Paráfrase de autoria Silvania Mendonça Almeida Margarida –
Belo Horizonte- MG
Toda mãe de
autista não pode correr o risco de ser mal interpretada, pois várias vezes ela
tem a felicidade, muito embora, seu filho tenha “a falta de sorte” (sorte é uma
coisa que não existe, mas paráfrase é paráfrase) de sofrer o preconceito. Tal mãe
nunca deixará de ser a mãe producente e preconizada do seu filho amado.
Principalmente, quando ele é meigo, manso e humilde de coração. Isto se refere
também aos pais de autistas, não diferentemente, os lutadores da causa.
Na minha
última coluna, aliás, quero dizer aqui, escrita, sobre a chacina de criancinhas nos
Estados Unidos antes do Natal, nem por um momento fui obscura e nem cometi erro
crasso de quem escreve a cada tanto dias para um número tão imenso de leitores.
Várias cartas manifestaram perplexidade, espanto, mágoa, diante do que julgaram ser preconceito de
outrem contra quem é “diferente” (não
vou entrar aqui no mérito das palavras, que nunca serão objeto de preconceito e
confusão, pois o leitor mãe/pai de um autista sabe do que falo e escrevo).
Nada mais
perto da minha postura, desejo e intenção, defender filhos e filhas autistas que estão
nas ilhas sossegadas dos seus lares e
que nunca chacinaram ninguém. Apenas foi comentado, diga-se de passagem,
erroneamente, um caso isolado em outra cultura, em outro país, com outro modus vivendi, que não comprova e nem
enfatiza o autismo. De forma nenhuma, tal caso pode ser levado em conta.
Ao contrário
da Profa Luft não tenho vários romances. Nunca
escrevi romances. Meus textos são educacionais e jurídicos. Meus personagens,
penso que, pungentes, têm outras
vivências.
André Luís Rian tem autismo clássico e abordo sem pestanejar esse doloroso tema: sua
lesão (não sei se cerebral grave, mas seus olhos inocentes não me dizem isto) o
leva para uma espécie de exílio onde não tem chacinas. Pode se dizer que o
autista é um anãozinho cruelmente maltratado pelo pai midiático, grandes
emissoras de televisão, programas mal intencionados, magazines que se
desculpam, depois do mal feito, que mais parece um “Silêncio dos Amantes”
midiáticos e mal amados. O meu romance real e factual. Nesse caso, o autismo talvez tenha uma “menina da perna curta”, mas não agredida pela
psicopatia para que o mundo descanse em paz.
Finalmente, no
romance mais recente “O Tigre de Olhos Azuis” (respeito total à escritora), mas
no meu caso, mãe de autista, estou
pretendendo mudar o título, pois o
autismo já é azul, seus monumentos são azuis, a sua comemoração é azul e como a
Mestra Lya Luft “considero um elogio do diferente”. Um elogio ao “anjo azul”.
O autista atormentado pelo preconceito (claro
que nunca materno), é “um senhor dos mistérios”, que construiu com tenacidade um
sonho de uma vida feliz e liberada e que
tolas palavras sem nexo ou plexo o desfez. Teve privilégios de criar no fundo
do quintal um “tigrezinho de olhos azuis” que “o seguirá pela vida afora, com
mais ou menos intensidade, conforme ele precise da metáfora”, mas ele terá que ser
chamado de anjo azul, sem preconceito, é claro. Termino a minha coadjuvante escrita
com a frase da escritora famosa “Nenhum tigre tem olhos azuis”. "O que ela
quis dizer? ’", me perguntam. Nem eu sei, mas possivelmente a frase
significa que, realmente, “somos todos
iguais, todos temos nossa ferida, nossa dor, nossa perninha curta física,
mental ou emocional”.
“Sendo mais
pessoal do que já costumo ser, faço aqui um comentário que talvez o assunto
permita”. Nasci com um defeito físico nas mãos, “não muito aparente que me
tornou uma menina avessa a qualquer exercício ou esporte, sempre tachada de
preguiçosa e desajeitada, pois tinha pouco equilíbrio” nas mãos. Coisas caíam
com facilidade. Só quando jovem adulta descobriu-se que eu tinha nascido com um
problema genético que entortaria meus dedos da mão direita. Mas nem por isto
deixo de usar a tecnologia e as facilidades da comunicação.
Como mãe de
um autista, em estado severo, mas um rapaz/criança doce e meigo alegrou-me
saber que sábia escritora ficou entristecida “em ofender quem sofre ou lida com
quem tem limitação de qualquer natureza. Uma das coisas que eu quero dizer, com
a certeza de querer ser clara, nasceu de minha longa observação de casos de
pessoas próximas: nem sempre a inclusão pode ser total e nem sempre ela será
favorável se for total”.
Às vezes, crianças
com alguma deficiência podem florescer recebendo atendimento especial, e não
precisam ficar angustiadas em turmas de crianças ou jovens ditos “normais”. De
alguma maneira eles conseguirão acompanhar, entender com os olhos, com a
audição, com a percepção, seus sonhos e possibilidades. Esses sonhos não são
muito diferentes dos outros e com um esforço adequado podem ser partilhados.
Muitas
famílias procuram sim, ajuda adequada para seus filhos. Quando são mães mais
pobres e sem recursos, essas procuram fazer tricô, crochê e outros artesanatos,
à espera da educação especial de seus
filhos. Ou seja, ficam dentro das
escolas que seus filhos frequentam. Não podem voltar para casa, porque o
dinheiro é ínfimo. E este é apenas um
exemplo.
E como diz a
Profa. Lya Luft, apesar de todas as campanhas esclarecedoras, ainda é objeto de
preconceito absurdo dentro de suas limitações.
Quanto ao assassino americano que trucidou 26
criancinhas e adultos, esse eu deixo a cultura americana julgar. Diz a famosa
escritora: “Em momento algum levei a
sério comentários iniciais em noticiosos americanos aludindo ao fato de que o
rapaz talvez fosse autista, o que nunca foi confirmado, e que isso levaria à
violência. Imediatamente, autoridades em psiquiatria americanas rejeitaram essa
teoria nascida de ignorância”. Estou
querendo acreditar os pingos nos “is”. Tal pensamento tão bem postulado pela Profa.
Luft parece que coloca realmente os pingos nos “is”. Foi esta a impressão que
eu tive. Cabe a ela confirmar ou não o aludido dando as respostas a várias
vozes que não se calaram. Poderiam?
O importante
também é saber que nenhum autista é igual, mas todos merecem ser parafraseados,
mas como personagens do amor. Exemplo do autor Maurício de Souza que criou o
autista André para uma campanha da televisão. Sempre que as personagens do André Luis (meu
filho) sejam revistas, vou incentivá-lo a escrever romances no livro da sua
vida. Tais como: “neném ta toando” (neném está chorando), mas não há nenhum neném
chorando. Ou quando a “bauô ta tegando” (barulho está chegando) e na verdade é
o SAMU passando para salvar vidas. Se o SAMU (tão precário) salva vidas, a MÍDIA (tão assumida, tão
elitizada) deveria escrever sobre ela, a vida. (vida, adoro esta palavra) e não sobre mortes envolvendo nossos
filhos autistas nesta insana e imensa trucidação. A logicidade deste texto está
na alegria de poder responder por todos
os autistas, principalmente, aqueles que não sabem falar. Gostaria de saber
quando a Revista Veja e a grande emissora de televisão nos darão o direito de
resposta.
Você sabe escrever e dar respostas para a nossa causa. Roberto Parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirO que tenho a dizer é que este texto deveria ser publicado na Revista Veja como retratação e dado de resposta ao que temos lido sobre a agressão ao autista. Não pode ser diferente com uma mulher, mesmo tendo a Temple Grand como exemplo. Mande este texto para aquela Revista. Abraços e continue escrevendo sobre a causa. Natália Veira
ResponderExcluirRealmente muito bom texto. Parabéns.
ResponderExcluirRetratação em cima do salto, mea culpa cheio de pose de quem espera ser reconhecida como pessoa muito sensível e solidária à causa dos "diferentes" (como se não fôssemos todos...), tornando-os não excluídos como sugeriu na polêmica coluna, mas, agora as nossas crianças tem o aval da Prof. Lya Luft para serem meio-incluídas. Algo parecido com "ligeiramente grávida". Não me convenceu. Para mim, se já era uma nulidade, agora é uma nulidade obscura.