quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Então! E continuam os malacabados dizeres sobre o autismo



Silvânia Mendonça Almeida Margarida

Então! O ano novo entrou com boas notícias para os autistas! Uma carta magna para os autistas como anuncia o escritor Nilton Salvador. E o escritor tem muito pelo o que ser feliz. Foi uma conquista sim. Nós estamos felizes. Nosso direito conquistado, após muitas lutas e sobrepesos nas nossas vidas. Soberania é algo tão difícil de ser conquistado. Ela é una, indivisível, estatal. Há uma palavra mestra que acompanha a soberania: a cidadania. A cidadania é algo também a ser conquistado. Aí é que está o nó da questão. Soberania e cidadania para os autistas parecem realidades proibidas, “malacabadas” como diz o blogueiro, na “falta da paz” como diz a escritora, “psicótica” como diz a psicóloga.

 Por que não podemos ser soberanos em algo? O que há de errado com o modus vivendi do autista quando se resolveu implicar com a  sua simplicidade e a única lei que os protege, calcada pelos interesses fundamentais e constitucionais, baseados nos Direitos Humanos. Pais que lutam, lutam, se organizam e, às vezes, transcendem suas próprias luzes para não “incomodar a dita sociedade implicante”, que quer vender jornalecos, pasquins, programas de quinta categoria e que são produzidos por aqueles que detêm o dinheiro. Na verdade, não estão nem aí para os aspectos culturais do autismo. Ele serve e como serve de exemplo. Exemplo máximo.  Mas disto eles não querem saber. Querem o sensacionalismo, querem, na verdade, ver o mundo autista pegar fogo. Só se esquecem de uma coisa antiga, dos tempos das cavernas. Somente a conquista leva a outra conquista. Somente a luta árdua leva a outra luta árdua. E,  a água que é azul apaga qualquer fogo. Somente para se entender. Metáfora ou não, a lei foi conquistada  e está aí para ser cumprida.

Para os “implicantes” que querem vender algo ou alguma ideia incauta, quer queiram, ou não, autistas, são conjunto dos cidadãos ativos, por seus pais, legítimos representantes ou por eles próprios, sob a égide da cidadania democrática, do princípio da supremacia constitucional e na vigência plena das garantias, das liberdades e dos direitos individuais e sociais. A Lei n. 12764/12 veio para garantir isto.  Para que o autista possa ser  estabelecido o bem comum, o ethos público, em toda região do Brasil, e de acordo com os preceitos da justiça social (a igualdade real), da soberania popular e consoante com a integralidade do conjunto orgânico dos direitos humanos, no tocante ao reconhecimento, defesa e promoção destes mesmos valores humanos.  É dever do Estado tornar-se inafastável sua obrigação de prover aos cidadãos todos os meios e formas de garantir esse direito tão importante e extremamente ligado ao direito maior, além da vida, a sua liberdade e suas garantias fundamentais. Sendo indiscutível o dever do Estado em garantir tais direitos, torna-se líquido e certo o escopo de pleitear a democracia. Imprescindíveis à dignidade humana e ao direito à liberdade serão a intensidade de manifestação da opinião popular, assim como, as diversas formas sociais de livre-arbítrio.  

Então? Quantos outros “psicóticos”, “malacabados”, “guerreados” dizeres teremos ainda que ouvir? Quantas asneiras teremos ainda que ler? Aceita-se uma falsa ideia de tolerância, como a maior de todas as virtudes. Mas não são os autistas que são intolerantes. Nem  é preciso continuar tão acirrado texto. Cansei.
Então? O autista não precisa comprar a paz, não precisa assistir programas de quinta categoria, não precisa vender jornalecos,  não precisa vender pasquins, não precisa vender a alma. A sua é feita de luz  e asas azuis. 

3 comentários:

  1. Muito obrigada por esse texto inteligente, claro, esclarecedor! A asas azuis cheias de luz de nossos autistas estão muito acima de jornalecos e pasquins! Seguem um caminho iluminado e não precesam de palavreado chula e depreciativo. O brilho das conquistas é que incomodam muito... e os intolerantes estão do outro lado, do jornal.

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  2. Com certeza Berenice. A Lei é inteligente, foi um grande começo e uma grande corrente a favor da deficiência. Ela não deveria (a deficiência) não deveria existir. Mas já que existe e não sabemos os motivos além transcendentais, que saibamos lidar com ela com ética, precisão, na luta pelos seus direitos fundamentais. De nada adianta um discurso depreciativo de alusões aos autistas. Se alguns tipos de deficiência ainda não têm leis próprias, este é o caso de se lutar a favor delas. Um dia, todos terão direitos iguais. E mais além, acho que não verei isto, nem meu filho autista, não haverá mais deficiências. Obrigada pela visita no blog do André.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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