quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O meu inconsciente e o meu filho André Luís Rian.

silvania mendonça almeida margarida

Mãe de autista é por deveras ressentida. Um dia triste, um dia alegre. Um dia acha que está cumprindo a missão, que está indo tudo bem, outros, acha que ninguém se importa com ela, que não cumpriu como devia os anos passados. Que tudo poderia ser mais atencioso e adequado. Que precisa aprender e apreender muito sobre o autismo. Mesmo que se tenham passados mais anos do que experiências. Mãe de autista é ferrenhamente família. Não é verniz e sua primeira empacagem quando ofendida é chorar, chorar e mais chorar. Quantas e quantas vezes escutei a história tal do pensamento negativo. Nossa, chega a ser chato.

Mãe de autista tem personalidade forte, pode até chorar, chorar e mais chorar, mas sua personalidade é de enfrentamento e de honra, de estar na hora e no momento certo onde se deve estar. É conversar com médicos, juízes, terapeutas, professores. E pode até ter o tal pensamento negativo, mas é um pensamento real. Tipo: "vou deixando para a próxima, pois não deu nesta"

Para mãe de autista existe a realidade. Existe o ganhei algo nas atitudes inusitadas do meu filho. Ganhei uma estereotipia a menos.
Ganhei a força de alguém que possa me dar a mão. Uma corrente virtual é o grande exemplo.

Tudo que eu faço, tudo o que vivencio, ainda não cobre a multidão de indagações que tenho a fazer. Nos primeiros anos eu me perguntava: por que eu?. DEPOIS aprendi a compreender esta parte e passei a responder "sou eu porque fui escolhida sei lá por quem" em algum momento e em algum lugar para ter esta tarefa.
Ter a tarefa é uma coisa, Cumprir é outra.

Mãe de autista tem sim, o seu inconsciente abalado. Tem sentimento de perda. Explico-me: o meu mundo secreto inconsciente realmente existe com uma realidade diferente. Pela minha experiência, digo, pela minha experiência, não pode ser diferente. As últimas descobertas se desvendam e na minha possibilidade de explicação sinto que o lado oculto da minha mente é triste. Mas é uma tristeza factual.

Para mim, as oportunidades foram tremendamente escassas. São escassas por serem verdadeiras. Por amar muito o autismo, por amar muito o "jeito de ser" dos autistas. Por gostar da cor azul, por amar, amar muito ensinar, mas sem oportunidades para tanto.

O mundo é assim! O mundo é do verniz! O mundo são das aparências! Do primeiro contato, do dito normal e do corpo perfeito. Das roupas perfeitas e da pseudo-polidez.

Não se apresenta como o autismo, límpido e sereno, não se apresenta como uma mãe de um autista precisa ser: ferrenhamente família, com composição reticulada de que todos os compromissos que envolvem o filho amado são mais importantes.

Por tudo isto e por muito mais, há 20 anos escolhi colocar em pauta na Internet a vida do meu filho André Luís Rian. Não importa que o mundo saiba. Ele veio para servir de exemplo. E serve viu!
Como serve!

Ele é o autista e é ele que cuida de mim!
Ele é o autista e é ele que se preocupa comigo!
Ele é o considerado com atraso, mas é ele que me deita no colo!

Com os olhos vívidos me vigia, me espreita, me aconchega e me faz sorrir.

Várias foram as vezes que dormi no seu âmago, no seu peito e vi seu rosto lindo! Rosto que gostaria que tivesse uma namorada, alma que gostaria que frequentasse uma faculdade, ternura que gostaria que não fosse tão-somente minha. Mas não pode ser assim.

E segue a vida me vigiando. Acalentando-me.
A mais pura verdade é que ele sabe ler a minha alma, o meu tal pensamento negativo, ele é ferrenhamente família, está sempre perto de nós. Pouco fala, pouco pede, pouco explica.

André, muito aceita, muito traduz, muito luz.
Muito lindo! se choro não tem ninguém para me acariciar, a não ser ele, sempre na espreita, da forma dele, querendo que eu seja feliz.

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