transmitindo
o seu benefício a todos seres humanos, sem discórdia, adoçando a vida,
amenizando atitudes e encantando com o
seu gosto.Mas por que falar tanto em mel, se gostaria mesmo de falar e escrever sobre autismo! O que tem a ver esta
minha comparação sem sentido! Esquisita por assim dizer!
O mel está na boca de todos, na casa de todos e eu nada tenho com
isso! Potes e potes de mel puro são
comprados nos supermercados do mundo todos os dias. E eu com isso?
Poderia eu comprar potes e potes de autismo e adoçar, nem que seja por um
só instante, a boca de alguém. Não e não! A boca não teria jeito, mas o coração sim.
Gostaria de adoçar o coração de alguém. Um único coração. Que ele meditasse
sobre o que é o autismo.
Dizer para os compradores de mel, que uma criança autista é como o mel
que se coloca na mesa e na geladeira. Doce, pura e silenciosa. Os olhos então,
meu Deus! Que olhos mais encantadores! Puros e meigos! Inocentes e
imaculados! Deleites de mel!
Dizer
aos provadores de mel o seu significado desconhecido, sua história
mal-contada. Dizer que o autismo nunca teve uma pré-história. Ensinar que o
autismo tem potencialidade de desenvolvimento psicomotor sim. É como uma
fábrica de produção de mel. Na sua ingenuidade e nas vivências corporais dos
acometidos com o autismo o valor afetivo se instala e modifica nossas vidas. Há também o papel dos estímulos ambientais no
desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança autista.Como separar a
metáfora do mel do autismo? Impossível! O mel não é tão-somente o das abelhas,
das formigas, dos industrializados. Existe o mel do coração e da alma. Querer
conhecer e amar, por assim dizer, se permitir e se envolver.
O Mel que nasce na lá na mais ínfima
fibra do ser, que se fortifica contra qualquer doença e passa a conhecer o
autismo.
O que dizer sobre a família? Por experiência própria digo que a família passa a
buscar e aprender o que até então desconhecia. Mas família que convive com
autismo, não precisa tão-somente ensinar. Ela precisa aprender também. Fico a
imaginar se a uma família que tem um filho autista consegue aprender todo o
atendimento multidisciplinar que o autista precisa! Sinceramente, eu não consegui. E nas minhas
leituras e escritas diárias tenho a reportar que ninguém sabe. Cada dia um novo
dia e um novo instante. Esta é minha opinião. Mas o caminho continua.
A proposta
da educação e suas competências entram como os recursos
mais viáveis
do pensamento pedagógico. Todo empenho é válido
no processo de mudança
dos canais que
propiciem a evolução da nossa querida
criança autista, adotando como pedestal e como suporte a educação,
audácia impreterível da mais expressiva opulência
sentimental...
A educação especial entra na listagem
dos novos expedientes e de outros que
podem potencializar as “abelhas”
profissionais em termos
de novas
descobertas para o autismo. No painel em
que se insere o autismo, a partir de idéias
inovadoras no campo da educação “a
colméia” produzirá mais néctar do conhecimento. O conceito
de liberdade para o autista poderá ser acompanhado de disciplina,
de expressão individual
e direitos naturais.
E, porque não dizer? Políticas públicas! Cobrar do Estado o papel que Ele se
nega a prestar.
É preciso,
no entanto, adequar
a aplicação destas idéias em
evidência, de forma inteligente, a
partir de uma experimentação consciente. Que os resultados
apontem com segurança
os efeitos positivos de uma nova
experimentação deste “mel” poderá produzir para nossas crianças, para fortaleza
da alma. Quando digo aqui a palavra “criança”
não me refiro à idade cronológica, mas
somente ao fato de existirem nos nossos lares, pequeninos, adolescentes
e adultos autistas com olhos de criança, “com sabor de mel”. Este sabor enseja
ainda novas idéias na educação. Livros e
livros já foram escritos sobre. São motivos de teses, dissertações de mestrado
e tcc’s. Mas ainda não responderam uma única pergunta! Como sustentabilizar a
ignorância do Poder Público sobre o autismo!
Certa vez, uma única vez, gostaria de demonstrar as minhas palavras sobre
a educação especial para os políticos, mas eu teria o sabor da revolta e isto não quero.
Não tenho vergonha de dizer que já sofri muito e ainda mantenho a ideia que
preciso colher “mel”, vários “potes de mel” sobre o autismo. Oportunidades existem.
Mas a educação está aí e
existem educadores “abelhas” que arquitetam muito bem a nossa sociedade. Portanto, consecutivamente, o autista reverencia a extensão
lúdica e brincalhona da sua
aprendizagem. Possibilita-lhe o aparecimento de suas
díspares linguagens, sua leitura do mundo e sua extrapolação
para se mostrar como “néctar de suas flores”, e, não precisarão de palavras. O professor, os profissionais terapeutas, os
pais como mediadores, irão proporcionar a qualidade escolar da verdadeira inclusão, da
verdadeira interação do autista com o mundo. E a continuidade da sua imagem e da
sua expressão corporal.
O material
didático na educação
especial e todo aparato
de desenvolvimento, previsto em currículo interdisciplinar, proporcionarão aos autistas a iniciação
ao processo de alfabetização e a aquisição
de importantes valores
que servirão de alicerce
na formação de suas
personalidades. O autista sabe organizar
de forma estereotipada o seu mundo a partir do seu próprio corpo, mas ele
sabe. É só investir na produção deste “mel”.
No cotidiano do espaço escolar, sob os novos olhares
docentes das “abelhas mães” que dimensionam as imutáveis persecuções do imaginário infantil, elas não deixarão de proteger o
seu “mel”, seus
desejos, interesses,
elaborações próprias, fantasias, experimentações e seus
tateios no mundo.
Criança autista também tateia o mundo. Ah! Como tateia!
Há em mim uma latência
constante em escrever, escrever sobre o autismo. Mas devo parar. Novamente ler e
aprender! Novamente escrever. Para dizer
a verdade, estou agora um pouquinho sem tempo.
Hoje de manhã prometi para
o meu filho que iria ao “supermercado comprar um potinho de mel”. Não aquele
mel açucarado e falso. Um mel verdadeiro com sabor de “quero mais” e de certeza que ele voltará a provar de tão
saboroso alimento natural. Afinal, o que seria do ”mel” se não existisse em
nossas vidas, nossos filhos autistas!