silvania mendonça almeida margarida
O autista deve ficar a imaginar como é difícil para os caramujos subir escadas. Seus pequenos tentáculos, suas forma física, seu modo de ser criam enormes empecilhos para que o mais bonito do caramujo seja descoberto. Entre anéis e birotes, os caramujos tentam sobreviver. Uns ficam escondidos no fundo do mar com os seus segredos. Outros vão para a panela e são chamados de “escargot” na comida francesa. Comida “chic” para alguns! Deus me livre! Outros não passam de larvas e nunca se transformam na sua missão de caramujo. E, assim, a vida toda, não passam de lerdos bichinhos invertebrados que não conspiram a favor de nada.
Também, para alguns são encontrados em aquários de água doce. São encarados com um misto de amor e ódio. Por um lado, existem lindas variedades ornamentais, como a rosa, azul e leopardo. Por outro lado, geralmente aparecem como invasores indesejados, podendo formar grandes populações, sendo assim consideradas pragas pela maioria dos aquaristas. Como um agravante, muitas espécies estão envolvidas no ciclo de vida do agente da esquistossomose. E o Brasil é campeão nesta doença que mata.
Mas existe o caramujo azul em forma de arte. Isto não se pode esquecer neste singelo texto.
E as ostras? As ostras são mais imponentes neste mundo. Refiro-me às suas conchas. Também vira comida de gente rica. "Ostras são bivalves, o que significa que suas conchas são formadas de duas partes, as valvas. As valvas das conchas são mantidas juntas por um ligamento elástico. Este ligamento é posicionado onde as valvas se juntam, e usualmente as mantém abertas para que as ostras possam se alimentar.
Essas são as partes de uma ostra dentro da concha:
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boca (palpus), estômago, coração, intestinos, guelras, músculo abdutor, manto
Como a ostra cresce de tamanho, sua concha também deve crescer. O manto é um órgão que origina a concha da ostra, usando os minerais dos alimentos. O material criado pelo manto é chamado madrepérola. A madrepérola alinha o interior da concha.
A formação de uma pérola natural começa quando uma substância estranha desliza para dentro da ostra, entre o manto e a concha, o que irrita o manto. A reação natural da ostra é cobrir esta irritação para se proteger. O manto cobre a irritação com camadas da mesma substância de madrepérola, que é usada para criar a concha. Isto eventualmente forma uma pérola”.
Não se pode esquecer que existem ostras azuis em formas de caramujos e conchas neste singelo texto.
E as pérolas? As pérolas, como já explicado, estão dentro das conchas, ou das ostras, e ostras estão dentro dos caramujos, que estão dentro da arte azul.
Não se pode esquecer neste singelo texto que pérolas começam com uma substância estranha, reação natural da ostra para se proteger e caramujos se enroscam em si para se proteger.
E não se pode esquecer neste singelo texto que rainhas, reis, misses, misteres, senhores e senhoras descobrem pérolas azuis em seus colos, em seus contornos e em seus dias.
E a metáfora da ostra, do caramujo e da pérola cabe muito bem para o autista.
Ele é uma ostra em criação da sua madrepérola, um caramujo na imitação da sua arte e que no dia 02 de abril se desponta para sua conscientização mundial.
Cada caramujo tem seu dia de escargot. Cada ostra tem o seu dia de pérola, cada pérola tem seu dia de rainha. Cada autista tem o seu dia azul: 02 de abril de cada ano, para que todos possam descobrir neste singelo texto que dia azul, 02 de abril, é dedicado à pérola autista.
Por incrível que possa parecer o autista imagina. Imagina como deve ser difícil para o caramujo subir escadas, para a ostra fabricar a sua pérola, para a pérola libertar-se da sua ostra e para o autista libertar-se do seu eu.
Mas ele se liberta. Liberta-se e voa. Liberta-se e fala. De casulo vira borboleta. De passarinho no ninho em grande pássaro. Alado. Pergunta por todos, fala de todos e pede para ler. Conversa sobre planos, sobre pedras preciosas, sobre madrepérolas, sobre vida após a vida.
Quanto mais 02 de abril existir, mais ele se libertará. Quanto mais conscientização azul neste orbe acontecer, mais a pérola será burilada, mais a concha será aberta, mais caramujos subirão escadas. E por arte azul.
O autista não é um ser mutante entre o tudo e o nada. Não é um ser mutante entre o silêncio e a voz. O autista é o caramujo que anda e sobe escadas, é a concha que abre e se prodiga, é a ostra que dá de presente uma pérola. É o tudo no meio do nada. É a eterna aprendizagem que ninguém quer abarrotar, mas que a curiosidade dos ditos normais mata. Mata pela singeleza, pela angelicalidade, pela azulidade.
Não se pode esquecer neste singelo texto que amanhã são 02 de abril, dia mundial da conscientização do autismo, e que caramujos, conchas, ostras e pérolas irão comemorar. Todos aqueles que quiserem amar. Amar o anjo azul perolado, enroscado na arte de viver. E Deus sabe o que faz...